quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Pablo e Luisão (Paulo Vieira)

 

Meu pai tem um melhor amigo, o PABLO, (pense num bicho enrolado!) que só arrumava serviço roubada e posso ouvi-lo “Ô Luisão, peguei o trabalho de derrubar a caixa d’água lá, tem segredo não! É só quebrar...”

Eu amo essa estória da caixa d’água que saiu rolando e amassando carro.

Aliás, o PABLO merece uma Thread um dia. Preciso contar pra vocês da vez que ele convenceu meu pai a vender TUDO e investir em extintor de carro e um mês depois caiu a obrigatoriedade pra extintor em carro. Ficamos anos com a casa lotada de caixas e mais caixas de extintor.

Um dia o PABLO falou pro meu pai “Luisão, vamos vender caju e pequi na feira? Encontrei uma mina de cajueiro e pé de pequi no meio da serra!” Meu pai perguntou se não tinha dono e Pablo “moço, é mata nativa”. Corta para: Meu pai e Pablo correndo dos tiros do dono das terras!

Um dia meu pai brigou feio com o PABLO. Pra reconquistar meu pai, PABLO chegou lá em casa com um galo de presente. Esse galo era super agressivo, atacou minha mãe, bicou o pênis do meu irmão e a fábrica do meu pai foi fechada pela vigilância sanitária por ter “criação de animais”

Uma vez, Pablo pegou um bico de dedetização pra fazer com meu pai. “É fácil demais, Luisão, tem segredo nenhum! Quem paga profissional é otário!”... Corta para: Meu pai com o olho do tamanho de uma laranja e o médico falando “provavelmente o veneno te deixará cego desse olho”.

Enfim, são mais de 20 anos de roubadas. Eles são a melhor definição de “parceria” que eu conheço. Um dia escrevo aqui sobre essa amizade. Ainda nem contei sobre a relação de amor e ódio da minha Mãe com o PABLO...

Meu pai ia vender churrasquinho na praia, aí PABLO “Luisão, isopor todo mundo usa, vamo fazer uma churrasqueira com rodas! Fica levinha!” Corta para: Um trambolho de ferro (pesando toneladas), impossível de arrastar na areia. Precisava de 5 pessoas pra mover o “isopor” do meu pai.

A churrasqueira chegou num guincho. Parecia uma carruagem de ferro e, quando era empurrada, ragia parecendo um grito “IEEEEEEEEEEN”. Meu pai deu problema nas costas nesse verão e tivemos que pagar um ferro velho pra tirar a churrasqueira da areia.

O Pablo é tipo um irmão/tio. Nossa casa é a casa dele. Problema é que ele sente isso também: Uma vez deu o nome do meu pai como voluntário pra acolher pessoas na igreja e não avisou. Um dia minha casa ficou cheia (UM ÔNIBUS) de peregrinos de Manaus indo pra Aparecida do Norte!

Meu pai queria comprar uma bicicleta cargueira pra eu vender salgado na rua e uma bicicleta pra eu ir pra escola. PABLO falou “Luisão, muito caro, tem como ter as duas em uma só!”, ele soldou toscamente várias garupas numa Caloi e eu nunca me recuperei do bullying daquela época.

Pablo um dia achou que meu pai pagava muito caro na carne moída que ia no pastel. Homem de negócios que é, achou um NEGOÇÃO: Uma carne muito mais barata direto da fonte! Um caminhão do matadouro parou na porta da minha casa e deixou UM BOI INTEIRO no meio da cozinha da minha mãe.

Eu contei pra vocês que PABLO e meu pai são uma dupla sertaneja? Sim. “LUIZ E LUAN” teve apenas uma apresentação marcada num programa de rádio. PABLO (Luan) arregou e meu pai ficou sozinho na rádio dizendo o programa todo “acho que ele tá apongando aí gente... NÉ PUSSIVE!”. Era.

PABLO ama tanto meu pai que, quando meu pai adoece, a minha mãe não pode contar pro Pablo de qualquer maneira, tem que sentar o Pablo, dar um chá de camomila e falar “VOCÊ VAI TER QUE SER FORTE...”. É sério. Toda vez que meu pai interna, o Pablo passa mal!

Um dia meu pai foi fazer uma cirurgia e só podia ir um acompanhante: Minha mãe! Pois quando abriram as portas do centro cirúrgico, NÃO SABEMOS COMO, minha mãe vê que o Pablo estava acompanhando de dentro da sala de cirurgia vestido e com crachá de enfermeiro!


PABLO também é a grande concessionária de meu pai. Foi ele quem encontrou, convenceu e articulou a venda de todos os carros que minha família teve, inclusive, minha mãe movida pelo ranço nunca andou em nenhum!

Há uma teoria desenvolvida pelo meu irmão de que a zica PABLO está intrinsecamente ligada ao ranço e olho ruim de mamãe. Meu pai diz “Vou começar um negócio com o PABLO”, minha mãe diz “hum hum”... Ali as nuvens já fecham e o feitiço já foi lançado... NÃO VAI DAR CERTO!

De todos os carros que PABLO e meu pai arrumaram, nenhum durou mais de um ano. Todos tinham nome. Deles, destaco dois: Baratinha (uma pampa anos 80) e o Cicatriz (um escort muito velho). Sacou? O nome do carro é cicatriz pq ele é um EX CORTE! Sim, Pablo e Luisão são engraçadões.

A Baratinha é um carro que você andava e ficava com dor nas pernas: O carro tinha um buraco no banco do passageiro, a gente tinha que andar com as pernas pra cima, sem poder relaxar. Era melhor ir a pé! PABLO disse “Luisão, isso aqui a gente arruma” e colocou um tapete no buraco.

Um dia, minha mãe deu uma chance de paz e resolveu entrar na Baratinha pra gente ir tomar banho na praia do caju. Sentou bem bonita com sua cachorra Kaká no colo, vira-lata-caramelo que mamãe insistia em tratar como um Lulu-da-pomerânia... No meio do caminho, CADÊ A KAKÁ?

Ninguém tinha avisado pra minha mãe sobre o buraco. A KAKÁ foi engolida pelo buraco e atropelada pelo Pablo. Vai somando aí pra tu sacar essa relação Pablo X Mamãe...

KAKÁ sobreviveu, mas ficou com um tique de mexer uma das patas traseiras pra cima, o tempo todo, involuntariamente. O que divertiu a mim e meu irmão para sempre, pois era só colocar um regue e a mágica estava feita: ESSA CACHORRA DANÇA!

Nota de aprofundamento: Nessa época, meu pai é minha mãe se casaram na igreja. Eu entrei com minha mãe, meu irmão levou as alianças, PABLO CANTOU PRA MINHA MÃE ENTRAR... Nas filmagens, tem uma cena ótima da minha mãe dançando na terra com vestido de noiva, acompanhanda pela KAKÁ!

Já o Cicatriz, meu pai andou nele poucas vezes: A primeira, pra chegar lá em casa, a gasolina acabou. Meu pai ligou “PABLO, traz 5 litros de gasolina?”, Pablo levou. Depois, meu pai foi no mercado, não era 10km lá de casa, os 5L acabaram. Meu pai “PABLO traz 5 L”...Virou um bordão!

Em menos de uma semana, aconteceu o maravilhoso diálogo: - PABLO, traz mais 5 litros? - Tranquilo, Luisão, tá onde? - Na BR... - Tem funil aí pra por a gasosa no carro? - Não precisa, não quero pra abastecer não... - E quer pra quê? - PRA BOTAR FOGO NESSA DESGRAAAAAAAAÇA!!!

PABLO não levou a gasolina, mas foi lá acalmar meu pai. Uma das grandes cenas da minha vida: Eu e meu irmão com a nossa arara em cima do pé de goiaba assistindo meu pai pegar o litrão de arnica com álcool da minha mãe pra botar fogo no carro...

Minha mãe gritava “VAI DESPERDIÇAR MINHA ARNICA NESSE LIXO DE CARRO?”, meu pai “MALDITA A HORA QUE EU GASTEI MEU DINHEIRO NESSA DESGRAÇA” jogando arnica no carro enquanto tentava acender o fósforo… Pablo assoprava os fósforos que meu pai acendia: “NÃO FAZ BESTEIRA LUISÃO!!!”

Eu, meu irmão e a arara nunca esquecemos.

Falei tudo isso pra contar a última do PABLO, que aconteceu essa semana, mas antes tenho que contar da nossa viagem pra Uberaba que foi O GRANDE MOMENTO da minha mãe com o PABLO!

Eu disse que ia contar da nossa trip de Uberaba, mas meu irmão fez uma consideração importante: É preciso que vocês saibam de alguns dos DESASTROSOS FINAIS DE ANO da minha família e a relação do PABLO com eles.

Primeiro de 3 - ANDAR COM FÉ EU VOU! Minha mãe combinou com as irmãs dela de passarmos o natal em Trindade, capital da fé colada em Goiânia, e logo deu a letra: “EU NÃO VOU CHEGAR EM TRINDADE DE ÔNIBUS! VAMOS ALUGAR UM CARRO PRA VISITAR (se amostrar para) TODOS OS PARENTES”

É preciso que vocês saibam que minha mãe é uma pobre metida. No sentido de que, ela pode estar fudida passando abacate da rua na cabeça pra hidratar o cabelo, e consegue convencer as vizinhas de que aquilo é última moda em algum lugar, que ela ESCOLHEU fazer daquela maneira.

