domingo, 10 de maio de 2020

Uma Sexta-feira à Noite…

…pendendo pro sábado.


Bom, aqui o rolê será aleatório, já que a “cabeça’ vai a milhão.

Quarentena desde março, mais um outono se encaminhando pra conta…

A amiga cobra palavras, diz que gosta delas…

Ah!!! Se ela soubesse…

Se não quisesse, também, não as escreveria…

Tenho lido, a escrita bem parada.

Dias atrás, nesse turbilhão de acontecimentos, tive um acesso de fazer como um escritor, sentar e só parar na última folha…

O clichê narra que para o “serumano” completo é necessário plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho.

Não sei a ordem desses fatores, acho que pelo menos a ordem de 2, altera o produto.

Lembro Kafka, em ‘O artista da fome’, o personagem não se alimenta, fica exposto em uma jaula, em um circo.

Kafka é uma viagem.

Literalmente passei mal ao terminar A metamorfose… Spoiler… O paisano perde emprego, se isola no quarto, vira uma barata e é morto pelo pai, com uma chinelada…

Kafka é muito forte, mas tem o conto Uma pequena mulher, consegui ficar alegre ao terminar, não sei se é o mesmo sentimento com o momento atual, diante de tanta aberração, o mínimo juízo causa até comoção.

Ouvi muito, durante a noite, uns pagodes da Dona Ludmila, fazia tempos que não ouvia algo fora dos tangos, MPB, música latino-americana.

Extemporaneamente, buscando algo pra saciar a sede de cultura.

A despeito de alguma apologiazinha a atividades ilícitas, até que é uma música que vale a pena…

Até pensei em tirar uma ‘cordeona’, ou violão do estojo para “brincar” de fazer um vanerãozinho; como esse projeto musical tivesse saído da fase da ideação…

“Soledade não é mais solidão”, cantou Dom Maicá.

O título é melhor que o tema, seguramente.

Veja só… Da funkeira ao Tronco [Missioneiro]!!!

Mas ocorre que, dos talentos que almejei, pouco/quase nada se concretizou…

Vaidade achar que na escrita há algum, mas li em algum lugar que para escrever há que ter leitura…

Outro projeto…

Livros parados, hoje li meia página, concentração longe que nem a tal Estação Espacial, a uns 400 km da Terra…

Confissões

Me cobra palavras, diz que gosta delas…

Palavra tem gosto?

Olha a charadinha de 4ª série!!!

“Os amores que eu já tive,
nunca contei a ninguém,
ando sozinho no mundo,
amando e querendo bem,
sou payador missioneiro,
veja a importância que tem.
[Noel Fabrício da Silva “Guarany”]

Porquê?

“Deixa a vida me levar, vida leva eu”… (Pagodinho)

Quem muito escolhe, acaba sendo escolhido (Dona Marta, Costa da Serra, 1998). Como andará Dona Marta, será que vive?

Espinosa (li umas 6 páginas, meu cérebro moeu), mas parece que prega ou até mesmo em vida pregou o desapego…

Confesso que vivi, é um livro de Neruda (não abri, nem vi o filme).

Por conta das contravoltas da vida, adaptaria para “Confesso que não vivi”.

A amiga cobra palavras, ousadamente fiz um caça-palavras.

Ideal está na nossa cabeça e nos padrões que nos [im]puseram…

Também é uma marca de automotriz (olha a piada aí gente!!!) “Eh! Eh! Nóis somo a dupla Ideal!” Tem um LP gravado pelo Jader Moreci Teixeira — Leonardo e outro paisano que o alzheimer me pegou…

Volto ao projeto do livro. Como disse o João Moreira Salles, em vídeo, o documentário precisa roteiro, uma espinha dorsal.

A ideia era fazer uma cronologia.

Só que grande parte dos acontecimentos são coletas e acumulação de coisas que outros viveram…

Pra que ter o serviço de contar histórias de outros se nem eles próprios tiveram interesse em manter essa memória…

E se for das gerações avoengas? (ah! agora vamos ter que dar uma googleada, ou usar o duckduck como sugere o Nigel Goodmann, naquela paranoia de não ceder os dados pra “Rede” [como se isso fizesse diferença].

