sábado, 27 de maio de 2017

SEARA: UM FESTIVAL INOVADOR (Edson Otto)



Ao aproximar-se a realização de mais uma edição da SEARA, naturalmente me vêm à lembrança os fatos que fizeram com que o festival de Carazinho surgisse e quase de imediato se transformasse num dos melhores e maiores acontecimentos anuais da música regionalista gaúcha.

O primeiro a me falar sobre a possibilidade da realização de um festival em minha terra natal foi o Luiz Araújo, cunhado do Rillo, que deixara “Os Angueras” e São Borja para alçar-se mais em sua carreira no Rádio, acolhendo proposta da Rádio Carazinho, onde continua até hoje. Cabreiro e cheio de voltas ele chegou, em certo dia cuja data nem me lembro, na antiga sede do IGTF, na Rua Sarmento Leite e assim como quem não quer nada foi desatando a ideia, que julguei inviável, em princípio.

Não demorou muito e foi a vez do Aylton Magalhães, então gerenciando a Rádio Carazinho, quem me procurou, de forma bem mais precisa e insistente. E como todas as objeções que eu ia colocando eram refutadas com veemência, senti que da sondagem inicial feita pelo Araujo, à segunda abordagem que me fazia sobre o assunto o Aylton, ganhara corpo e consistência a ideia da realização do festival em Carazinho e que ele sairia com ou sem a minha ajuda. E resolvi, de forma matreira, condicionar meu apoio e o do Instituto mediante algumas condições que em seguida coloquei, de forma até certo ponto impositiva. E como o Aylton concordasse com elas, fortaleceu-se a iniciativa. Logo depois surgiu a         SEARA, que de pronto posicionou-se como um festival interessado, realmente, em valorizar e, mais do que isso, reconhecer o valor dos autores, compositores e intérpretes musicais, transformando, em Carazinho, os verdadeiros “fazedores dos festivais” como personagens mais importantes do evento.

Já naquela época – seis anos passados – dificilmente havia alguém, no Estado, que tivesse acumulado tantos conhecimentos e experiências quanto eu havia amealhado desde o período que antecedeu ao próprio surgimento da Califórnia da Canção Nativa, em cujos lances iniciais tive alguma participação, como Secretário que era da Estância da poesia Crioula.

Esses conhecimentos e experiências, aliados àqules que possuía a equipe do IGTF foram todos voltados para a SEARA, o primeiro dos festivais a aceitar uma participação mais estreita do órgão estatal na elaboração de normas que se voltassem para a realização de um festival que mostrasse à evidência o desenvolvimento da música regional rio-grandense, e permitisse a presença de suas tendências mais evolutivas, sem, contudo, desfigurar suas origens, sem fugir de suas raízes.

Os esforços dos meus conterrâneos foram largamente compensatórios, pois ninguém, no Estado, desconhece que a SEARA é primorosa na organização, séria e absolutamente honesta na sua realização e que assumiu uma nova forma de comportamento com aqueles que são, realmente, os mais importantes em qualquer evento musical: os criadores e difusores da música rio-grandense.

O exemplar tratamento dispensado aos autores, compositores e intérpretes instrumentais e vocais desde sua primeira edição e o convívio salutar, indiscriminado, entre organizadores, comissões julgadoras e participantes do festival, fizeram com que a SEARA assumisse imediatamente um lugar de destaque no cenário festivaleiro gaúcho e tivesse, em seguida, seguidores, gerando, em consequência, melhoras sensíveis em diversos outros eventos similares.

Verdadeiro laboratório de ideias, a SEARA inovou consideravelmente em diversos aspectos regulamentares e na forma executiva dos festivais, sendo que das inúmeras experiências colocadas em prática, todas aquelas que resultaram positivas foram repassadas, através do IGTF, aos demais festivais gaúchos.

Preocupada em defender a classe musical, a SEARA, a partir de 1984 criou, paralelamente ao evento, um encontro cultural que se denominou “Chamamento Cultural da SEARA”, no qual os principais problemas da classe passaram a ser discutidos. E o próprio ACORDE BRASILEIRO – SEMINÁRIO NACIONAL EM DEFESA DA MÚSICA REGIONAL BRASILEIRA a realizar-se de 11 a 14 de dezembro próximo em Tramandaí, promovido pelo IGTF e pela municipalidade daquela comuna é, em grande parte, resultante dos debates acontecidos em Carazinho.

A SEARA cresceu com a ajuda de muitos e aqueles que a fizeram devem lutar para mantê-la no pedestal onde se encontra, impedindo que o “Chamamento Cultural” desapareça e que ao seu palco compareçam, nos espetáculos programados, apenas aqueles que efetivamente têm dado uma profícua colaboração e conteúdo à nossa música, coisas que, infelizmente, por falta de maiores cuidados do grupo dirigente, em Carazinho, não acontecerão este ano, mas que serão, certamente, resgatados na próxima edição.
Fonte: Revista Tarca – Cultura Gaúcha – ANO III – Nº 16 (Ago/Set/Out/1986) – p. 34

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