Minha mãe é rainha na flexibilização do ponto de vista, uma GÊNIA na disputa de narrativa entre a pobreza e simplicidade. Minha mãe consegue lançar moda e transformar sua falta de grana em hype. Uma GÊNIA.

Talvez, o maior embate dessa relação Mamãe e PABLO, seja justamente esse: PABLO mostra pra mamãe onde ela está, quem ela é. Ele arranca a moldura que minha mãe faz da realidade e joga bosta na cara dela. A elegância de mamãe é muito frágil.

Pois bem, PABLO disse pro meu pai “Luisão, tu sabia que nessas empresas de alugar carro, você pode alugar pela metade do preço se aceitar um carro com um defeitinho?” Meu pai (QUE É UMA DIVINDADE DA ECONOMIA MERDA) brilhou os olhos.

Luisão - Mas que tipo de defeitinho? PABLO - Coisa pequena: arranhãozinho, banco manchadinho... essas besteirinha... ALUGAMOS UM PALIO NA LOJA DO AMIGO DO PABLO, CUJO O DEFEITINHO ERA NO MOTOR DE PARTIDA. SABE O QUE O MOTOR DE PARTIDA FAZ? LIGA O CARRO!

PRO CARRO LIGAR, TINHA QUE EMPURRAR! Minha mãe disse “Eu não vou empurrar desgraça nenhuma, eu tô com ódio, vocês nem olhem pra minha cara!”. Meu pai tava com o pé machucado, Pablo dirigia, meu irmão era novinho demais. Adivinha? Empurrei o carro com a família na ida e na volta!

Quase 2 mil quilômetros com a minha mãe querendo mijar a cada 50Km... Vocês acham que eu sou abençoado de graça? Me chamaram pra apresentar o Criança Esperança, eu pensei “Mereço sim. Deus tá é me indenizando”. Tudo que acontecer de bom comigo eu já paguei com a minha família!

Segunda parte de 3 - O DIA QUE MINHA MÃE CANCELOU O NATAL! Fim de ano lá em casa é sempre desastroso. Eu nem sofro mais. Faz alguns anos que eu não vou, quem vai é um personagem meu que observa e sorri. Vai chegando o fim de ano, eu já mando pro meu irmão “QUE AVENTURA VEM AÍ?”

E meu irmão me responde coisas do tipo “meu pai quer levar a gente pra pescar no dia 31 de dezembro num barco pilotado pelo Pablo que acabou de tirar a carta de barco. Será que desta vez ele mata a gente?” E eu sempre respondo “com fé em Deus”.

Era outubro e minha mãe já tinha combinado com a minha vó paterna da gente ir passar o natal com ela em Goiás. Meu pai foi planejar nossa ida e minha mãe, sempre preocupada na imagem que está passando para as irmãs, fez uma compra de mais de mil reais na IDEAL TECIDOS.

Comprou principalmente roupa pra nós. Pois, para a mulher do interior, os filhos e os maridos andarem MULAMBOS é uma desonra que gera fofoca e humilhação. Desde outubro as roupas estavam lá nas malas, mas não podia usar, era pro nosso maravilhoso fim de ano!

Eu estava na mesa do almoço quando meu pai começou a falar sobre os gastos da nossa ida. Meu pai vira o homem que calculava quando quer justificar uma merda. “TAVA PENSANDO, CEIÇÃO, NOSSA IDA E VOLTA VAI FICAR CARA... NÃO SERIA MELHOR PEGAR ESSE DINHEIRO E COLOCAR NUMA COISA QUE A GENTE POSSA APROVEITAR DEPOIS? NUM BEM DURÁVEL. SABE?” minha mãe não disse nada, ficou em silêncio esperando a merda igual a família da praia no filme impacto profundo, meu pai: “POR ISSO EU RESOLVI PEGAR O DINHEIRO E ARRUMAR O ESCORT DO PABLO PRA GENTE VIAJAR NELE”. Silêncio.

Lembra dele? Sim, Pablo comprou o cicatriz do meu pai. O carro quando não parava por falta de gasolina, parava por falta de peça. Era nessa maravilha de possibilidades que estavam depositadas nossas esperanças de um fim de ano ruim, como sempre é, mas dentro do aceitável.

Minha mãe, desde então, não abriu a boca sobre o fim de ano. Ficou no mais absoluto silêncio sobre isso. Fazia as coisas meio no automático, quase um robô, sem expressão... Apenas um olhar de quem sabia que ia dar merda e, quando desse, mataria meu pai.

Nós partiríamos no cicatriz de madrugada e meu pai e Pablo deram um churrasco pros amigos salgadeiros nessa mesma noite. A ideia era emendar o churrasco nas 12 horas de viagem até a casa da minha vó, que é o que o DETRAN recomenda, né? Dirigir bem cansado!

No fim da festa, PABLO foi levar uma peguete dele no reino tão tão distante onde ela morava. Nós fomos nos arrumar com a “roupa da chegada”, um dos looks que minha mãe tinha comprado em 10X na Ideal. PABLO não voltou no horário. PABLO demorou. O tempo passou e PABLO não voltava.

Estava quase amanhecendo quando PABLO ligou: “Dona Conceição, passa aí pro Luisão?”, depois de um longo silêncio, minha mãe disse: “Pode falar...” como se já estivesse preparada para aquela ligação desde o almoço em que meu pai avisou onde iríamos viajar.

O MOTOR DO CARRO FUNDIU!”

Meu pai, DIVO DO COACH BARATO, começou a discursar sobre ver o lado bom das coisas, como teria sido pior se fosse no meio da estrada, que aquilo era Deus, que o importante era estarmos juntos e terminou dando a deixa perfeita para mamãe “agora é tentar salvar o Natal...”.

Transcrevo o surto que Mamãe deu, falando com um cigarro no canto da boca, enquanto jogava as roupas novas no lixo: SALVAR NATAL? QUE NATAL? EU NÃO QUERO OUVIR UMA PALAVRA SOBRE NATAL! JESUS ESTÁ PROIBIDO DE NASCER, PAPAI NOEL QUE TOME NO CU, O NATAL ESTÁ CANCELADO NESSA CASA!!!

Esse foi o ano que minha mãe virou o grinch: Jogou fora os panetones, caçou e quebrou tudo que era natalino lá em casa e, rainha do tempo que é, pulou do dia 23 de dezembro para 1 de janeiro.

Na terceira parte, contarei como PABLO e LUISÃO fizeram uma viagem de 10 horas durar TRÊS DIAS INFERNAIS!

Sim, voltei pra contar a parte 3 da trilogia dos finais de ano, e finalmente terminar esse perfil do Pablo pra poder me aprofundar no novo negócio dos dois. Uma roubada que tá acontecendo agora, esse ano, ao vivo!

Terceira parte de 3 - A PIOR VIAGEM DE TODOS OS TEMPOS! Minha vó é daquelas véia que todo ano fala “esse é meu último natal, acho que eu não duro até o ano que vem não...”, por mais que vovó tente, o monólogo de despedida anual dela não é a pior parte do nosso natal.

São cenas que se repetem todo ano: Minha tia Raquel se esforçando pra fazer uma mesa bonita com minha mãe, eu e minha prima fazendo cesta de melancia. Vovó se despedindo. Meus tios e pai bêbados pegando as comidas da mesa pra fazer de tira gosto, destruindo a ceia...

Minha tia Raquel indo brigar com meu tio Brasa, tio Brasa jogando na cara de tia Raquel que ela foi morar com a madrinha dela quando eles estavam na rua...

Minha vó sempre aproveita esse momento pra jogar uma parada pesadíssima na roda também. Todo ano é uma nova. Eu e meu irmão sempre damos uma nota para O GRANDE BAFÃO ANUAL DE VOVÓ, comparamos com os outros anos e observamos o texto usado e o impacto na vida cotidiana da família.

Teve um ano que vovó disse que queria ter abortado todos os filhos, nota 9. Teve um ano que ela disse que queria ter casado com o primo, nota 7. Teve um ano que ela disse que a mãe dela, minha bisa, revelou no leito de morte q ela e a irmã não eram filhas do mesmo pai, DEEEEEZ!

Esse 10 de vovó foi com louvor, pois no momento que ela escolheu pra contar, minha tia-avó, essa não filha, estava no colo do seu não pai beijando e dizendo “meu pai é tudo que eu tenho nessa vida”. POW! Não tem mais nada agora, então. Vovó cruelíssima.

Enfim, os natais sempre terminam com tia Raquel bebendo uma água com açúcar, chorando e dizendo: EU NÃO SEI PORQUE QUE EU FICO NESSAS BESTEIRA DE JUNTAR A FAMÍLIA... ANO QUE VEM EU NÃO VOU FAZER NADA, EU VOU CRIAR VERGONHA NA MINHA CARA, CÊS VÃO VER!

Tudo isso pra dizer: Vocês podem a imaginar a minha animação para o Natal em família. Eu nunca imaginei que pudesse piorar... Sim, poderia ser este natal elevado à décima potência pois meu pai queria juntar toda a família em Uberaba. Isso do lado paterno. Esse natal prometia...

