terça-feira, 15 de março de 2022

Floresta (Diário de Cecília, 1916)

 

Quarta-feira, 1º de novembro


Um desses dias quentes, sem sol, em que a atmosfera pesa e tudo fica velado por uma espécie de gaze cinzenta, densa e opressiva.


De manhã cedo o barômetro já marcava 25 graus.


Caiu-me a alma dos pés quando vi que tinha que apanhar os aspargos, pois já estavam quase da minha altura (não literalmente).


Logo depois do almoço voltamos para a Floresta, onde a temperatura estava muito agradável.


Levamos uma dúzia de laranjas, a cuia, a bomba, a erva, a chaleira, leitura e costura.


Cheguei recitando uma paródia do 2 de julho (C.A.), improvisada. Começava assim:


É hora dos lagartos,

Das preguiças sem rivais…

Queima o sol, evaporando

As aguadas dos mortais”.


Brincamos o jogo do I’m seeing a person that you can’t see.


Mateamos tanto que esvaziamos duas chaleiras.


Armava-se um temporal, como está no Antonio Chimango:


Quem isto sabe não erra:

Um cheirinho assim de terra,

Que vem de lá não sei d’onde

Avisa que não se ronde,

Mas que se busque uma encerra”


De tarde começou a chover, mas não com a violência que todos esperavam.


A Mamãe matou um guaraxaim e nos deu licença para carneá-lo amanhã.


Fonte: Assis Brasil, Cecília. Diário de Cecília Assis Brasil, org. por Carlos Reverbel. Porto Alegre, L&PM, 1983, p. 14/15/16/17/18.




Capa: L&PM Editores sobre foto do Castelo de Pedras Altas, Rio Grande do Sul.

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