«Honrado» é uma palavra elastica com que se costuma distinguir:
Os grandes banqueiros fraudulentos.
Os «valentes» generaes, sugadores das quantias applicadas ás despezas da guerra.
Os ministros sorvedores das verbas eventuaes.
Os deputados e senadores, enxertantes da lei do orçamento, em proveito da «abençoada barriga».
Os magistrados, negociadores de sentenças.
Os commerciantes, usurpadores da fazenda alheia.
Os advogados que aconselhão pro e contra na mesma causa.
Os enviados e negociadores diplomatas, sacrificadores da honra e dignidade nacional.
Os «grandes» estadistas, cerceadores das liberdades individuaes.
Os «abalisados» financeiros, naufragadores da riqueza publica.
Os assassinos da honra e da paz das familias.
O chefe e empregados de uma repartição relaxada.
Os padres devassos e corruptores dos dogmas e costumes religiosos.
As authoridades invasoras da lei e da justiça.
Os «extrenuos» politicos, arranjadores de eleições á ponta de bayoneta.
O militar que na campanha paga «conscenciosamente» o pret dos seus soldados.
O «economico» prezidente, que com mais franqueza esbanja os dinheiros da Provincia.
Finalmente:
O povo que não sabe d’uma estupida inercia para reagir contra a desmarcada preponderancia e arbitrariedade dos regulos que o governão.
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Lythotypo de H. Schroeder
Fonte: Cabrião: semanário humorístico editado por Ângelo Agostini, Américo de Campos e Antônio Manoel dos Reis: 1866-1867. Ed. fac-similar/introdução de Délio Freire dos Santos. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado: Arquivo do Estado, 1982, p.341.
Reprodução fac-similar do original de 51 fascículos, publicado em São Paulo no período de 30 de setembro de 1866 a 29 de setembro de 1867.