Pois, se do meu lado paterno a bagaceira é institucionalizada, o lado da minha mãe é pura aparência. A irmã de minha mãe, Tia Eva, tinha comprado um latifúndio com água e tudo, o que significava que mamãe tinha que chegar ARRASADORA em trindade pra mostrar que também estava ótima!

Minha tia ligava e falava “CEIÇÃO, CÊ PRECISA DE VER! QUE LUGAR LINDO... PARECE UM PARAÍSO... TEM UM RIO QUE PASSA PELA PROPRIEDADE, UMA CASA TODA EM MADEIRA BOA EQUIPADA COM TUDO... MENINA, CÊ VAI AMAR LÁ!” E isso só pressionava mamãe a planejar sua chegada com fogos e banda...

Em novembro, Pablo já tinha deixado minha mãe a-rra-sa-da com a notícia de que, pela primeira vez em muitos anos, ele não passaria o fim de ano conosco. Ele voltou a falar com a família dele e passaria o Natal lá. Pablo comprou antecipadamente a passagem de ônibus p/ ver os seus.

Meu pai ficou triste desde então. E quase sempre, se meu pai está triste, minha mãe está feliz. Ela comentou “vamos ver se, sem o PABLO, seu pai faz a coisa certa!”. Meu primeiro objetivo era convencer meu pai a fazer esse rolê de avião...

Quando eu falei isso com o meu pai, parecia que eu tinha matado um filhote de panda na LIVE do Greenpeace... Revoltou! Me chamou de riquinho, disse que “DEUS CASTIGA O TRABALHADOR QUE VENCE COM UM FILHO PLAYBOY”...

Enfim, meu pai e eu é que nem Deus e Jesus: Os planos dele sempre envolvem meu sofrimento. É por isso que eu sou cristão. Entendo JESUS totalmente...

O plano era: Sairíamos de Palmas dia 21 de dezembro, com 10 horas de carro estaríamos em Trindade. Minha mãe veria as irmãs. Depois faríamos mais umas horinhas de estrada até Uberaba. No dia: Meu pai mandou dar revisão no carro, lavar, trocar os pneus, tudo perfeito...

Minha mãe estava feliz pois, sem o PABLO, meu pai perdia força (Igual Sansão sem cabelo) e podia ser domado. A maior alegria dela é que pela primeira vez na história ela poderia fazer uma viagem com a possibilidade de mexer as pernas... Tudo perfeito!

Estávamos no carro e meu pai sentou atrás com minha mãe e meu irmão. “Tenho uma surpresa: PABLO VAI COM A GENTE!”. PABLO sentou no banco do motorista e contou que tinha cancelado a passagem “VOCÊS SÃO FAMÍLIA! NÃO POSSO ABANDONAR VOCÊS DEPOIS DE TANTOS ANOS?!” Foi bonito foi.

Entenda esse espaço: São 5 pessoas dentro de um Classic e minha mãe era a única que pesava menos de 100kg! A cena é: PABLO de motorista, eu do lado e minha mãe espremida entre meu pai e meu irmão PUTA DA VIDA, com seus óculos da Ana Hickman na cara.

Aprofundamento: Eu tinha feito um trabalho pra uma ótica que me deu como parte do cachê um vale compras. Dei de presente pra minha mãe, uns óculos da coleção da Ana Hickmann. Ela guardou dois anos e essa viagem era A GRANDE ESTREIA DOS ÓCULOS DA ANA HICKMANN!

A CHEGADA DELA TAVA TODA BASEADA NO LUXO DESSES ÓCULOS. Pessoa imaginaria - Que óculos bonito, Conceição! Ela: Pois é, caríssimo. É da ANA HICKMANN. Não há uma foto “rica” de mamãe que ela não esteja com eles.

No carro, já na estrada, PABLO comentou “O BARULHO SUMIU, NÉ LUISÃO? NÃO TE FALEI QUE IA FICAR FINO?”, minha mãe: “Tinha barulho onde?” E Pablo, ignorando o olhar de desespero do meu pai foi entregando tudo: “EU JÁ ARRUMEI. EU QUE DEI A REVISÃO NO CARRO... É COISA SIMPLES... “.

Meu pai não tinha levado o carro na oficina. Ele e PABLO deram revisão, arrumaram tudo que precisava, pois eles tudo sabem e tudo economizam. Com a força do INSTITUTO UNIVERSAL BRASILEIRO, que formou os dois em todas as ciências que existem no mundo.

Não há nada que um aluno do Instituto Universal Brasileiro não saiba fazer. Quem quer, consegue! Se chegar uma nave alienígena na terra, PABLO e Luisão sabem mexer. Eu disse mexer, não arrumar... Qualquer dia eu conto sobre a carreira de DETETIVE (formado pelo IUB) do meu pai.

Quando eu soube dessas informações, eu disse: “Eli, Eli, LAMASALABACTANI? ” e entrei em estágio de auto hipnose induzida. Esperando toda e qualquer merda... E elas vieram.

Na astrologia, Saturno é o planeta q testa seus limites, suas fraquezas, é o técnico. Podemos dizer que o Carro do pobre é Saturno: Ele vive pra te fuder, quebra nos piores lugares pra te ferrar (porque não era nem pra vc ter ele, o carro). NUNCA AJUDA O POBRE… É o Guedes de rodas!

Seguindo a lógica, o desgraçado do carro esperou o pior lugar possível e quebrou. Não tinha como voltar, não tinha como andar, só tinha como chorar.

Anestesiado, resiliente e preparado, vi um restaurante de beira de estrada, desci do carro e caminhei direto pra lá. Sentei, pedi uma coca 0, botei “consumation” da Nina Simone no último volume e fiquei sentado de longe, observando minha família explodir.

Foi uma obra de arte. Minha mãe gesticulava ferozmente no time da música, meu pai e Pablo faziam uma balé desesperado em volta do carro, meu irmão ainda com alguma esperança de família tentando ajudar - OS BERROS - A FUMAÇA - OS ÓCULOS DA ANA HICKMANN!

Meu irmão desistiu, veio se sentar comigo, eu lhe dei um fone. Logo minha mãe veio, pedi uma poção... E vimos o dia passar... Produtor que sou, descobri que mulher do restaurante tinha um irmão mecânico em uma cidade vizinha distante, já mandei vir, era nossa única opção!

Lá pelas 20h da noite, Pablo e meu pai fizeram o carro funcionar. Comemoração dos dois! Eu disse: “Já mandei vir um mecânico, vamos esperar pra que ele dê uma olhada?” Meu pai: “EU NÃO SEI DE QUE SENADOR ESSE MENINO É FILHO, ELE ACHA QUE AS COISAS SÃO FÁCEIS...”. Playboy e etc!

Segundo PABLO, o problema tinha sido uma coisinha simples que já estava resolvida. “AGORA VAMOS PARAR SÓ EM TRINDADE!”. O diabo e o carro riram gostosas gargalhadas para trás.

O carro esperou as luzes da cidade desaparecerem no meio do mato na estrada, e quebrou novamente. Nesse lugar nós ficamos a madrugada inteira pedindo carona.

O único carro que parou para nós foi um guincho (perfeito, né?) que disse “tô indo pra muito longe, só volto amanhã meio dia!” não resolveu nada. De resto, NINGUÉM PARAVA! Nossa água acabou, nossa comida acabou, passamos sede e fome.

Era quase 5 da madrugada quando eu olhei minha mãe pedindo carona com seus óculos da Ana Hickmann (sim, de madrugada), coluna hetera, sorriso no rosto, arrogante que só ela, quase dizendo “SE QUISER PARAR, PARA, MAS EU NÃO PRECISO DE VOCÊ NÃO!”.

Foi aí que eu resolvi gastar minha Fátima Toledo e dar um curso de expressão corporal pra minha família. Preparei o elenco pra pedir carona. Ensinei minha mãe a se mostrar frágil: Coluna arqueada, cabeça baixa, mãos na barriga ou estendidas como quem pede ajuda...

Na primeira tentativa, OSCAR! O cara parou. Era um caminhão. Explicamos que precisávamos que ele levasse alguém até a próxima cidade pra essa pessoa voltar com ajuda. Ele disse “Eu levo a moça” eu e meu irmão gritamos “NOSSA MÃE NÃO! LEVA O PABLO!”. E lá se foi PABLO com o moço...

O dia amanheceu e nada do PABLO. Sede. Fome. Desilusão. Foi então que vimos outro guincho... Não, pera! Era o mesmo. Já era mais de meio dia do dia seguinte... Colocamos o carro no guincho e fomos pra próxima cidade.

Chegando na cidade, meu pai foi caçar o PABLO. Também tinha isso: E se o caminhoneiro matou o PABLO? Enquanto meu pai ia procurar, falei: “Pai, será que a gente não pega um quarto nesse hotel do posto?”... EU QUERIA SABER EM QUE MARISTA VOCÊ ESTUDOU PRA SER PLAYBOY DESSE TANT...

Meu pai encontrou o Pablo chorando, achando que a gente já tinha morrido de fome, o único guincho da cidade era aquele mesmo que voltou com a gente. Ainda bem que PABLO também já tinha se adiantado e já sabia onde ficava o único mecânico da cidade...

