quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

VÉSPERA DE NÃO (Dirceu Villa)


preso à minha classe, eu vejo as grades da prisão:

a reprovação do crédito, a reprovação da renda, os

bairros assinalados onde sobreviver, as roupas que

se gastam no corpo, e que prosseguem nele, gastas.



o espaço mínimo que me cabe de vida e trabalho, a

voz que não se projeta além dos confins prescritos

na certidão de nascimento, a educação consentida

que indique com clareza os limites de circulação, os



embates que herdei na ferocidade domada do sangue,

na consciência do destino, no cuidado da ração e no

domínio da força em exercício, estoico de incontáveis

perdas no silêncio mordido, no sorriso, véspera de não.


Fonte: Revista Piauí, ed. 171, dezembro 2020

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