quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Prejuizos Populares (Cabrião)

 

Quando o gallo canta de dia, é máo agouro, e se canta ás deshoras é signal de casamento.


Quando sáhe o Senhor e muita gente o acompanha, o doente não escapa.


Virando-se um banco de pernas para o ár, treme o inferno.


Quando canta a coruja nas proximidades de uma habitação, é signal de morte. Para matar a ave agoureira, basta virar um tamanco.


Quando um cão esgravata o sólo, é signal de que alguma sepultura tem de ser aberta.


Quando uma mulher tem difficuldade de dar á luz, deita-se-lhe na cabeça um chapéo de homem, e a criança nasce logo.


Para evitar a palestra de algum amolador, espeta-se uma thesoura na parede.


Desejando-se que haja chuva, mata-se um sapo; e para fazel-a cessar, é bastante fincar um espeto n’um cinzeiro.


Para evitar o contagio das molestias, pensam os roceiros, que não ha nada como queimar aquella cousa de vacca.


E’ mister guardar com muito cuidado o umbigo das crianças, porque se algum rato o come, ficam ladras.


Para que os recem-nascidos não sejam chupados pelas bruxas, faz-se um signo de Salomão na porta do aposento.


Se chove e ao mesmo tempo faz sol, é que a rapoza se está casando.


Quando ha eclipse do sol, rufa-se em caixas, para espantar o leão que está comendo a lua.


Na noite de S. João, quem rezar o Padre Nosso e o Credo, póde passar descalço, por cima de um brazido sem se queimar.


Se um rapaz tenciona casar-se com certa dama, na mesma noite planta um dente de alho; se este bróta no dia seguinte, o casamento é infallivel.


O vestido do noivado, nunca deve ser tinto de preto, porque se o tingem, morre a noiva.


E’ de mau agouro dormir com os pés voltados para a rua.


Não se deve varrer a casa de noite e atirar o cisco fóra, porque enxota-se a fortuna.


Vestir roupa pelo avêsso, livra da mordedura de cão damnado.


E quem lêr tudo quanto fica escripto, váe para o céo direito que nem um fuzo, ainda que os jesuitas não queiram.




Fonte: Cabrião: semanário humorístico editado por Ângelo Agostini, Américo de Campos e Antônio Manoel dos Reis: 1866-1867. Ed. fac-similar/introdução de Délio Freire dos Santos. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado: Arquivo do Estado, 1982, p. 39.


Reprodução fac-similar do original de 51 fascículos, publicado em São Paulo no período de 30 de setembro de 1866 a 29 de setembro de 1867.

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Rodovias Gaúchas com alteração de Fluxo - CRBM, DAER e PRF

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