Empurrando o carro até o mecânico, meu pai, que é piadista e não tem medo da morte, perguntou se minha mãe não ia ajudar a empurrar, ela disse: “SE VOCÊ FALAR COMIGO MAIS UMA VEZ, EU VOU AFUNDAR SUA CARA NESSE CARRO ATÉ FAZER O DESENHO CERTINHO NA LATARIA!”. O climão veio empurrar!

Chegamos exaustos na borracharia. O mecânico que PABLO tinha arrumado estava assistindo televisão, nós entramos, ele continuou onde estava. Meu pai falou “trouxemos o carro pra...” o mecânico gritou “DEPOIS DA MINHA NOVELA Ô DESGRAÇA!”. Sentamos e assistimos a novela com ele.

Depois da novela, o mecânico viu que o problema era numa peça que não tinha na cidade. Minha sugestão: Vamos dormir em um hotel hoje, tomar um banho e amanhã resolvemos. Sugestão do PABLO: Vamos tirar a peça, ligar direto e vamos seguir, a verdade é que nem precisa dessa peça...

PORQUE É ISSO QUE A CHEVROLET FAZ, ELA COLOCA APÊNDICES NO CARRO. COISAS DESNECESSÁRIAS. ELA FALA ASSIM “EU PODERIA LIGAR ISSO AQUI DIRETO, MAS NÃO, VOU CRIAR ESSA PEÇA INÚTIL PRA TODO MUNDO USAR, MENOS O PABLO... ELE VAI SACAR LOGO O NOSSO PLANO E ELE NÃO PODEREMOS ENGANAR...”

Compramos muita água, e voltamos pra estrada com o carro sem a tal peça. O carro foi parando inúmeras vezes. Sem a peça, alguma coisa esquentava e Pablo precisava parar pra jogar água. Até uma hora parar de vez no meio do nada e, mais uma vez, a gente ficar sem água e com sede.

Estão acompanhando? Já estamos no segundo dia... Quando amanheceu, vimos que estávamos na porta de uma fazenda, entramos pra pedir água e andar mais alguns metros... rs

Na fazenda, conhecemos a minha figura favorita nessa odisseia, uma figura que eu e meu irmão chamamos de: A VÉIA DOS PATOS. A fazenda estava decadente, sem cuidados e lá morava uma senhora solitária com um cachorro caolho. Foi quando nós mudamos para: A VÉIA SOLITÁRIA DOS PATOS.

A fazenda era cheia de patos, mas também tinha galinha d’angola, galinhas... Parecia que as criações tinham tomado o controle da fazenda. Ela não regulava muito bem, parecia aérea, assim que nos conheceu, disse uma coisa tristíssima: NINGUÉM VEM PRO NATAL. Cortou nosso coração.

A nossa vontade era ficar e passar o natal com a VÉIA SOLITÁRIA DOS PATOS. Ela era muito fofinha e foi nos contando sobre a vida dela enquanto tomávamos um café. A véia dos patos tinha algumas ferramentas, então os alunos do IUB fizeram a festa, dava pra fazer até um foguete!

Nessa altura, enquanto os cientistas da mecânica estavam em ação no quintal da véia, eu minha mãe e meu irmão já estávamos dando uma limpada na cozinha. Era lindo de ver a ralação dela com o cachorrinho caolho, que andava com muita dificuldade... Tadinha...

No meio do papo, a senhorinha estava nos contando que era viúva, que o marido dela tinha sido assassinado pelo irmão dela por causa de terras... Nós super compadecidos e, do nada, a véia disse “FOI MELHOR ASSIM. BOM PRA TODO MUNDO!”. Estranhamos, mas seguimos... Tadinha...

Aos poucos, fomos notando que a véia solitária dos patos era uma pessoa horrível. Ela disse, tomando um cafezinho, na maior fofura: “ESSE AQUI NÃO QUER MORRER (com o cachorro caolho no colo), ELE COMEU UM PATO MEU, EU BATI COM UM FERRO NA CABEÇA DELE E O OLHO SAIU PRA FORA...”

Ela continuou “EU PENSEI QUE TINHA MATADO ELE, JOGUEI ELE MORTO NUM BURACO, AÍ NO DIA SEGUINTE ELE TAVA AQUI!” Foi quando ela virou a VÉIA DESGRAÇADA SOLITÁRIA PORQUE MERECE MALDITA FDP DOS PATOS.

Fomos embora chorando por não poder levar o cachorro caolho. Eu e meu irmão criamos uma teoria de que o cachorro tinha voltado pra se vingar, ele estava só esperando o melhor momento pra matar a véia.

Voltando pra nossa vida... O carro andou mais um pouco e parou novamente. Não dava mais! Dois dias sem comer direito, sem banho, nas piores condições possíveis... Ligamos pra nossa família em Trindade e pedimos socorro. O resgate, meu primo, chegaria até a manhã do dia seguinte.

Ainda assim meu pai, muso da economia, não achou que era a hora de um hotel. Mesmo eu me oferecendo pra pagar. Dormimos em papelões no posto de gasolina. EU SEMPRE DIGO QUE DEUS PROVIDENCIA ESSAS AOMILHAÇÕES COMO DOSES HOMEOPÁTICAS DE HUMILDADE. Só pode.

Meu primo chegou no meio da noite e, até abrir as borracharias das cidades vizinhas, nos levou pro... adivinha? PRO LATIFÚNDIO DE TIA EVA, TERRA SAGRADA ONDE TRANSBORDAVA LEITE E MEL. De manhã foram tentar achar um lugar pra arrumar o carro.

A sapolândia que tia Eva pintou de paraíso era, na verdade, uma espécie de assentamento... Eu nunca entendi se era invasão, o que era aquilo... A casa de madeira nobre, era de caixa de fruta, e o rio... De fato passava na propriedade dela...

MAS ERA UM BARRANCO DE UMA ALTURA QUE ERA SIMPLESMENTE IMPOSSÍVEL COLOCAR OS PÉS NA ÁGUA. ERA UM PENHASCO DE BARRO, QUE IMPEDIA VOCÊ DE CHEGAR NO RIO BARRENTO. VOCÊ ATÉ PODERIA MERGULHAR, SÓ NÃO VOLTARIA...

Minha mãe, parecia que estava na Disney! Amou tudo isso... Fez foto e gravou vídeo! Quando passou das 16h, a fome bateu e não tinha nada pra comer nas terras de titia, minha mãe que descende dos povos originários extrativistas, entrou no meio do mato e voltou com dois ovos. JURO.

Do nada, ela descolou dois ovos. Não me pergunte como, ou de que bicho eram... uma regra quando minha mãe descola alimentação de guerrilha: NUNCA PERGUNTE O QUE É! Comemos a farofa.

Quando os príncipes da mecânica voltaram, amarraram uma corda no carro pra arrastar até o mecânico. Fui eu e PABLO no carro puxado... EM CADA CURVA, EU VIA UM CAMINHÃO VINDO E A VOZ DE DEUS ME CHAMANDO... PABLO freava, o carro da frente acelerava, meu primo brigava “não freia”!

Isso forçou tanto o carro que ele começou a pegar fogo. Sim. Ainda não chegamos em Trindade. Sim, eu disse que era longo... Vocês que insistiram!

DEPOIS QUE O CARRO PEGOU FOGO, conseguimos um mecânico que conseguiu finalmente arrumar o carro. Finalmente estava tudo resolvido. Finalmente poderíamos respirar em paz. Foi quando minha mãe apalpou o rosto... Apalpou o cabelo... Olhou a bolsa... “MEU ÓCULOS DA ANA HICKMANN!”

Os óculos de mamãe tinham ficado na fazenda da VÉIA DESGRAÇADA SOLITÁRIA PORQUE MERECE MALDITA FDP DOS PATOS. Meu pai disse: “Pode esquecer! Não vamos voltar lá por causa de um óculos besta...”. FOI QUANDO MINHA MÃE LEVANTOU UM PNEU DE TRATOR E FALOU “AH VAI... VAI SIM!”

Minha mãe deu o piti do universo. Eu não sei nem mensurar o que foi aquilo. Ela pulou em cima do carro falando “EU NÃO VOU CHEGAR EM TRINDADE SEM O MEU ÓCULOS DA ANA HICKMANN!!!!”. Foram uns 5 minutos de Piti, que mais pareceram a queima de fogos da Disney, de tão catárticos!

Foram 3 dias de sofrimento na estrada. Ela merecia. Quando terminou, minha mãe chorou. Quando minha mãe chora, é quando todo mundo se desespera: Eu, meu irmão, meu pai, o PABLO...

Voltamos pra pegar os óculos e, cês não vão acreditar: A VÉIA DOS PATOS estava com os óculos da minha mãe na cara! Tentando amolecer o coração amargo de mamãe, a véia falou “Ele é tão bonzin de usar”... Minha mãe praticamente arrancou da cara dela “É POR ISSO QUE EU USO!”.

Chegamos em Uberaba na noite do dia 24.

3 DIAS DEPOIS.

Fim?

Acabou?

Só um minuto, meu anjo... Quem roteiriza a minha vida é a HBO do céu, é coisa fina, eu tenho certeza que Deus assiste minha vida como entretenimento. Tem o gran finale.

