terça-feira, 7 de junho de 2022

Memórias de Rádio e TV (Cláudio Brito)

 

Eu gostava muito do estilo do Sérgio Moraes, das suas frases tipo: “Lá onde a coruja dorme”.


Existem alguns momentos inesquecíveis do rádio, como por exemplo, o Sérgio Moraes, no campo do Grêmio com o Biscardi, um castelhano massagista. Na época os massagistas usavam um abrigo com a letra M, que significava massagista.


Numa decisão, um jogador do Grêmio caiu na beira da pista e o Biscardi está jogando água no rosto do jogador. Na época, dizer a palavra “cara” no ar seria ridículo, então ele disse: “atenção, Resende, o Biscardi está jogando água na fisionomia do jogador”. Isso é do folclore e é verdadeiro.


Também posso contar uma minha.


Num fim de semana, trabalhando na TV Gaúcha, estava apresentando o programa Espetáculos Esportivos que tinha o patrocínio da Goodyear e da Cinzano. O programa mostrava os teipes dos principais jogos da semana, resultados da Loteria Esportiva e os páreos do Hipódromo do Cristal.


Então, quando dava o intervalo, o apresentador tinha de sustentar, ao vivo, esse intervalo, para trocarem o rolo de VT. Quando o assistente do estúdio te dava o sinal e pedia para chamar o gol, o técnico tinha de dar oito segundos para ajeitar a fita.


Eu chamei duas ou três vezes um gol do Alcindo contra o Siderúrgica, e o VT não rodava nunca. Quando, finalmente, desencavou aquilo, eu disse assim:


E agora então continuamos nossas apresentações num oferecimento de Goodyear, o melhor vermute do mundo, e Cinzano, o pneu que dura mais”.


Quando cheguei no bar do Calofo eu não tinha nem me dado conta do que disse, mandaram me dar um Goodyear bem gelado!


Fonte: Coiro, José/Grabauska, Cléber. Sala de redação: a divina comédia do futebol. Porto Alegre: L&PM, 1998, p. 189.




Capa: Ivan Pinheiro Machado sobre ilustração de Edgar Vasques

Sant’Ana e o tabagismo, por João Carlos Belmonte

 

- Mas, Belmonte, e o Sant’Ana quando fuma em pleno estúdio, na hora do Sala, o que tu fazes?


- Acontece, Coiro, que o Sant’Ana é o dono do programa.


A propósito, vou contar uma história. O Ranzolin me disse que quem mandava no programa era eu. Caso o Sant’Ana acendesse um cigarro, eu deveria usar de autoridade e mandá-lo apagar o maldito cigarro. Fiz isso por seis meses. Ele acendia e eu reclamava no ar. Até que chegou num ponto em que eu desisti, enchi o saco e larguei de mão.


Para que tenhas uma dimensão exata do assunto, lembro-me de que o Flávio Alcaraz Gomes, na época diretor da Rádio Gaúcha, tinha um programa às 7h30min da manhã. Sant’Ana fazia intervenções via telefone, todas as manhãs. Não sei qual a razão, mas numa determinada manhã ele resolveu fazer o programa no estúdio, ao vivo.


Sentou-se ao lado do Flávio e acendeu um cigarro. Flávio esperou que Sant’Ana descansasse o cigarro no cinzeiro e, ato contínuo, esmagou-o no fundo do cinzeiro. Sant’Ana não mexeu um músculo da face, ficou aparentemente sereno e acendeu outro cigarro, deu duas tragadas e colocou-o na borda do cinzeiro.


Quando Flávio fez menção de agarrar o cigarro para apagá-lo, Sant’Ana, bem mais rápido, pegou o cigarro e o apagou diretamente no peito do Flávio. Flávio ficou cristalizado, estupefato com a atitude agressiva do colega. Sempre olhando para a cara de Flávio, Sant’Ana levantou-se e abandonou o estúdio sem participar do programa.


Fonte: Coiro, José/Grabauska, Cléber. Sala de redação: a divina comédia do futebol. Porto Alegre: L&PM, 1998, p. 175.