Vi essa palavra numa foto antiga dum desfile no Viaduto Otávio Rocha. Acho “massa” o viaduto… 

Obra sólida, deve estar fechando 100 anos daqui um tempo, sei lá.

Os avoengos… Passaram os contos de forma oral, mas muito se perdeu…

Ninguém quer ouvir um véio viajando…

No 1984, o protagonista tem interesse ao conversar com um Sr. “de idade” como era no tempo dele, bláblablá. O véio nem lembra mais…

Talvez seja esse o mistério, e a vantagem de ter a possibilidade concreta em fixar a memória a quem interessar possa…

A divagação pegou forte, fugi da moça, como de algumas outras fugi, e paira a dúvida, e a verdade, a realidade vem à tona, cristalina como as águas do Uruguai até esses dias dessa estiagem braba!

Siga el corso, canta o tango, segue o baile, vida que segue…

Prosseguimos, adelante!

O repertório vai escasseando, fazer propaganda, se parar de vítima, pra quê, se as fraquezas e inseguranças transparecem sem ter o que esconder!

“O charque se conhece pelo varal”, disse dom Tolentino Balbé.

Avançar o sinal, e depois ter que encarnar o Davi Canabarro e entregar a Revolução, não sei…

Por pirraça, vale se contradizer e tentar, mas como disse Arnon “não lembro”, “somos todos trapezistas à beira da queda”…

Há pouco começava um texto da Piauí sobre Camus, mais ou menos, ao citar a melancolia desse rapaz (vou escrever de orelhada e sem consulta), o erro ou a falsa percepção talvez se devesse a um erro de visão…

Se fosse possível fazer tal juízo de valor…

Essas laudas estão tomando um rumo como os vídeos do Murilo Couto ou do Gentili, muito tempo sem conteúdo, com doses de Laurinha Lero, falar muito sobre nada…

Pensei

Fazer um poema, faltam rimas.

Uma pintura, não tenho a mínima prática; ia ficar parecendo uma garatuja infantil…

Conto com doses de ficção, à lá cinquenta tons…

E aí, aquele medo…

Subir a escada…

Olha o trapézio!

Olha a queda…

Inverno se aproxima

E uns meses depois, a Marina Lima anuncia: 
“Vem chegando o Verão, o calor no coração” (É isso?)

Pausa dramática

Zeca Blau — “Se envelheceres solteiro, e pensares num retovo, lembra o ditado brejeiro, peito velho, emplastro novo.” 

Escrever, bueno, aqui não tem censura, mas tem o freio mental, o limitador de velocidade, os conceitos, pré-conceitos e preconceitos, e tudo mais que vai acumulando na mente, principalmente as frustrações.

Hawking, na Breve História do Tempo (ou seria na autobiografia?), fala de como percebemos que parece que as coisas dão mais erradas do que certo…

É uma viagem, teria que ir ao livro, e não é essa e nem vai ser a toada.

Aqui é ao vivo e agora, sem filtros, mas com o bom e velho respeito…

De há muito rondo a mim mesmo… (Xirú Antunes)

Idas, vindas, projeções, ideal

O ideal está na ideia. O que é ideal pra mim, não é pra você, e aí estamos empatados.

Se for no jogo de truco, 2 cartas de mesmo valor, se jogadas na 1ª “vaza”, decide-se na 2ª, ganhando a maior, geralmente ao grito de “truco as parda”.

Parece que o termo seria em parda ou a parda, não sei e não vou ao regulamento, bateu uma revolta escrita nessa altura do campeonato…

Reticências

Muitas reticências, gosto das reticências, é o silêncio transcrito ao papel, junto à vírgula, que é o corte do raciocínio.

Silêncio

Mercadoria cara, no sentimento ou acepção da palavra.

Difícil é fazer o simples (Glênio Fagundes)

Realidade Paralela

Será que desenvolveram “Irrealidade”?

A realidade não me apetece, por isso sigo caminhos, mesmo estando parado…

Flor, que desabrocha no serão, tem que ser cor da areia, que vive ao seu redor, constante sol ou então será uma só… (Francisco Trindade “Chico” Saratt)

Diferenças

Métricas, qualidades, quantidades.

E voltam os juízos de valor, as vergonhas e a coragem já quase dormida.

De fazer o quê?