Chegamos na festa, tinha uma prima que eu não conhecia em cima da mesa cantando em inglês inbromation. Umas tias falando “desce fulana... Ela é assim, ela bebe e fica falando inglês”. Como eu não conheço a maioria do povo, na dúvida, peço bença pra todo mundo.

Falei pro meu irmão: “Pega pela esquerda pedindo bença, que eu vou pelo outro lado, a gente se encontra lá no meio. No meio das bençãos, a prima bilíngue chegou em mim, pegou no meu pau e falou “Saudade docê Luiz, e daquelas sacanage que a gente fazia…” É MUITA INFORMAÇÃO SENHOR

A ÔTA ME CONFUNDIU COM O MEU PAI E ME DEU UMA PERSPECTIVA DE PAPAI E DA FAMÍLIA QUE EU NÃO QUERIA, CADÊ MINHA VÓ COM O DISCURSO FINAL? Fui dando bença na velocidade 6 pra encontrar logo meu irmão e contar o que tinha acontecido.

Falei “Neto de Deus a prima bilíngue me confundiu com o meu pai e pegou no meu p*” ele falou “Eu sei. pegou no meu também!”

Eu comentei “Melhor assim. Deus ajude que ela não ache o pau verdadeiro pq vai dar confusão”. FOI SÓ EU FALAR. VIRAMOS JUNTOS E VIMOS MINHA MÃE LEVANTANDO A PRIMA BILÍNGUE PELO PESCOÇO.

É importante ressaltar que essa era uma parte da família que meu pai não via há quase 20 anos. Tá? Não tinha nem meia hora que a gente tinha chegado. Neto comentou “não deu tempo nem de nóis comer”.

Lá estava minha mãe, com os óculos da Ana Hickmann, enforcando uma mulher duas vezes maior que ela. O povo pedindo calma, CALMA GENTE... pra finalizar, um primo subiu num banco e fez um discurso sobre como o dia era de alegria, que o importante era estarmos todos juntos, sem briga...

Pra selar a paz, esse meu primo teve a brilhante ideia de soltar um foguete. Era um foguete de 3 disparos. Soltou um pra cima e abaixou a mão. Os outros dois vieram no meu rumo: queimou minha mão, minha cara, eu fiquei 6 meses surdo de um ouvido e escutando um zumbido no outro.

Ps: Adivinha quem não conhecia ninguém da família, mas já estava enturmado a ponto de acender o foguete com o meu primo? Exato. Sobe os créditos.

Pra quem não conhece meu trabalho... Eu escrevo, atuo e coordeno uma série chamada “Isso é muito minha vida”. Tô batalhando pra fazer a segunda temporada, a primeira você pode assistir DE GRAÇA aqui.

Um aspecto muito delicado dessas relações: A BRIGA DE MAMÃE MÉDICA E PABLO CURANDEIRO PELO PACIENTE LUISÃO.

Meu pai é doente. Além das coisas que ele já teria normalmente, “pelo sangue ruim da sua vó” (como diz minha mãe), tem anos de amizade com o PABLO, o que traz muita sequela e danos psicossomáticos.

Quem tem parente diabético sabe que não pode machucar, é um trabalhão pra curar qualquer arranhão... Meu pai passou quase um ano pra sarar um ferimento no pé, quando sarou, PABLO resolveu fazer uma comemoração: Um dia no lago!

Quando eu vi a movimentação, falei “gente, mas não tá tendo piranha no lago, não?”; Pablo disse “isso é invenção do povo, Luisão!”, e meu pai “EM QUE TI-CHI-BUM QUE ESSE PLAYBOY FEZ NATAÇÃO DESDE CRIANÇA QUE PERDEU O COSTUME DE BANHÁ NO LAGO? QUE NUNCA VIU PEIX...”. O de sempre.

Nem precisava o lago estar com um surto de piranhas - o que estava - A PIRANHA PODERIA ESTAR NA MALÁSIA, QUE ELA VIRIA AO ENCONTRO DA NOSSA FAMÍLIA, JÁ QUE PABLO TEVE A BRILHANTE IDEIA DE COLOCAR A CHURRASQUEIRA NA ÁGUA.

Cada pinguinho de sangue ou gordura na água, era um convite, era um chamado para todos os seres das profundezas das águas se apresentarem. Era como gritar “VEM SATÔ numa mesa de tabuleiro ouija...

Não deu outra: em pouquíssimo tempo, uma piranha quase arrancou o dedinho da minha mãe, que saiu da água e ficou P* da vida na areia falando “vambora dessa desgraça dessa praia!”. Era o que qualquer pessoa normal faria... Não PABLO e Luisão!

Segundo PABLO, só tinha uma piranha na área, como ela já tinha comido o dedinho da minha mãe, ela não ia atacar mais... TUDO ISSO BASEADO EM ALGUM CURSO DE BIOLOGIA DO INSTITUTO UNIVERSAL BRASILEIRO - quem quer, consegue! Essa harvard do virginiano.

Meu pai... Confiou no PABLO, lógico! Até porque, você nunca vai ver minha família desistir de um passeio. NUNCA.

Não importa o que aconteça, minha família vai ficar no passeio até o fim. Uma vez, fomos num parque de diversões todo enferrujado e alguém caiu do chapéu mexicano e morreu. Todo mundo indo embora e meu pai perguntando pra moça do parque: “MAS, SERÁ QUE DEMORA PRA REABRIR?”.

Eu lembro de uma vez que meu povo tava bebendo num posto: Eu fui escalar uma torre de energia, tomei um choque, caí de muito alto, fiquei desacordado... Quando acordei, MINHA FAMÍLIA NÃO FOI EMBORA! Nada acaba com o rolê.

Voltando... Lá estava minha família na água infestada de piranhas. Minha mãe eliminada. Se fosse no BBB, a tv da minha mãe já estaria apagada, mas lá estavam os guerreiros modernos mantendo o passeio de pé a qualquer custo... É claro que o pior aconteceu.

Mesmo que não fosse acontecer, amado, minha mãe tava lá da areia com o olho de secar pimenteira mandando aquele reike do mal. TAVA LÁ FALANDO EM LÍNGUAS OCULTAS BEM BAIXINHO E OLHANDO PRO MEU PAI. NÃO TEM COMO DAR CERTO. ELA JÁ TAVA COM O “BEM FEITO! EU AVISEI!” TATUADO NA TESTA.

Uma piranha levou um senhor pedaço do dedão do meu pai. Pedação! Como não pode dar ponto em mordida de bicho, teve mil complicações... Até amputar o dedo! No dia da cirurgia, meu pai disse que minha mãe falou pra ele em tom de ameaça: “PORQUE VOCÊ NÃO ME ESCUTA, LUIZ? ...”

Minha mãe acha que ela é médica desde o dia em que ela teve acesso a um livro chamado “MEDICINA DE A a Z”. Mermão, não há nada que minha mãe não cure com essa Bíblia dos chás. Ela é capaz de discutir com os doutores da lei de qualquer Oxford, usando este único livro como base!

De modo que quando PABLO sugere qualquer tratamento alternativo pro meu pai, ele cria uma guerra com Mamãe. Não só por roubar o protagonismo curandeirístico dela, mas principalmente por estes tratamentos não constam nos seus estudos... E ela é muito cientista, ela.

Meu pai é cobaia da minha mãe pra tudo: Desde “vê se o molho tá ardendo” até “deixa eu passar esse creme em você pra ver se irrita a pele...” Agora mesmo, ela tá desenvolvendo uma pesquisa de óleos essenciais e coronavírus, coisa fina. Mamãe não aceita dividir a cobaia com PABLO!

Então, meu pai tá sempre fazendo algum tratamento que o PABLO descobriu, escondido da minha mãe. Entenda: Minha mãe é tipo mórmon e seu livro sagrado é o MEDICINA DE A a Z e nada lhe gripará!

O PABLO foi lá em casa com um homem que vendeu pro meu pai esse IONIZADOR DE ÁGUA. Foi caríssimo, mas segundo o homem curava “até câncer”. No interior, um remédio pra ser bom tem que curar câncer, no mínimo!

Não tinha nenhum embasamento esse “BASTÃO IONIZADOR”, mas eu lembro que o vendedor disse coisas impactantes como “COM A FORÇA DA TURMALINA” “ATUA NA ANTIOXIDAÇÃO DO SISTEMA MUNOLÓGICO” e principalmente “AJUDA NA SAÚDE DO HOMEM”. Tudo que é “saúde do homem” envolve ereção.

Meu pai colocou isso no filtro até enferrujar e começar a fazer mal pra gente.

Outro produto que Pablo e meu pai mergulharam de cabeça: O NONI, uma fruta que já traz no nome uma certa negação!

Não pense que isso era barato, o traficante de remédios do Pablo cobrava 150 reais por garrafada de suco fedido: O trem fedia tanto, que meu pai era proibido de abrir a garrafa dentro de casa! Tinha que tomar o remédio lá fora...

Só que o NONI foi um mercado que se reinventou igual a dengue. Quando os véi achou que isso aí não funcionava... veio o Noni com uva! AGORA SIM!!!

Quando cansaram do Noni com uva, veio o NONI PLUS! ESSE SIM! Se tem HBO PLUS, DISNEY PLUS, TU ACHA QUE O NONI NÃO IA LANÇAR SUA VERSÃO PLUS?

