terça-feira, 7 de abril de 2020

Vença a tentação de procrastinar (Willian Vieira)

Postergar não é se entregar à preguiça. Quem procrastina faz muitas coisas, só não o que deveria. Eis algumas dicas para fazer hoje o que você costuma deixar para depois


Liste as missões fáceis e as quase impossíveis – Procrastine, mas de maneira estruturada. Autor de “A Arte da Procrastinação”, o professor de Stanford, John Perry, sugere que você faça “esse mal funcionar para você”. Coloque na sua to do list tanto as tarefas simples de concluir (como regar as plantas), quanto aquelas que lhe causam temor ou aversão. Fica mais fácil enfrentar o monstro da lista quando você está feliz por riscar outros itens.

Divida uma tarefa complexa em pequenos passos – Repensar o tamanho de uma tarefa, dividindo-a em nacos que possam ser abocanhados, digeridos e celebrados – o que os psicólogos comportamentais chamam de microscheduling – ajuda. Planejar um grande projeto em etapas curtas é uma maneira de reduzir a ansiedade e de controlar a impulsividade. Pessoas mais impulsivas costumam procrastinar em busca de um prazer imediato. Afinal, por que esperar a conclusão de uma árdua tarefa se podemos sentir algo parecido, em menor escala, rolando o feed do Instagram? Para esses casos, a dica é associar uma recompensa a cada item concluído. Vale um chocolate, um happy hour (virtual, afinal é o que dá no momento) ou um cochilo de cinco minutos no sofá.

Evite distrações e a lenda do multitarefa – Um estudo no “Journal of Experimental Psychology” concluiu que ser “multitarefa” é pouco eficiente, já que o cérebro demora para mudar completamente de uma tarefa para outra, o que pode custar 40% do tempo produtivo. Evite ter muitas coisas para enfrentar ao mesmo tempo. É o que os psicólogos chamam de “controle de estímulos”: quanto menos tentações estiverem disponíveis (um chat aberto, uma página de notícias ao lado do seu Excel ou o Whatsapp no desktop), mais fácil focar no que se precisa ser feito.

Faça pausas, dê uma caminhada, desconecte-se – O corpo leva 90 minutos para ir de um estado de atenção total para a fadiga, como explica Tony Schwartz, autor do livro “The Way We’re Working Isn’t Working”. O ideal seria alternar uma hora e meia de foco total com 20 minutos de descanso. Método similar à Técnica Pomodoro (pense no popular cronômetro gastronômico na forma de um tomate, pomodoro em italiano), que sugere colocar um cronômetro para 25 minutos, trabalhar em uma única tarefa com todo o foco possível e, ao final, parar por cinco minutos. Depois, repetir o ciclo.
Uma pesquisa publicada em 2016 no “International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity” apontou que levantar a cada hora e caminhar por cinco minutos melhora o humor e combate a letargia, sem reduzir a atenção.

Descubra o que te faz deixar coisas para depois – Todos procrastinam, em maior ou menor escala. Muitos de nós, inclusive, “herdam” geneticamente a tendência, segundo estudo do Dr. Daniel Gustavson, da Universidade do Colorado. Mas é preciso acreditar que algo pode mudar. “Faça uma reavaliação cognitiva”, escreve a professora e psicóloga na Universidade de Sheffield, Fuschia Sirois. Entenda o que sente, rotule o sentimento que impede a realização da tarefa e lide com ele.                     

Fonte: https://gamarevista.com.br/bem-estar/5-dicas/venca-a-tentacao-de-procrastinar/
Acesso: 07 abril 2020

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Promessa de Amor do Índio Pobre (Colmar Duarte)



O pingo,
Atado ali no parapeito,
Mascando o freio,
Farejando a noite,
Foi a única testemunha desse adeus.
Duas gotas de luz vieram brincar
Nos olhos cor de mel
Da moça triste.
E seus lábios ficaram entreabertos
A tremer como um pássaro assustado.
E nem os vaga-lumes,
Distraídos
A costurar o escuro,
Escutaram
A promessa de amor
Do Índio pobre:
- Eu voltarei para buscar-te, um dia,
Mas antes andarei muitos caminhos
À procura de um mundo
Pra te dar.
Retornarei a ti
Na voz do vento
Que sussurra acalantos nas planuras
Como a ninar
O sonho que embalamos.
E teus olhos,
Profundos como o tempo,
Que enfumaça recuerdos e distâncias,
Me entregarão o brilho das estrelas
Que florescem no abismo das lonjuras,
Nas madrugadas dessas noites mansas.
Eu voltarei para trazer-te, um dia,
Um vestido de nuvens e de espumas
E um véu tecido com fios do luar.
Depois, farei moldar nossas alianças
Com todo ouro que puder guardar
Do último clarão
Que um sol, no ocaso,
Filtrar entre a ramagem das figueiras.
Teu anel de noivado
Enfeitarei
Com a pedra preciosa de um luzeiro,
Engastada no canto dos sabiás.
Pela estrada de luz
Da Via Láctea
Tu chegarás a mim
Sorrindo então...
Uma tiara de lua
Em teus cabelos
E uma rosa de aurora
Em tuas mãos.

Romance das Invernadas (Aureliano de Figueiredo Pinto)




Nestas duas invernadas,
entre a em que estás e a em que estou
nosso Destino alinhou
os cernes das moironadas.
Os sete fios espichou
e um do outro nos separou
pelo vão do corredor
e as cercas emparelhadas.

Estar próximos e longe
é um dever que já é costume
pelos verões agüentados.
Vens no campeiro perfume!
E a minha voz vai no vento
por cima do impedimento
da faixa dos alambrados.

E relutamos cada um
em ir para o seu rodeio!
E se vamos, já volvemos,
mesmo sabendo que temos
estas divisas no meio.

Quando o sol nasce nos banha
aos dois de um mesmo fulgor.
E esta paixão se abre em flor
como a orvalhada campanha.

Quando o sol morre e se entranha
na lomba ao longe... e o arrebol
as sombras longas esmagam,
nossas pupilas se apagam
na sepultura do sol.

Se, na estrada, um andarengo,
por horas mortas cruzar,
verá aos lados, de relance,
dois vultos vivendo o transe
e o pastoreio-romance
das quentes noites de luar.

E mesmo assim apartados,
da mesma sanga bebemos!
Nos mesmos campos rondamos.
Varando os mesmos tapumes
os riscos dos vaga-lumes
são cartas que nos mandamos.

Sempre na mesma querência,
com a mesma emoção sentida,
livres da inveja e da injúria
vamos grameando a penúria
dos impossíveis da Vida.

Aureliano de Figueiredo Pinto. Romances de Estância e Querência – Marcas do Tempo. 3 ed. Porto Alegre: Movimento, 1997.

Destaques de Dois Irmãos (MIlton Hatoum)

(...) as palavras parecem esperar a morte e o esquecimento ; permanecem soterradas, petrificadas, em estado latente, para depois, em isen...