Capa: Ivan Pinheiro Machado sobre ilustração de Edgar Vasques

Cid e Foguinho por Ruy Carlos Ostermann

 

O período do Cid [Pinheiro Cabral] e do Foguinho [Oswaldo Azzarini Rolla], contrapostos, foi extraordinário. Eram duas pessoas que se odiavam, do ponto de vista profissional. O Foguinho, sendo técnico do Grêmio, vitorioso naquele período de fins de 1950 e início de 1960, e o Cid desesperado do outro lado, o principal cronista da cidade, colorado, bem identificado, e então, tudo que ele podia jogar contra o Foguinho ele jogava.


E o Foguinho odiava e dava resposta.


Lembro-me de uma ocasião em que o técnico do Internacional era o capitão Cunha, e o Cid resolveu, através de sua coluna no Correio do Povo, influenciar o Cunha na escalação do time. Cid sugeriu que o Larry fosse colocado no meio-de-campo, dando lugar ao Diogo como centroavante.


Saí da rádio, fui até a Rua da Praia e encontrei o Foguinho. Primeira coisa que fiz foi convidá-lo para tomar um cafezinho. Estávamos no café conversando e, lá pelas tantas, deixei escapar que o Larry estaria no meio-de-campo. Foguinho, em seguida, falou:


Isso é ideia daquele homem, o Cid Pinheiro Cabral. E lhe digo mais, seu Osterrrmann, escreva-se e publique-se: se o Internacional jogar com o Larry no meio-de-campo, o Grêmio fará cinco gols. O senhorrr escreva, anote”.


No outro dia, encontrei-me com Cid e perguntei se seu artigo estava pronto. Ele respondeu que sim e mostrou-me o artigo. Aliás, o Cid escrevia 20 vezes, cortava folhas e coisas assim. Na verdade, só o Ivo Corrêia Pires fazia mais remendos em papel que o Cid. Então eu falei:


- Olha, Cid, eu já tenho a entrevista resposta do Foguinho e ele disse que o Internacional vai levar cinco gols.


- Pois eu quero ver! Vamos publicar a minha coluna e a entrevista dele.


Resultado do jogo: Grêmio 5 X 2 Internacional.


Na segunda-feira, fui até a alfaiataria do seu Rolla, que ficava no prédio da Loja Krahe. Na alfaiataria não existia luz elétrica. Então eu disse para ele:


- Pô, seu Rolla, o senhor é pão-duro, nem luz o senhor põe aqui.


- Não senhorrr!… É que daí eu sei quando é noite.


- Seu Rolla, essa história de publicar o artigo do Cid e a sua entrevista ao mesmo tempo me criou um enorme problema.


- Não, senhorrr!… Quem criou o problema foi o seu amigo…

Fonte: Coiro, José/Grabauska, Cléber. Sala de redação: a divina comédia do futebol. Porto Alegre: L&PM, 1998, p. 102/103.




Capa: Ivan Pinheiro Machado sobre ilustração de Edgar Vasques

Paulo Sant’Ana

 

Eu fui um menino aqui do bairro Partenon, onde hoje é o Presídio Central. Eu era o vagabundo dos campos. Aquilo ali era uma fazenda, tinha mato, tinha pássaros das mais variadas espécies, tinha vacas, Eu andava no cipó, comia amora, pitanga, araçá, ameixa silvestre. Aquilo era um paraíso. Aqui dentro da cidade, eu morava no meio do mato. Eu morava numa casa boa, de alvenaria.


Tudo que eu sou na minha vida, de defeitos e virtudes, acontece porque eu não tive mãe. Minha mãe morreu quando eu tinha dois anos somente. Portanto, tudo o que sou de mau e de bom se deve ao fato de eu não ter minha mãe ao meu lado.


Depois eu vim aqui para a Azenha, isso quando eu já tinha uns 15 anos de idade, mais precisamente na rua 20 de Setembro esquina com Barão do Triunfo. Aquilo ali era a Esquina do Pecado. Ali se juntava 30, 40 rapazes e jogávamos pif-paf, dadinho e brincávamos. E foi ali que eu aprendi a discutir futebol. Frequentavam a esquina o Dilamar Machado, o Marco Aurélio Garcia.


Nesse tempo, eu fui baleiro no Cinema Castelo e depois Cinema Avenida. Também vendi pastéis nos quartéis da Brigada Militar e, depois, eu fui feirante por cinco anos. Eu armava a barraca perto das cinco horas da manhã e vendia balas, bolachas, bombons, tudo isso numa tenda do quarto grupo de feira livre.