...E assim por diante! O mercado do Noni não morre, porque o NONI é o Latino dos remédios: Quando tu pensa que acabou, ele vem com uma nova versão e conquista tudo de novo!

Um dia, meu pai foi com o Pablo numa chácara muito longe buscar umas folhas pra fazer um chá pra remédio... Meu pai tava animado com o novo tratamento.

O dono da chácara não recebeu eles muito bem, devia ser desafeto do PABLO, meu pai disse que o cara era muito sistemático, pediu pra eles descerem do carro... PABLO pegou o remédio e foram embora.

Na volta, tinha uma blitz e PABLO ficou muito nervoso. A carteira dele tava vencida, meu pai se ofereceu pra trocar de lugar, mas PABLO explicou que esse era o menor problema: eles estavam com duas sacolas (do quarteto) cheinhas de folhas e mudas de maconha.

Aliás, esse diálogo é maravilhoso: - Luisão, se pegarem a gente, enquadra como traficante... - Por causa de remédio? - Até explicar que maconha é remédio... - Maconha? Que maconha? Cê não falou que isso era CANABIS? - Uai, Canabis é maconha! - E EU SEI DISSO DESGRAÇADO?!

EU VOU SABER QUE CANABIS É DROGA? EU ACHEI QUE ERA UM CHÁ, UMA RAIZ, UMA CASCA DE PAU... MEU DEUS DO CÉU! ME AJUDA DIVINO PAI ETERNO... “

Eu amo a possibilidade do meu pai ser preso como Zé droguinha. Eu ia curtir cada segundo dessa ida na cadeia... Eu ia dizer “parece que o jogo virou, né?”.

Porque eu nunca usei nada e meu pai sempre achou que eu era maconheiro. Toda vida meu pai, detetive que é (formado pelo Instituto Universal Brasileiro), batalhou pra me pegar no flagra igual o professor que procura padrinhos mágicos!

Meu pai ATÉ HOJE olha minha bolsa atrás de pontas, isqueiros... Na adolescência era pior, ele achava que eu não falava coisa com coisa e vivia de olho vermelho: Era depressão e niilismos.

Eles foram parados pela polícia, CLARO. Pablo começou a enrolar o policial, CLARO. Meu pai interrompeu o PABLO e confessou toda verdade, CLARO! HAHAHAHAHA

Eu soube dessa história pela minha mãe, meu pai não fala sobre isso, é tabu o dia de traficante por um dia dele. Diz minha mãe que, meu Pai chorou tanto que o policial teve que acalmar ele! “EU NUNCA MEXI COM ESSAS COISAS, EU NUNCA NEM VI...” HAHAHAHAHA

A mãe do policial também tomava, ele super entendeu. Meu pai parou de falar com o PABLO e nem quis tomar a erva com álcool. Minha mãe, que nem doente estava, tomou tudo e adorou.

Essa foi a vez que eu pensei “PABLO tocou na honra de Papai, acho que essa amizade acabou”... ATÉ PARECE! O record de briga deles é uma semana, no máximo!

Na semana seguinte, PABLO já estava lá novamente sugerindo um tratamento super bizarro: Você retira seu próprio sangue e você mesmo reaplica seu sangue em você mesmo, devolvendo seu sangue para a sua corrente sanguínea. Uma espécie de “pesca esportiva” de vampiro, não sei.

Engraçado é quando meu pai tem alguma melhora. Ele tá envolvido em tantos tratamentos que nunca dá pra saber o que ajudou. Vira uma briga de egos científicos: Minha mãe corre pra publicar na Science as novas propriedades do Boldo; PABLO corre pra encomendar mais seringas e Noni!

PAPAI É UM SOBREVIVENTE

Ou seja: Na melhor das hipóteses, o PABLO ainda vai meter meu pai em algum crime e destruir minha carreira. Eles estão trabalhando incansavelmente pra isso.

Hoje eu gostaria de falar sobre uma fase que durou muitos anos na história de #PabloeLuisao, fase que eu resolvi nomear de a FASE SITCOM!

Nessa época, meu pai começou a fornecer salgado pra muita gente e, pela primeira vez, as coisas estavam indo bem! PABLO, como sempre, trabalhava com meu pai que o nomeou gerente. Sabe quantos funcionários tinha na fábrica pra PABLO gerenciar/mandar? Dois: Eu e minha mãe.

O título de “gerente” deu ao Pablo um total de 0 reais de aumento e nenhum respeito entre os colaboradores. Mesmo assim, desde o dia em que ele recebeu o título, nunca mais foi o mesmo no ambiente de trabalho e passou a ir trabalhar de camisa social e óculos Juliet.

A fábrica era na minha casa, de modo que, eu dividia o quarto com o meu irmão e também com sacos de farinha de trigo e fardos de óleo.

Era muito confuso, pois, PABLO mandava na fábrica... Mas minha mãe mandava na casa! Bingo! O fogão de fazer almoço e recheio de coxinha era o mesmo.

PABLO - Dona Conceição, descasca a batata pro pastel de carne? Conceição - Eu vou bater a massa, descasca você! PABLO - Sim senhora. Era gerente decorativo, coitado.

Meu pai resolveu contratar um único funcionário para o Pablo mandar, é nesse momento que surge uma das personagens que eu mais amo nessa fase: SEU JUSTINO!

O que falar de Seu Justino? Uma das pessoas mais maravilhosas do mundo. Seu Justino era um maranhense de mais de 50 anos, preto, de aparência rude, forte como um touro (sovava 10kg de massa na mão), casado, pai, hétero e absolutamente afeminado.

Ele era exatamente igual ao Bita de Barão.


Seu Justino não falava NHA e NHE, como bom maranhense do interior falava COXINEA, VINEO (vinho), MARANIÃO... amo! Ele também alongava todas as frases com um M imaginário, tipo: DONA CONCEIÇÃOUMMMMMMMMMMM... Ressoava como um sino.

Todas essas características, mais um humor afiado e um deboche que só as puta de BR sabem fazer, fazem de Seu Justino um perfeito amigo/aliado/parceiro/muso de quem?

Exatamente. O plano do meu pai deu errado. Seu Justino tinha trabalhado anos em hotéis e restaurantes chiques, o que lhe dava embasamento pra rejeitar tudo no PABLO e amar a arrogância de Mamãe! Foi amor a primeira vista! SEU JUSTINO e MAMÃE viraram mais amigos, pai e filha.

A vida de PABLO era odiar SEU JUSTINO, e a vida de Seu Justino era irritar o Pablo. Ele vivia pra isso. Se ele soubesse que uma coisa tava dando choque, mandava o PABLO pegar nela... Pablo levava choque e ele “TOMÔ PABLUMMMMMM? HIHIHI” e sempre ouvíamos de longe “VÉI DESGRAÇADO!”

SEU JUSTINO era aluno do MOBRAL, então, tudo que ele aprendia na aula, repercutia no dia seguinte: “PABLUMMMM, TU SABE QUAIS DESSES TRANGULUMS SÃO OBTUSÂNGULUMMMMMS?” e PABLO “o triângulo do teu cu” e em seguida “TEM QUE VOLTAR PRA ESCOLAMMMM, TÁ BURRUMMMM” ... “VÉI DESGRAÇADO!”

Usando toda sua experiência internacional, que se resumia em: Já ter visto muitos gringos (Sim, isso mesmo, isso é tudo), SEU JUSTINO colocava sempre uma palavra em inglês ou chique pra batizar suas criações. Suco congelado? “ISSO AQUI É UM GELICE” (mistura de Gelim com ice)

Esqueci! TUDO tinha o sobrenome “DELICIAMMMMMM” então, era “GELICE (gelaice) DELICIAMMMMM”. As coxinhas que seu Justino fazia, eram as “COXINHAS DELICIAMMMMMMS” e os pastéis “PASTÉIS DELICIAMMMMMS” e assim por diante...

Seu Justino batizava todos os novos salgados da fábrica junto com a minha mãe. Então, era maravilhoso ver os vendedores de salgado explicarem na rua: “ESSE AQUI É O CHEESE DELICIAMMMMM, que é salgado de queijo!”.

Os salgados que PABLO inventava não tinham o sobrenome “DELICIAMMMMM” e era maravilhoso ver como isso doía no PABLO, um homem de 35 anos! Ele queria que os salgados dele tivessem o sobrenome delícia, mas esse era um título que só Justino tinha a patente.

Um dia, Pablo estava mostrando um salgado novo que ele tinha feito: - Essa é a torta de frios delícia... E Seu Justino gritou “NÃO PABLUMM, ESSA NÃO É DELICIAMMMMMM” E Pablo ficou triste.

Na real, todo mundo é só uma criança no recreio querendo ser aceita e amada.

PABLO, por sua vez, sacaneava as orelhas de abano de seu Justino e seu jeito peculiar de andar de bicicleta: Seu Justino não sabia começar a andar com a bicicleta parada, então ele se sentava no banco e ia andando com as pernas abertas até começar a correr e pegar embalo.

Parecia uma ave enorme e desajeitada. Todo dia, na hora de Seu Justino ir embora, PABLO e meu pai o acompanhavam dando uma pequena corridinha e gritando: VAI VOAR! VAI VOAR! VAI VOAAAAAAAAAAAAAAAAAAAR!