Provavelmente nada.

Seria o fim?

O início?

Quem sabe?

Nem eu sei.

Você sabe?

Rafael 09/05–01:22

OBS: “em breve” no Blog

Mas isso não impede que eu repita, é bonita, é bonita e é bonita (Gonzaguinha)

Ela vem toda de branco, toda molhada e despenteada, que coisa linda, que maravilha que é o meu amor (Benjor)

Meu bem, guarde uma frase pra mim, dentro de uma canção, esconda um beijo pra mim, dentro da dobra do blusão (Belchior)

No pós escrito, após a letargia, o chá com mate entrega euforia, não no arrebate, mas na insônia.

Prosseguir, ampliar o caudal sem eira nem beira?

Não! Parar, por enquanto.

Baixar armas, o combate, já perdi, ou não vou ganhar.

Se Sun Tzu pudesse ouvir, o resultado não seria nada favorável a esse que escreve…

Rascunho de um bilhete suicida (Sérgio Sant’Anna)

Quando anoiteceu, saí à rua, disposta a entregar-me ao primeiro que passasse, por dinheiro. Depois de consumado o ato, não tive coragem de cobrar. Descobri que era uma amadora irremediável


Esse “Rascunho” foi escrito para ser dito pela personagem Ercília, da peça Vestir os Nus, de Luigi Pirandello, que será encenada pelo Atelier de Manufactura Suspeita, em São Paulo.

ERCÍLIA:

– O bilhete do suicida é o mais breve dos gêneros literários.

– Para confirmar a tese, telefonei para o maior entendido no gênero, o contista brasileiro Dalton Trevisan. Ele atendeu e disse: “Eu não estou.”

– Portanto, estou só. Aliás, sem o advérbio, seria um bilhete perfeito. Só que mentiroso. O que mais tem é gente fungando no meu pescoço. Um oficial de Marinha, um escritor, a senhoria dele, um jornalista e até um cônsul.

– Eu era babá da filha do cônsul, mas um dia ele me atraiu e, enquanto me comia, a menina caiu do terraço da casa e morreu.

– Não. “Me comia” fica muito mal num último bilhete. “Enquanto eu me entregava a ele”, fica melhor.

– Antes eu já perdera a virgindade para o oficial de Marinha, que me prometeu casamento.

– Depois da tragédia, cheia de remorsos, fui para Roma e descobri que meu noivo havia ficado noivo de outra.

– O dono do hotel vagabundo onde me hospedara disse que, se eu não pagasse a conta, me poria na rua aquela noite.

– Quando anoiteceu, saí à rua, disposta a entregar-me ao primeiro que passasse, por dinheiro. Mas, depois de consumado o ato, não tive coragem de cobrar. Descobri que eu era uma amadora irremediável.

– Só me restava assim, tão dura e desonrada, tomar a cápsula de veneno que trazia comigo, como saída de emergência.

– Mas isso não é um bilhete de suicida. Merda… Oh, desculpem-me. É o resumo da minha história.

– Se coubessem reflexões num bilhete do gênero, eu poderia me perguntar se não trazia comigo uma vocação para dar e para o suicídio.

– Assim: primeiro o desejo de morrer, depois a busca dos motivos.

– Na Roma antiga, como na Grécia, suicidar-se ou foder era normalíssimo também para as mulheres. Não, não. Esse verbo, “foder”, não deve entrar no meu bilhete.

– Mas estamos em 1922 e fui socorrida e salva num hospital.

– É verão, nada acontece na cidade e um jornalista veio entrevistar-me e acabou arrancando de mim os meus segredos mais íntimos. Eu não imaginava que ia ocupar a página inteira de um jornal, com fotografia e tudo. São uns abutres, os jornalistas. Entre outras coisas, disse que o motivo principal para me matar fora a traição do oficial de Marinha.

– Foi então que veio visitar-me o grande escritor. Lera minha triste história no jornal e convidou-me para morar em seu apartamento. Disse que me queria para um romance.

– Fiquei honradíssima, claro, em ser personagem do romance de um grande escritor.

– Mas, chegando em sua casa, ele falou que me queria para viver um romance de verdade com ele. Eu era magra, frágil, pálida, mortiça. O seu tipo.