Trabalhei como auxiliar de caminhoneiro, indo a São Paulo buscar doces e balas para vender em todo o interior do estado.


Fiz concurso para inspetor de polícia; aprovado, trabalhei em Tapes, Arroio dos Ratos, Triunfo e São Jerônimo. Em Porto Alegre, trabalhei com o fiscal Elpídio, fazendo a ronda noturna pelos botecos da Voluntários da Pátria.


Mais tarde, me elegi vereador, fiz o curso de Direito e, através de concurso, fui ser delegado de polícia.


Falando em concurso, aconteceu um fato muito interessante. Eu fui reprovado num concurso interno, como inspetor, e no concurso externo, para delegado, em que existiam 324 candidatos, eu tirei primeiro lugar. Dá para entender isso?


E foi essa a minha vida, de feirante, de baleiro, de pasteleiro, de policial e de jornalista.


E o que é o jornalista senão um vendedor de balas, pastéis e guloseimas para seus leitores e ouvintes?


Fonte: Coiro, José/Grabauska, Cléber. Sala de redação: a divina comédia do futebol. Porto Alegre: L&PM, 1998, p. 123/127/128.




Capa: Ivan Pinheiro Machado sobre ilustração de Edgar Vasques

Ruy Carlos Ostermann

 

Antes, o comentário era uma coisa bastante intuitiva, subjetiva, retilínea. Ninguém anotava muita coisa. As coisas mudaram depois que eu criei a planilha. A planilha é criação minha. Isso aconteceu em 1962.


Eu uso um caderno e nele coloco o local do jogo, a data, o horário do início do jogo, os times. Embaixo, se deixa um espaço para colocar as substituições e os arremates a gol e para, através de algum sinal, tu fazeres a distinção daquilo que foi feito com os pés.


Então, com o advento da planilha, surgiu uma coisa assim: o Internacional arrematou 14 vezes a gol, e o Grêmio, 16. Isso não existia antes. Ninguém anotava, não tinham uma planilha para isso.


Foi daí que as pessoas começaram a notar que o meu discurso era diferente do dos demais colegas. É por isso que o Lauro diz que sou um divisor de águas.


Em parte o meu apelido de professor decorre dessa minha frase didática, enfática e repetitiva. Eu faço comentários circulares, não os faço de forma linear. Eu vou até um ponto e depois volto e assim vou sucessivamente, até porque é assim que se aprende. Faço um processo de repetição, não com as mesmas palavras.

Fonte: Coiro, José/Grabauska, Cléber. Sala de redação: a divina comédia do futebol. Porto Alegre: L&PM, 1998, p. 108.




Capa: Ivan Pinheiro Machado sobre ilustração de Edgar Vasques

Sala de Redação por Ruy Carlos Ostermann, 1998

 

O programa Sala de Redação é a reunião de pessoas com personalidades fortes e que advêm de campos diferentes do conhecimento e campos diferentes de experiência. Essas pessoas são colocadas em torno da mesa, sem pauta, sem organização alguma, para ficarem aí cerca de uma hora, durante cinco dias da semana, ao longo do ano.


E ficam a conversar e debater sobre uma coisa apaixonante e contraditória que é o futebol. Então, é inevitável que haja desavenças, até pessoais, mas sobretudo de ordem conceitual, ideológica, de pontos de vista.


No Sala há muito “chutômetro”, há muita opinião, há muito isso, há muito aquilo. Essas coisas são contraditórias e entram nesse conjunto.

Fonte: Coiro, José/Grabauska, Cléber. Sala de redação: a divina comédia do futebol. Porto Alegre: L&PM, 1998, p. 100.




Capa: Ivan Pinheiro Machado sobre ilustração de Edgar Vasques

Pescaria (Paulo Motta)


Tomei os remédios que a técnica do plantão trouxe. Furou meu dedo para medir o HGT, índice de glicose. Está no padrão. Brabo é que furam meus dedos das mãos – são dez – e pareço um paliteiro, todo furado, mas não tem jeito.


Lembro quando espetava meus dedos colocando iscas em anzóis, tentando me familiarizar com o esporte que meus colegas adoravam: pescaria. Pescaria e futebol foram duas coisas que bani da minha vida esportiva por pura incompetência. Mas cheguei a ir numa pescaria com meus amiguinhos, lá em São Borja.


