Quarta-feira, 1º de novembro
Um desses dias quentes, sem sol, em que a atmosfera pesa e tudo fica velado por uma espécie de gaze cinzenta, densa e opressiva.
De manhã cedo o barômetro já marcava 25 graus.
Caiu-me a alma dos pés quando vi que tinha que apanhar os aspargos, pois já estavam quase da minha altura (não literalmente).
Logo depois do almoço voltamos para a Floresta, onde a temperatura estava muito agradável.
Levamos uma dúzia de laranjas, a cuia, a bomba, a erva, a chaleira, leitura e costura.
Cheguei recitando uma paródia do 2 de julho (C.A.), improvisada. Começava assim:
“É hora dos lagartos,
Das preguiças sem rivais…
Queima o sol, evaporando
As aguadas dos mortais”.
Brincamos o jogo do I’m seeing a person that you can’t see.
Mateamos tanto que esvaziamos duas chaleiras.
Armava-se um temporal, como está no Antonio Chimango:
“Quem isto sabe não erra:
Um cheirinho assim de terra,
Que vem de lá não sei d’onde
Avisa que não se ronde,
Mas que se busque uma encerra”
De tarde começou a chover, mas não com a violência que todos esperavam.
A Mamãe matou um guaraxaim e nos deu licença para carneá-lo amanhã.
Fonte: Assis Brasil, Cecília. Diário de Cecília Assis Brasil, org. por Carlos Reverbel. Porto Alegre, L&PM, 1983, p. 14/15/16/17/18.
Capa: L&PM Editores sobre foto do Castelo de Pedras Altas, Rio Grande do Sul.
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