terça-feira, 15 de março de 2022

Estilac (Diário de Cecília, 1926)

 

Domingo, 18 de julho


O Adalberto Corrêa esteve contando umas coisas que me deixaram muito triste.


Tendo ido a Buenos Aires, há poucos dias, ele encontrou o Estilac lavando autos numa garagem.


Com este frio, ele estava de pés no chão e tinha as calças rotas nos joelhos.


Outros companheiros estão na mesma situação de dificuldades.


Por sua vez, os marinheiros do couraçado São Paulo passam ainda pior. Alguns tiveram congestões pulmonares, com hemoptises, havendo casos de morte.


Quatro procuraram o Adalberto, para conseguir dinheiro, a fim de poderem ir embora de Montevidéu, onde não há empregos nem para os castelhanos.


As passagens custam doze pesos até a fronteira (Artigas ou Rivera).


O Adalberto ficou com pena e apelou para o Rubens, o Ciro, o Pipa Collares e o Câmara Canto. Deram dez pesos cada um, mas ficaram faltando dez pesos. Houve pessoas que se recusaram a contribuir.


Há desigualdades tão grandes no mundo!


O Joaquim voltou da cidade de Rio Grande, de férias. Estávamos ainda no entusiasmo da chegada do Joaquim, quando entra o sr. Firpo, que tinha ido caçar.


Trouxe vinte e seis perdizes, e lá nos fomos depená-las e limpá-las.


O Joaquim achou que nós todos, inclusive o papai, estamos maiores, mas é ele quem está muito mais crescido.


Fonte: Assis Brasil, Cecília. Diário de Cecília Assis Brasil, org. por Carlos Reverbel. Porto Alegre, L&PM, 1983, p. 108.




Capa: L&PM Editores sobre foto do Castelo de Pedras Altas, Rio Grande do Sul.

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