domingo, 18 de abril de 2021

Estética da solidão - Ana Maria Haddad Baptista


O confronto com a solidão é conseguir existir por si e com si. Por isso Sartre, em diversos momentos de suas obras, adverte, ironicamente, que existem pessoas, que para existirem, precisam estar reunidas com outras. Jamais se bastam. Somente com outras. Jamais conseguem ser elas mesmas na busca de uma unidade.


A eternidade do instante foge do homem quando ele cai na armadilha-prisão dos relógios, dos calendários e da sucessão. A eternidade se perde a partir do momento em que o homem se vê dividido, de maneira visceral, entre minutos, horas, dias, anos e assim por diante.


A solidão do espaço, numa leitura possível, seria a nostalgia do espaço. Octavio Paz adverte que fomos arrancados de um corpo. E há, segundo ele, concepções de quase todos os povos que o centro do mundo seria uma espécie de ‘umbigo’ do universo. Esse umbigo estaria relacionado com nosso ponto de origem. “O mito do Labirinto se insere nesse grupo de crenças. Várias noções afins contribuíram para fazer do Labirinto um dos símbolos míticos mais fecundos e significativos: a existência, no centro do recinto sagrado, de um talismã ou um objeto qualquer, capaz de devolver a liberdade ao povo”.


Somos muito menos singulares que acreditamos. Muito mais capazes de ser livres do que acreditamos nessa atualidade do mundo em que estamos, e muito menos singulares do que imaginamos nessa grande movimento da história onde nosso próprio nome acaba por se apagar. O que não é contraditório: porque o que nos torna livres em relação ao que nos cerca é essa razão universal à qual nós nos assimilamos para além de nossas singularidades”. [Michel Foucault]



Fonte: Baptista, Ana Maria Haddad. Estética da solidão. São Paulo: Patuá, 2018.


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