Quarta-feira, 23 de janeiro de 1918
Tomei banho depois do serviço no galpão e fui ao hall, onde fiz tricô com a Mamãe até a hora do almoço.
O Papai também lá estava, terminando de riscar o plano das divisões (teias de aranha), que começou a fazer em Ibirapuitã. Serão 10 invernadas.
Apanhei as primeiras uvas Campos da Paz. Comi muitas ameixas e peras, na horta. Fiz uma salada de pepinos.
As vacas deram muito leite. 20 litros entre as duas.
Fez-se manteiga: 13 quilos.
Quarta-feira, 10 de abril
As quatro Jersey recém chegadas vão indo muito bem.
É detestável lidar com animais sem chamá-los pelos nomes.
Batizamos as terneiras importadas, provisoriamente, de Cesárea, Luci, Neli e Daisy.
Tivemos de entregar as Devon ao Fausto, porque não podíamos cuidar direito de tanto bicho.
Fiz seis quilos de manteiga para Bagé.
Às 10 e 30 desta manhã o lar do Avelino foi alegrado com o nascimento. Quando fui recolher as vacas cheguei lá para ver o pequeno. Fui surpreendida com o convite para ser a madrinha.
Amanhã escreverei à Mamãe, pedindo seu consentimento. Será meu primeiro afilhado.
Terça-feira, 23 de abril
Ontem despachei 30 quilos de manteiga.
Só a Companhia Swift de Rosário comprou 15 quilos.
O Florêncio embarcou para Santa catarina e Paraná, levando os animais Devon e Jersey vendidos.
Li ultimamente Um coeur simple, de Flaubert e L’homme qui rit, de V.H.
Estou lendo agora Notre Dame de Paris.
Segunda-feira, 29 de abril
Fiz manteiga, remetendo 15 quilos à Companhia Swift, 8 quilos para Bagé e 8 para Pelotas. Ao todo, venderam-se este mês 129 quilos de manteiga.
Chegou um telegrama do Papai, convidando o dr. Costa Barros a visitá-lo no Ibirapuitã. Nosso hóspede aceitou, seguindo hoje pelo noturno, via Alegrete.
Terça-feira, 7 de maio
Fizemos o serviço do galpão na disparada, mas ainda deu para preparar uma caixa de manteiga para Pelotas.
E fomos nos arrumar para ir à Estação esperar Papai. Voltamos desapontadas por termo de ficar mais um dia na orfandade. Ele não veio, deve chegar amanhã. Papai está ausente há mais de um mês.
Estou lendo Graziella, de Lamartine.
Ao recolher Noel, recebi um guampaço nas costelas, que furou em dois lugares, o meu casaco colorado. Senti bastante, pois tenho amizade por esse casaco, que me resguarda do frio há quase 5 anos.
Ficamos até meia-noite, ajudando a Maninha a acabar o acolchoado da Mamãe.
“La preuve que la liberté est l’ideal divin de l’homme, c’est qu’elle est le premier rêve de la jeunesse”, - Lamartine.
Quinta-feira, 30 de maio
Matou-se o gigantesco porco Tamworth. Rendeu 108 linguiças, fora a banha e subprodutos.
Novo freguês de manteiga: o cônsul norte-americano Samuel F. Lee.
Ainda lembro: faz hoje quatro anos que quase morri em consequência da mordida de uma jararaca. Tive paralisia geral, além de dores horríveis e espasmos na perna esquerda.
Enfim, isso já passou, não é bom recordar.
Quarta-feira, 3 de janeiro de 1923
Encaixotei a manteiga para os diversos fregueses (Cia. Swift, C. Wigg, F. Lima, Hotel Schaefer e F. Amaral). Enviei também as contas do mês passado.
Mandei parar rodeio e dar sal ao gado. Fui a pé com a Quinquim ver o serviço na Capororoca.
Os jornais continuam a trazer notícias alarmantes. Parece que o Chimango está distribuindo armamentos.
We are prepared!
Segunda-feira, 24 de agosto de 1925
O Boy foi a Melo e voltou com um recado da Casa Sasiain: deixava de comprar a nossa manteiga, por não ter saída. Receberiam apenas a que seria mandada hoje.
Cansada como estava de tanto lidar, mal acabei de servir o almoço e lavar a louça fui empacotar 25 quilos e meio de manteiga, para mandar ao Sasiain, de despedida.
Quarta-feira, 2 de setembro
Mandei ao Jesus Lopez dois quilos de manteiga, a um peso e trinta. Firmei contrato com ele, segundo o qual ele nos pagará um peso e vinte pelo quilo de manteiga, se receber nunca menos de cinco quilos por semana.
Plantei um canteiro de tomates, com o capitão Medina. O comissário de polícia esteve na Chácara, para inteirar-se dos roubos de ovelha que têm acontecido. Andaram também roubando roupas dos nossos peões.
Terça-feira, 8 de setembro
Papai e eu trabalhamos na horta há quatro dias. Ele plantou quiabos, favas e fez um canteiro de eucaliptos, semeados em “farinha de trigo”. Eu plantei tomates, couve-flor, cenouras, nabos e ervilhas. Nossa horta está cheia de verduras, tudo cresce com viço espantoso.
Ontem, 7 de setembro, o Papai me convidou para ir ver o gado de Itaiaçu, que está no Sarandi desde 4 de agosto. Chegou feio, depois de marchar 100 léguas. Os animais estavam no potreiro mais rapado de Itaiaçu, para não engordar, evitando-se assim que os chimangos se engraçassem com eles… Voltamos com o Boy, no “tanque Zeca Neto”.
Terça-feira, 22 de setembro
O Araci mandou-nos um zorrilho recém-nascido. Está sendo criado pela Joaninha.
A casa cheia de hóspedes: srs. Chico Macedo, Amaranto de Paiva Coutinho, Kleemann, Arides, Nestor.
A Casa Sasiain, de Melo, voltou a comprar manteiga, mas em menor quantidade.
Também passaram a comprá-la os hotéis Oriental e Kramer.
E ainda assim tem sobrado manteiga. Por isso começamos a colocá-la em Montevidéu, ajudados pelo dr. Saporiti.
O diretor da estrada de ferro já encomendou os primeiros dez quilos.
Domingo, 27 de setembro
Chegou de Montevidéu Mr. Lionel Bridal, que veio contratar a nossa manteiga para o Hotel Pocitos, que ele dirige.
O dr. Amaranto despediu-se. Vai a Blanqueada, sua estância, onde foi apreendido o armamento que era conduzido pelo Adalberto Corrêa.
O Firpo vai mais longe. Creio que irá juntar-se ao general Zeca Neto, que parece estar conspirando novamente.
Fonte: Assis Brasil, Cecília. Diário de Cecília Assis Brasil, org. por Carlos Reverbel. Porto Alegre, L&PM, 1983, p. 36/43/44/45/47/51/84/86/87/88.
Capa: L&PM Editores sobre foto do Castelo de Pedras Altas, Rio Grande do Sul.
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