Conseguimos uma cabana dum amigo do pai do Hilton Marchiori, o Capincho; arrumamos linhas, iscas, anzóis e um monte de tralhas pra pescaria, tudo emprestado. Ah!, e dois garrafões de cachaça.


Fomos na picape Chevrolet vermelha do Saquinho, que era lástimável; a direção amarrada com arame e os freios funcionavam na base do acaso. Lá fomos nós, em alegre e saltitante bando, uns sete doidos amontoados na picape infernal.


Chegamos na cabana, na beira do Rio Uruguai, perto do anoitecer, e tínhamos que estacionar a camionete num barranco de frente pra parede lateral da cabana, pois a bosta não tinha arranque.


A casa era superorganizadinha, camas, três peças, banheiro na rua.


Os garrafões de canha foram abertos e lá pelas oito da noite todos já falavam javanês.


Não tinha luz elétrica, só liquinho e velas. O Léo Castilhos fez um arroz com linguiça, comemos a gororoba e os caras acharam uma canoa num galpão e resolveram se lançar ao rio pra pescar.


Acho que eu era o mais sóbrio da horda de bárbaros. Quando vi uns quatro dentro daquela casquinha que eles chamavam de canoa, me deu um calafrio, juro!


E sumiram na escuridão do rio aos gritos, como se fossem invadir a Noruega!


Em seguida, ouvi tiros vindos do mato.


O Saquinho achou duas armas de caça, de cartuchos, ele e o Rogério Krieger estavam no mato caçando. Naquele breu, iriam se matar, os desgraçados! E caçar o quê?


Me enfiei na cabana e cochilei até acordar com a gritaria dos canoeiros. Chegaram molhados como patos, a canoa emborcou com todos, quase morreram, perderam linhas, espinhéis, iscas artificiais, tudo emprestado.


Mas Deus protege os borrachos!


Eram umas 4 da manhã, entraram todos numa algazarra e vá canha!


O Capincho e o Saquinho estavam alucinados com as armas nas mãos, tanto que deram uns três tiros pro alto. Dentro da cabana. Abriu cada buraco no teto de se prestar atenção!


Pra encurtar o relato, pela manhã todos em pé, com cara de cataplasma, fazendo o levantamento da esculhambação. Os buracos no teto não tinham conserto, as armas dava para limpar, a canoa guardamos, então vamos embora.


Aí vem a parte de empurrar a camionete no barranco para dar arranque. Empurramos, a camionete desceu, pegou no tranco e se foi em direção à cabana do homem. Os freios, nem tchuns. Pronto, derrubamos metade da parede da cabana! Azar, vambora!


Chegamos em São Borja e somente dois dias depois começamos a dar explicações pra quem tinha nos emprestado alguma tralha! A cabana do cara, tivemos que pagar o conserto e a minha tímida carreira de pescador terminou ali. Prefiro pescaria de quermesse.


Fonte: Motta, Paulo. Paulo Motta: o rei de Bulhufas. Porto Alegre, Editora Escuna, 2022, p.37/39.




Capa: Larissa Dall’Agnese Martins

sexta-feira, 3 de junho de 2022

Inacreditável (Programa Sala de Redação 29/05/1998)

 

SANT’ANA: (…) Em Capão Novo, uma das nossas praias aqui do litoral norte, ontem aconteceu o seguinte: o posto de saúde estava fechado e havia um aviso estampado na porta principal: “Fechado por motivo de doença”.


(…) Professor, eu, em Florianópolis, passei por uma funerária, de automóvel. Na parede do prédio tinha um enorme cartaz que dizia assim: “Funerária Caminho do Céu”. Então, parei o meu carro, desci e me aproximei. Um cartaz menor, colado na porta, dizia: “Fechado por motivo de falecimento do proprietário”.


LAURO QUADROS: O Sant’Ana tem mania de ler coisas absurdas. Hoje de manhã ele fez o seguinte: eram 7h25min quando ele entrou no programa do Rogério Mendelski.


KENNY: Então, Lauro, tu és um ouvinte fiel do Rogério Mendelski?


LAURO: É isso mesmo. Eu ouço só para me irritar, o Rogério sabe disso.


