Quem
convivia conosco no início dos anos 1980 aqui pela capital, frequentando bailes
do Piquete Tropilha Teatina e as Pulperias da vida, lembra de uma parceria
quase que familiar entre Elio da Rosa Xavier, o Porca Véia, e Cláudio Damásio
Pacheco, o Kako Pacheco – o cara da Festa do Ridículo de Belém Novo.
O
causo de hoje reúne os meus dois personagens, o Kako e o Porca, em uma viagem
por uma estrada de chão batido – e bota batido nisso. Acho que a Ivete Sangalo
passou por ali antes de gravar “Poeiraaaa”.
Já
tinham rodado mais de duas horas e bateu a sede. Avistaram lá no horizonte um
bolicho caindo os pedaços. Pediram para o motorista parar o carro e desceram. O
dia estava quente como frigideira sem cabo e a sede estava pelo corpo inteiro,
como diria meu compadre Paulo Cardoso. Quando entraram, avistaram sobre o
balcão uma vela acesa e um Nêgo Véio atendendo, com um palheiro na boca e lendo
um jornal local. Nêgo Véio adora um jornal da cidade, para fazer as palavras
cruzadas. Os dois olharam em cima do balcão. Duas garrafas de cerveja, quase
fervendo – mas sem luz o que é que vai se fazer?
Pediram
para o cara:
-
Abre uma dessas para nós, meu amigo.
O
cara destampou aquela cerveja e, mesmo quente, os “loco” se atracaram, tomaram
aquela e pediram a segunda, pois quem toma uma quente toma duas, e meteram
aquele troço espumando goela abaixo. Olharam para o bolicheiro, que continuava
lendo o jornal e mascando aquele palheiro, e falaram:
-
Cerveja não temos mais, parceiro?
O
Nêgo Véio levantou a cabeça, cuspiu no chão e lascou:
-
Tem sim. Mas é que as outras estão geladas lá nos fundos, na geladeira a
bateria!
Os
dois caíram na gargalhada, tomaram mais duas e foram embora. São personagens de
uma vida real e amigos para sempre, o Kako e o Porca!
Fonte: Causos do Nêgo Véio. Neto Fagundes, 1 ed.
Porto Alegre, RS: Artes e Ofícios, 2016.
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