Zeca Neto (Diário de Cecília, 1927)

 

Quinta-feira, 11 de agosto

Sopra uma ventania louca: “el viento brasilero”,como o chamam aqui.

O Arides foi ao Brasil com a mulher, visitar o sogro.

Voltaram doentes do estômago, de tanto comerem bifes de charque a cavalo.

Carta do Papai, contando de sua visita à propriedade monstro, comprada pelo Guinle, perto do Rio. São 13 léguas de campo.

Sacco e Vanzetti ainda vivem, ouvimos pelo rádio.

O general Neto chegou de montevidéu. Trouxe-nos enorme caixa de chocolates Fly.

O coitado não lembrou de tirar o preço e soubemos logo que tinha custado 12 pesos.

Depois do chá a Maninha e a Carolina foram à cidade vender manteiga e laranjas.

Eu fui para a horta, onde comecei a limpar uns canteiros, que são a vergonha do meu rosto.

O Zeca Neto, sempre o mesmo homem, fumando os seus cigarrinhos, puxando o pigarro, esfregando as mãos e dizendo que o tempo está bom para uma invazãozinha...

Fonte: Assis Brasil, Cecília. Diário de Cecília Assis Brasil, org. por Carlos Reverbel. Porto Alegre, L&PM, 1983, p. 150.

Capa: L&PM Editores sobre foto do Castelo de Pedras Altas, Rio Grande do Sul.