SANT’ANA: Pois o Rogério me disse que assiste ao programa do Lauro na TVCOM, o Estúdio 36, também para se irritar, pra dormir mal, tudo por puro masoquismo.


LAURO: Mas, voltando ao assunto, o Sant’Ana disse assim: “Entrei numa tabacaria em Turim, na Copa de 1990, comprei uma carteira de cigarros e, quando fui acender, o meu cigarro, o cara da tabacaria disse: ‘Fumar aqui, não!’ Isso mesmo. O cara falou: ‘Vetato fumare’.” Isso é inacreditável! Mas inacreditável mesmo foi o que eu vi aqui em porto Alegre. Um cara foi na farmácia, comprou uma camisinha-de-vênus e queria experimentá-la dentro da farmácia.


RUY: Acredite se quiser…


SANT’ANA: Eu contei que um motorista na estrada de Florianópolis fazia sinais. Seu caminhão estava parado no acostamento e ele parecia desesperado. Na parte traseira existia um letreiro grande com os seguintes dizeres: “Cuidado! Inflamável! Óleo diesel.” Então, eu parei meu carro e fui lá falar com o motorista.


- O que é que houve, meu filho? Por que estás parado na estrada?


- Faltou óleo diesel, meu senhor… (Risadas do grupo do Sala.)


Em Passo Fundo, entrei numa churrascaria enorme, parecia a churrascaria Mosqueteiro ou quem sabe a Nova Bréscia. Na parede, um enorme cartaz, havia um conselho da secretaria da saúde que dizia: “Não comas carne vermelha. Faz mal à saúde”. Isso é uma coisa inacreditááávelll!


Finalmente, em Sapucaia, na porta de um banco existia um cartaz que dizia assim: “Este banco não se responsabiliza pelos valores aqui depositados”. (Risadas gerais.)


E Sant’Ana gritava: É inacreditááávelll!


LAURO: Nas garagens aqui de porto Alegre, têm enormes letreiros dizendo que não se responsabilizam pelos automóveis lá guardados.


SANT’ANA: Não ouvi toda a história, mas parece que o Rogério Mendelski contou que em Lisboa o presídio fica na rua da Liberdade. E parece que lá existe um parque onde todo mundo faz cooper, caminham na mais plena liberdade, todo mundo muito alegre, e o parque se chama Parque da Opressão.


RUY: Pois em Lisboa, numa praça, existia o seguinte aviso: “Não pise na grama. Se não souber ler, pergunte ao guarda”.


KENNY: Mas isso aí que o Rogério falou não é inédito. O presídio mais temível e terrível da ditadura uruguaia, onde todas as pessoas que eram contra o regime eram massacradas, esse presídio se chamava Libertad.


LAURO: E o caminho certo para o hotel São Domingos, no Recife, onde se hospedava a Seleção Brasileira do João Saldanha, o caminho certo era a Rua do Hospício.


RUY: Outro dia, eu fui estacionar meu carro numa garagem aqui, bem próximo da Zero Hora. Dirigindo-me para a rádio, caminhando, vi o primeiro, o segundo e o terceiro carros, todos com seus vidros quebrados para levarem os rádios e toca-fitas.


SANT’ANA: Professor, agora vou lhe contar o que aconteceu naquele estacionamento que fica na rua Zero Hora, passando as oficinas. Eram 20h01min. Eu e mais 12 pessoas fomos buscar nossos carros nesse estacionamento. Pasmem! O portão do estacionamento estava fechado com um baita cadeado. O funcionário tem ordem expressa de fechar às oito horas em ponto, por causa da falta de segurança. Mas eu fico até as três horas da manhã escrevendo. E então? Pois, voltando ao assunto, o guarda do estacionamento puxou um gigantesco molho de chaves com 48 chaves, experimentou uma por uma, e nós ali aguardando. Sabem o que aconteceu? Nenhuma das chaves abria o cadeado. Inacreditááávelll!


Fonte: Coiro, José/Grabauska, Cléber. Sala de redação: a divina comédia do futebol. Porto Alegre: L&PM, 1998, p. 37/40.




Capa: Ivan Pinheiro Machado sobre ilustração de Edgar Vasques

Destaques de Dois Irmãos (MIlton Hatoum)

(...) as palavras parecem esperar a morte e o esquecimento ; permanecem soterradas, petrificadas, em estado latente, para depois, em isen...