Quarta-feira, 24 de agosto
Lídia, dona Faustina e eu fomos passar o dia na Estância Nova.
Encontramos 20 cordeirinhos, inclusive dois pares de gêmeos. Ficou visto que uma das ovelhas não poderia criar os dois cordeirinhos. Araci tentou tirar-lhe um dos cordeiros, enxertando-o numa das ovelhas que havia perdido a cria, mas ela o recusou, expulsando-o com coices e cabeçadas. Em vista disso, tomei conta do bichinho para criá-lo guacho. É fêmea. Vou batizá-la com nome de Rosalina.
O Araci anda adoentado. Diz que não se compôs desde que comeu um bife de charque no Berachi. Pediu-me para ficar cuidando as ovelhas, depois de amanhã, quando irá ao médico.
Fiz um ninho de palha num caixão de querosene, dentro do qual acomodei a cordeirinha, colocando-o ao lado da minha cama.
Quinta-feira, 25 de agosto
Levantei-me cedo para dar mamadeira à Rosalina. Depois fu trabalhar na horta, levando-a para tomar sol.
Dei aula ao chofer, que já escreve “veo el ojo del sapo”.
Pedi ao Boy que cortasse o rabinho da Rosalina. Como estava muito ventoso, cicatrizou depressa. Creio que ela nada sofreu. Já começou a andar agarrada comigo e tem um apetite devorador.
Sexta-feira, 26 de agosto
As éguas Kech, Nole e cia. mataram uma cordeira no aprisco, esta noite. Por isso mandei soltá-las, quando terminaram a ração. De castigo, vão dormir ao relento.
Matei um frango White Wyandote para homenagear dona Faustina. Passamos um dia agradabilíssimo na sua boa companhia.
“Aqui é bom – dizia dona Faustina, porque a gente só faz o que quer... come com os dedos uma costelinha de ovelha e depois palita os dentes com um galhinho de laranjeira ainda cheio de folhas”.
As ovelhas e os cordeirinhos pastavam no potreiro da frente.
Segunda-feira, 29 de agosto
Depois de dar aula ao chofer (que já lê: “La nena lava su bata de lana”) e depois de dar a mamadeira à Rosalina, tomar banho, limpar um canteiro na horta, fui revelar alguns retratos para mandar à Mamãe, Papai e Joaquim.
Dona Faustina convidou-nos para irmos com ela a Bagé.
Eu fiz como o sr. Firpo: disse que não tinha roupa, mas ia assim mesmo...
Depois do chá, Lídia e eu fomos com a dona Faustina passear na “carretera”.
Levei a Rosalina, com um laço de fita encarnada no pescoço. Ela nos acompanhava como um cachorrinho.
Passou um velho a cavalo e gritou:
“Saque la cinta colorada, no ve que el cordero es blanco”.
Senti saudade dos Firpo ao passar pela Vila Nenê. Desde que eles foram embora a casa está desabitada e agora apresenta um cartaz que diz; “Alquila-se ó se vende a plazo”.
De uma carta do Joaquim:
“Sabem que o Sacco e Vanzetti foram sentenciados a ir para a cadeira elétrica e o carrasco ganhou 3 mil dólares?”
Fonte: Assis Brasil, Cecília. Diário de Cecília Assis Brasil, org. por Carlos Reverbel. Porto Alegre, L&PM, 1983, p.152/153.
Capa: L&PM Editores sobre foto do Castelo de Pedras Altas, Rio Grande do Sul.
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