– Alguém já me advertira de que a maior parte dos escritores escreve para comer as mulheres, tirando as alegres, claro. Deste parágrafo eu não retiraria o “comer”. Le mot juste, como aconselhava o grande ídolo deles, Gustave Flaubert.

– Já os jornalistas nem precisam de mulher. Eles gozam com suas próprias matérias sórdidas.

– Só que o apartamento não era do escritor, e a senhoria dele me tratou como a uma vagabunda. O escritor a pôs para fora e, quando ela voltou, tratou-me como se eu fosse sua filha. Pois lera os jornais e descobrira que eu me tornara uma celebridade.

– O escritor mostrou-me sua cama, que ele me cederia com prazer. Mostrou-me também o seu escritório, uma bagunça inacreditável. Mas é silencioso, ele gabou-se, desde que não se abra a janela, pois os ruídos da rua são como um poema ou uma composição musical futurista.

– Já me caíra nas mãos, por acaso, o Manifesto Futurista, e vi que os membros do movimento desprezavam as mulheres. Preferiam as locomotivas. Marinetti e seu bando de veados.

– Mas o teatro deles é interessante.

– Porra, minha linguagem se torna cada vez mais chula e nunca chego ao ponto. Ao bilhete.

– Mas falta ainda contar que minha vida na residência do escritor virou um entra-e-sai danado, como no teatro. Vieram ver-me, cada um com seus motivos, o cônsul, o jornalista e o meu ex-noivo, que deixara a Marinha. Queria de novo casar-se comigo, reparar o seu erro, emocionado porque eu tentara matar-me por sua causa.

– Eu o fiz ver que aquilo foi o primeiro motivo que me veio à cabeça, para dizer ao jornalista. Na verdade, o desprezava.

– Um oficial de Marinha, depois que despe o uniforme, é lamentável, com o seu penduricalho ridículo.

– Acabei caindo fora, a pretexto de buscar minha mala que ficara no hotel, pois o escritor pagara a minha conta.

– Nela havia uma outra cápsula de veneno.

– Mas, porra, nada de bilhete, ainda.

– Quem sabe não ficaria melhor um bilhete meio abstrato, vago, simbolista?

– Assim: uma certa lassidão, a noite que não chega no verão dessa cidade em ruínas. O som de uma lira imaginária no longo crepúsculo de fogo.

– Ou algo mais triste e concreto. A lembrança de um filhote de pássaro agonizante na calçada enquanto multidões de futuristas continuam a passar. Eu sou esse pássaro.

– Ou: morro porque desejo para sempre as doces trevas, um eclipse total do sol e do ser. Caralho, que poesia ruim.

– Ah, eureca! Talvez o mais breve e eloqüente dos bilhetes de suicida seja o bilhete nenhum.

– Mas os gestos precisos, sim.

– Tomo o veneno e corro de novo, para o apartamento do escritor. Antes de entrar, despi-me de toda a minha roupa.

(Mudando o tom de voz, para um mais masculinizado. Ou eu mesmo, Sérgio Sant’Anna, posso dizer essa fala:)

– O que você quer? – ele disse, vendo-me tonta e nua, caindo sobre minha mala.

– A sua cama – eu disse.

– À vontade – ele disse, esfregando as mãos de cobiça por meu corpo.

– Ambígua até na morte – ele acrescentou. – Assim será no meu romance.

– Também, que vantagem, pensei. É um profissional.

– E se conseguir trancar a porta por dentro, fora das vistas dos outros, talvez se deite comigo em minha agonia, ou mesmo depois de minha morte.

– Tenho o romance perfeito, em mais de um nível – ele diz, trancando a porta.

– E eu, na agonia, aprendo mais um segredo daquele ofício dúbio.

– Mas, e o bilhete? Depois de todas essas palavras, vejo-o cintilar, breve e belo:

– ESTA AQUI NÃO PÔDE VESTIR-SE NEM NA MORTE!

Ela rasga seus papéis em pedacinhos, que atira para o público, como confete:

– Mas melhor ainda, repito, é o silêncio. Tout le reste est littérature.

A frase em maiúscula é mesmo de Pirandello, embora não haja nenhum bilhete.

Fonte: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/rascunho-de-um-bilhete-suicida/
Acesso: 10/05/2020

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