Entendam, Seu Justino não é vilão, ele só amava demais uma única pessoa: MINHA MÃE. Pela primeira vez na vida, estava empatado.

Na fábrica, tinha uma despensa muito pequena onde ficava a fritadeira. Só cabia uma pessoa e a porta tinha um defeito: Não podia fechar! Se batesse a porta, não tinha como abrir por dentro. (Vai guardando essa informação...)

Toda vida nós usamos a farinha de trigo Rosa Branca, que era boa e barata. Surgiu uma baratíssima chamada LILI. Essa Lili até dava pra fazer pastel... Mas coxinha, que é uma massa mais delicada, não dava! Se não dava pra fazer coxinhas normais, imagine as coxinhas DELICIAMMMMS?

PABLO levou uns 10 quilos pra gente testar. Horrível! “PABLO, não compra!” O que Pablo fez? Comprou 4 sacos de 50 Kg! Meu Deus...

Mermão, ao colocar a coxinha no óleo, elas simplesmente CORRIAM ATRÁS DE VOCÊ!NÃO SEI O QUE ACONTECIA, ELAS SALTAVAM DA PANELA NA SUA DIREÇÃO! ELAS PEGAVAM IMPULSO E SE LANÇAVAM AO TETO E FICAVAM DEPENDURADAS, ELAS EXPLODIAM E JOGAVAM LAVA QUENTE DE RECHEIO DE FRANGO NA SUA CARA!

Pra fritar as coxinhas, tu precisava vestir moletom e usar uma tampa de panela gigante como escudo entre você e a fritadeira. Depois de um mês lutando igual Dom Quixote, Seu Justino armou sua vingança...

PABLO pediu pro seu Justino fritar algumas coxinhas, Ele disse “FRITA TU QUE EU TÔ NO MEU HORÁRIO DE ALMOÇUMMMMMM”. Pablo colocou as benditas coxinhas no óleo e quando as bombas começaram a chiar pra explodir, seu Justino foi lá e bateu a porta!!!

(POW!) VÉI DESGRAÇADO ABRE ESSA PORTA! (PÊI! ) AI! EU VOU TE MATAR VÉI VIADO! (BUM!) VÉI DESGRAÇADO! AI! DESGRAÇA! VÉI MALDITO! AÍ! E seu Justino “TOMÔ PABLUMMMMMMM! HIHIHI! ESSA FARINHA LILI É BOAM NÉ? COMPRA MAIS DELAMMMMM!”

Essa fase se chama SITCOM porque todo dia era uma aventura com início, meio e fim, arcos dramáticos que se repetiam, bordões e: ENTRADAS!

A fábrica ficava em um terreno aberto, sem muro. Na rua ao lado ficava um “hospício”, todo mundo que ia se consultar lá, parava lá em casa! Era a boa e velha CURVA DE RIO! Eu e meu irmão brincávamos de aplaudir os personagens que entravam, como em uma SITCOM!

Todo dia tinha personagem novo, mas os personagens fixos eram os nossos favoritos!

Tinha o DILSO, o doido favorito do meu pai. DILSO entrou pra família, chegou a morar lá em casa um tempo... DILSO chamava meu pai de “Tio” e tinha prestígio e autoridade diante dos outros doidos.

DILSO tinha até bordão. Era só não dar o que ele pedia, que ele te ameaçava com o fato de que um dia compraria uma arma. Era engraçado porque “quem venderia uma arma pra um doido?”... 2020... DILSO era doido naquela época, hoje seria um homem do seu tempo.

DILSO apontava na rua. Seu Justino - Ó O DOIDUMMMMM... Eu e meu irmão aplaudíamos Dilso - Tio, me dá essa bicicleta? Luisão - Já chega pedindo, não fala nem bom dia? Dilso - Bom dia... Me dá? Luisão - NÃO! BORDÃO:

Outro bordão do DILSO era: EU NÃO SOU DOIDO, EU SOU É DA BAHIA!

PABLO ficou muito amigo de um enfermeiro que fazia a guarda do hospício, esse cara contou quase tudo que sabíamos da vida do DILSO. A família não cuidava... Meu pai adotou DILSO pra vida dele. Quando Dilso internava, Pablo e meu pai dividiam o turno no hospital.

Nessa época, a gente tinha uma Arara como animal de estimação, a Rosa...Tinha uma doida que todo dia sentava debaixo do pé de goiaba e conversava com a Arara como se ela fosse um anjo: “HEN, ME AJUDA ANJO GABRIEL, FALA COMIGO ANJO...” E o anjo Gabriel respondia “DÁ O PÉ!”

Tinha também uma ex cafetina que achava que minha mãe era puta dela: Ela chegava e falava “Ê, RAPARIGA! VAI FAZER UM CAFÉ PRA MIM!”. Minha mãe odiava essa mulher, bateu boca com ela várias vezes, mas meu pai sempre falava “Vai brigar com a doida, Ceição?”. Sim, minha mãe ia.

Minha mãe é o tipo de pessoa que briga com doido, debate com criança e morde em cachorro. Juro: Na nossa rua tinha um cachorro que todo dia mordia minha mãe, ela falava com a dona mas não resolvia nada... Um dia ele mordeu minha mãe, ela correu atrás dele e o mordeu de volta!

A imagem é esta: Minha mãe com os dentes no rabo do cachorro. O cachorro “Caimmmmmmmm” E minha mãe “PRO CÊ VÊ O TANTO QUE É BÃO...”

Minha família e minha história só podem ser lidas aos olhos do humor. Se for ler aos olhos do que é certo, é tanta coisa errada que o cancelamento é inevitável.

Uma vez, a ex cafetina fez uma coisa maravilhosa! Pediu um suco pro meu pai, ele disse “não tem suco pronto, quando tem eu dou”. Ela pediu dois reais, meu pai deu; Ela se virou pra minha mãe, deu 1 Real pra ela e disse “Ê RAPARIGA, VAI LÁ FAZER UM SUCO PRA MIM QUE EU TÔ PAGANDO!”

Entendeu o que essa GÊNIA fez? Ela empreendeu. Ela chegou no objetivo, ela comprou mercadoria mais barata, ela economizou, ela teve lucro, ela é praticamente o espírito natalino do Partido Novo CARAI!

PABLO e o enfermeiro/guarda (nunca soube direito como era essa função) ficaram grandes amigos. O enfermeiro passava horas lá em casa, vai ver que era por isso que os pacientes tavam tudo solto... rs.

Quando o enfermeiro apontava, eu e meu irmão aplaudíamos e seu Justino falava: O NAMORADO DO PABLUMMMMMMM... “VÉI DESGRAÇADO!”

Seu Justino que me ensinou uma brincadeira de trava véia que eu faço até hoje: dublar as pessoas da rua! Enquanto eles falavam de futebol, a gente tava “PABLO FLORINDA!” “QUE PRAZER O SENHOR POR AQUIMMMM” “EU TROUXE ESSA INJEÇÃO PRO SENHOR” “ENTRA PRA COMER MINHA COXINHAMMM”

Um dia, a gente começou a escutar uns gritos “SOCORR TIO! ME AJUDA TI!”. Meu pai achou parecido com a voz do Dilso, fomos atrás dos gritos e, pasmem, encontramos O ENFERMEIRO BATENDO NO DILSO! Pablo e meu pai voaram em cima do cara!

Enquanto isso, Dilso tava revoltado com a demora na assistência “EU GUITEI, GUITEI ‘tio!’ ‘Tio’ E O TI NÃO VINHA...”

Descobrimos que o enfermeiro batia no Dilso. Fomos no hospício denunciar! Minha família tem essa mania, nunca vai um, vai sempre um monte de gente! E sempre tem um sujo de farinha de trigo, minha mãe cheia de prendedor na blusa pq tava lavando roupa, a barriga molhada do tanque...

FOMOS EXIGIR A EXONERAÇÃO DO PROFISSIONAL ENFERMEIRO E GUARDA QUE BATIA NOS INTERNOS! JUSTIÇA! JUSTIÇA! JUSTIÇA!

Foi então que descobrimos que o cara não era guarda de lá, nem enfermeiro, era paciente! Ou melhor: ele era interno! O Dilso podia sair, ele não! Ele fugia e ia lá pra casa...

Seu Justino, imediatamente: “AI MEU DEUS, PABLUM CONVERSOU UM ANO COM O HOMI E NÃO VIU QUE ELE ERA DOIDUM? ACHO QUE O DOIDO MAIOR É O PABLUMMMMMM!” “CALA A BOCA VÉI DESGRAÇADO!” “NÃO VÃO TE DEIXAR SAIR DAQUI NAUMMMMMM”

Essa é uma das minhas fases favoritas da nossa vida. Amo a fase SITCOM! Amo os amigos doidos e Seu Justino que me apoiaram na fase difícil que é a pré adolescência... Seu Justino, Pablo, os doidos, Dilso, a Arara... Como diz meu tio Brasa, “NÃO ERA UMA CASA, ERA UM ECOSSISTEMA!”.

Gostaria de presentear vocês com a informação de que meu pai e Pablo estão com o carro parado em alguma cidade no interior do Tocantins. Eles foram pra lá fazer negócios (o novo negócio que ainda vou contar) e o carro do PABLO não aguentou a emoção.

