Quinta-feira, 28 de fevereiro
De tarde a Deolmira, Arlinda e Jacy foram-se embora e nós as acompanhamos até a Estação.
No serão, enquanto esperávamos o trem das 2 da madrugada, que trazia o Papai e Cia., Quinquim e eu bordamos um cozy, para substituir o velho.
Chegaram com Papai os paulistas dr. Martinho Prado, Mário Soares, Décio de Paula Machado, Marcelo e Rui Mendonça, Carlos Amaral (que tem o bigode em cima dos olhos) e Jorge Chaves.
Depois de tomar chá, foram levados ao cottage, ocupando todos os aposentos.
Sábado, 2 de março
Dia em que o Chico Diabo matou o tirano Lopez, se não me engano.
Apesar de termos ido para a cama tão tarde, a Quinquim e eu nos levantamos às 6 horas, como sempre.
O dr. Martinho Prado e Mário Soares não se levantaram muito tarde. Viram os cavalos e comeram uvas antes de ir para a mesa.
A Quinquim e eu servimos o almoço, ajudadas pela Morena. Correu tudo sur des roulettes.
Depois do chá a comitiva paulista percorreu a Granja, detendo-se na Capororoca e no potreiro do Cerro do Gumercindo, e visitando a Casa Branca.
O Marcelo Mendonça me “escorteou” nesse passeio. Por milagre não emudeci, como acontece quando tenho que falar com pessoa que não conheço. Ele disse que está no quarto ano de engenharia e vai se formar na Europa, na Suíça ou na Alemanha, onde morou 12 anos. O irmão dele, Rui, tem só 17 anos e é ainda muito backfish.
Depois do jantar Papai propôs um passeio a Boa Viagem.
Domingo, 3 de março
Os visitantes levantaram-se um pouco mais cedo.
Passearam pelo parque até a hora do trem, quando foram acompanhar o Marcelo e o Rui Mendonça à Estação, ambos de viagem para Pelotas.
O Marcelo tem lá a madrinha, uma senhora idosa, que ficaria sentida se ele não fosse visitá-la, estando tão perto.
Na volta para São Paulo. Até o dr. Martinho Prado pretende visitar Pelotas.
A Q. e eu servimos a mesa outra vez.
No meu conceito, o dr. Martinho “lavrou um tento”, hoje.
Papai trouxe as boleadeiras do escritório para mostrar aos paulistas como se faz um “tiro de bolas”. Boleou cercas, terneiros, árvores. Finalmente, na sua demonstração, o Papai atirou-as num eucalipto, ficando as bolas presas nos galhos de cima.
Com a maior rapidez, o dr. Martinho Prado subiu na árvore, agarrando-se ao tronco, pois os galhos eram finos, não aguentariam o seu peso. E com grande agilidade alcançou as boleadeiras, descendo com ela nas mãos.
Segunda-feira, 4 de março
Estava tirando leite esta manhã, bem cedo, quando vejo o dr. Martinho Prado perto de mim.
O Papai e os nossos hóspedes vão embora hoje. Os paulistas, para verem a exposição rural de Bagé, e o Papai para podar as lídias do dr. Osório.
Ao almoço, o Décio de Paula Machado perguntou ao Papai em que parte do Rio Grande poderia encontrar ágatas, ou halbedelsteines, como ele disse. Ficou admirado quando informado de que no Ibirapuitã havia muitas ágatas.
Trouxemos as pedras que lá tínhamos achado em maio e oferecemos uma a cada um dos nossos visitantes paulistas. Ao dr. Martinho dei a minha mascote, parecida com a cabeça de um ratinho.
Pelotas, quinta-feira, 14 de março
O Padrinho chegou esta manhã para passar o dia conosco. Levou-nos de bonde ao porto, onde ele tinha que embarcar uma égua e um burro, vendidos pelo Cezimbra ao dr. Paulo Moraes de Barros, de São Paulo.
Estávamos com saudades de botar a mão num animal, mas achamos os dois muito feios. O burro então parece ter um pelego nas costas e é muito pequeno.
Fazia muito calor, tomamos sorvete na Dalila. Lá estava o dr. Brusque, com dois filhotões.
No restaurante do Hotel Aliança tivemos a surpresa de encontrar o Décio de Paula Machado. Pensei que já estivesse em São Paulo. Disse que ainda tinha negócios a tratar no Rio Grande.
Fonte: Assis Brasil, Cecília. Diário de Cecília Assis Brasil, org. por Carlos Reverbel. Porto Alegre, L&PM, 1983, p. 40/41/42.
Capa: L&PM Editores sobre foto do Castelo de Pedras Altas, Rio Grande do Sul.
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