A ideia era chegar em casa hoje 6 da tarde... Parece que, no melhor dos cenários, chegarão manhã à noite.

No dia mais claro, na noite mais escura, nenhum mal escapará a minha visão! Que aqueles que adoram o poder do mal, temam o meu poder ... A LUZ DO LANTERNA VERDE E DE PABLO E LUISÃO... COMEÇA AGORA!

Essa é minha vida. TEM QUE RIR PQ SE FOR CHORAR NÃO PARO MAIS. Espero que vocês tenham tido paciência de chegar até o final.

Compartilha aí pra esse trabalho não ficar de graça!

Por hoje é isso. Volto qualquer dia!

Paulo Vieira


Twitter : @PauloVieiraReal

https://twitter.com/PauloVieiraReal/status/1300245513732788226

Imagem: https://twitter.com/PauloVieiraReal/status/1552700175637954560 

PDF: https://drive.google.com/file/d/100OQRN0yqMasvNjKLtbgPyRQFRhdQVNz/view?usp=sharing

Acesso 13/01/2022 e 29/07/2022





domingo, 9 de janeiro de 2022

Meu Tio Zé - Paulo Vieira

 Meu Tio Zé - marido de Tia Vera- morreu. Vim no velório e, pra não ficar só chorando, trago a cobertura.


Primeira treta: Tio Vardo quer colocar uma garrafa de pinga dentro do caixão: - Nós combinamos um dia que quem ficasse vivo ia botar uma garrafa de pinga no caixão do outro! - Mas ele virou crente depois, Tio! -PROMESSA É PROMESSA! EU VOU BOTAR!!! confusão. viúva passa mal.


ERA CRENTE MAIS NÃO SEGUIA, ASSIM DIREITO NÃO! BEBI COM ELE ESSES DIAS! ERA UM CRENTE MUITO DO SAFADO!” visitantes chocados que minha família fala mal do morto na cara do morto mas o argumento foi bom resultado: tá lá a garrafa de pinga. vai com ele


Agora eu fico pensando no meu tio chegando no céu, BEM CRENTE QUE É CRENTE, e Deus fala: - E essa garrafa de pinga aí? Meu tio - QUÊ?! NÃO É MINHA! BOTARAM NA MINHA BOLSA PRA ME INCRIMINAR! É tipo botar um 38 escondido na mala de quem vai passar no raio X


Eu vim, atendendo a todas as expectativas da minha família, bem famoso, bem de preto, casaco e óculos. Minhas primas tão tudo de SHORTÍNEO jeans e rasteirinha. o look de churras e velório é o mesmo aqui em casa. Amo.


Num raro silêncio, o telefone do meu primo tocou. Era o chefe dele. Atendeu bem solene: - Ô seu Clovis, eu tô aqui no velório do meu pai… imediatamente toda família começou a gritar Ô MENTIRA, TAMO AQUI BEBENDO CERVEJA! PARA DE MENTIR E CHAMA ELE PRA COMER CARNE ASSADA!


Vovó chegou com a perna nova e ENZO, meu primo demônio, tá dando birra porque quer botar a perna da minha vó nele.

Tô escrevendo esse fio pro meu irmão @ze_vitorio que não conseguiu vir. Esse fio é tudo que a gente ia tá comentando nos canto.


Fim do café. Vou lá velar, chorar e falar “quem fica é quem sofre”. próximo café eu volto.


Minha vó: “QUANDO EU MORRER EU QUERO QUE MEU CAIXÃO RODE A CIDADE TODA TOCANDO DI PAULLO E PAULINO”


ENZO dependurou no caixão. Minhas primas foram reclamar com a minha prima mãe do ENZO. No mesmo prazo, as crianças dessas mães que foram reclamar do ENZO derrubaram as coroas de flores brincando de pique-pega. MÓ BARULHÃO


Rolou um feirão da surra própria onde umas quatro mães se revezaram pra bater numas 25 crianças. Foi a única hora que as crianças se emocionaram. MEU DEUS COMO TEM CRIANÇA NESSA FAMÍLIA!


Rolou um almoção. Eu não como em velório (pq tenho nojo), mas meu primo comeu praticamente em cima do caixão então pude ver o cardápio: ARROZ FEIJÃO FRANGO DE MOLHO E MACARRÃO GROSSO (SABE AQUELE DA GROSSURA DE UM CANUDO DO BOBS? É O BRABO!)


deu problema pq minha prima Flaviana chegou só 2H da tarde, bem de óculos, bem arrumada, bem banhada, bem fresquinha, bem contrastando com todas as outras primas suadas e destruídas pelo sofrimento; Chegou cheirosa, olhou pra cara de todas e disse “UAI, NINGUÉM FEZ ALMOÇO?”


Eu já vi muita gente chegar fazendo inimizade, mas assim, com TODO MUNDO AO MESMO TEMPO NA PRIMEIRA FRASE é só pra grandes gênios do caos como minha prima Flaviana! No candy crush da inimizade, ela na primeira jogada explodiu toda doçura da família e ouviu DELICIOOOOOOUS


FLAVIANA CONSTRUIU A CASA DELA EM CIMA DE UM CEMITÉRIO INDÍGENA E NUNCA MAIS TEVE PAZ! Só se falava nela, só se apontava pra ela. - se for pensar bem, ela quem matou titio de raiva! (uma prima mais raivosa tentou emplacar essa fakenews)


MARGINALIZADA, DESAPLAUDIDA, FLOPADA… VIROU O CAIM BRASILEIRO COM A MARCA MALDITA. Tava todo mundo chorando, se Flaviana chorava todo mundo parava de chorar pra julgar: “Ó QUE BIXA FALSA! SE GOSTASSE ASSIM DO ZÉ TINHA VINDO DE MADRUGADA E NÃO 2 DA TARDE…ATRÁS DE ALMOÇO….”


MOMENTO CLÁSSICO NO INTERIOR: O carro de som (o mesmo da pamonha) sai pelo bairro anunciando o velório, o que traz um monte de desconhecido falando “VI O ANÚNCIO E VIM VER SE EU CONHECIA”… - Ele morou aqui mesmo? - Muitos anos. Ficava muito naquele bar alí - é… CONHEÇO NÃO


Chegou um senhor meio ofegante. Era bem velho, esguio, tava soado e com a calça suja de terra pra dentro das botas. Parecia ter largado a inchada no chão e corrido pra lá. Tirou o chapéu e botou no rumo do peito. Fui receber: - O senhor conheceu? - Era meu melhor amigo.


Esse senhor me quebrou demais pq se tem uma coisa que é importante pra mim é isso. Fiquei pensando nos meus amigos enquanto ele falava do tio que eu não conhecia: “quando a gente era solteiro…” “aí quando ele conheceu a Vera nóis fez a primeira casa que ele morou”


aí o mais velho dele nasceu e eu fiquei no bar na porta do hospital esperando. Ele me xingou tudim pq eu não entro em hospital nem…” “ele chegou e falou ‘compadre, vou mudar pro tocantins’ e eu disse se vai ser melhor então vai” “ele toda vez que vinha batia lá na chácara”


gostava de uma jurubeba lerda! ia lá em casa e cabava com um vidro só numa sentada” “falou que quando sarasse ia lá em casa tomar uma” “veio se tratar e eu fui lá no hospital ver ele, quando eu entrei no quarto ele chorou até. Eu chorei também que é muitos ano de amizade”


e aquele homem podia montar sozinho o quebra-cabeça da vida do meu tio Zé... confirmei: A AMIZADE É O MAIOR DE TODOS OS SENTIMENTOS.


Era dia de reis. Meu tio era palhaço de folia de Reis. Inclusive é a primeira lembrança que eu tenho dele: Rezando atrás da casa antes de botar a máscara. Este senhor com quem eu conversava era a dupla dele na folia. Ou como ele chamou: Na irmandade.

Mesmo crente convertido, meu Tio nunca largou a folia de reis (Tio Vardo tinha razão), o amigo tirou de uma sacola a bandeira da folia e estendeu no caixão.


Teve quem foi perguntar pra tia Vera se não era falta de respeito, ela sempre sábia: “JÁ TEM PINGA NO CAIXÃO… NÃO VAI SER SANTOS REIS PIOR QUE UMA PINGA, DEIXA BOTAR”


Estávamos lá ouvindo o barulho da chuva “chiiiiiiiiiiii” quando ele começou a se ritmar “chi chi chi// chi chi chi” o som que faz quando um cabo de vassoura com tampinha de cerveja amassada na ponta bate no chão e entrou um tambor uma sanfona viola e palhaços a folia


só um palhaço de folia de Reis poderia ter um funeral tão nobre no melhor sentido da palavra nobre não nobre como ouro nobre como abraço de amigo não nobre como talheres de prata nobre como as flores de chita na bandeira do divino nobre como um aboio nobre de verdade


Enquanto via o salão comunitário e o caixão da prefeitura se transformarem, respectivamente, na capela sistina e na cama de um rei; Olhei pros meus parentes e pensei: Nessa família falta muita coisa, mas sempre sobra alimento pra minha alma.


Obrigado por sua existência, Tio


Fonte: Twitter @PauloVieiraReal 06 jan 2022

Acesso 09/01/2022

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