Levam-se anos para matar um sonho. Mas, para matar um plano, basta um segundo.
É preciso se sentir em casa para poder sair de casa, é preciso ter abrigo para desabrigar-se, expor-se. É preciso ter conforto para criar a coragem de deixá-lo. Sem porto, não tem partida, só a busca contínua por qualquer lugar. Sem segurança, sem escolha, não tem como haver liberdade. É só fuga, falta de opção, tentativa de chegar sem ter saído de nada.
Isolar nossos planos recém-nascidos dos medos alheios é importante para eles ganharem estrutura e dimensão. A gente busca as opiniões que quer ouvir.
Os perigos de uma viagem também estão em dias de sol e boas companhias. Mas é preciso ater-se aos planos para conquistar o prazer de concluir uma travessia.
Comemorar os pedaços torna o trajeto total menos assustador. Festejar as etapas vencidas dá coragem para enfrentar o porvir.
O medo contamina as dúvidas, se embrecha nos vazios, entre as certezas, veste os olhares e confunde o olfato que fareja perigo.
Escolher é assumir a responsabilidade que nos pertence. Escolhendo a gente se faz livre.
A depressão deixa a gente sem saída. Como se todo o esforço do mundo fosse insuficiente para conseguirmos o que queremos e merecemos. Como se não houvesse jeito. Como se não houvesse sonho possível, sucesso, coragem, amor. Ela faz a gente se anular, naufragar antes de subir a bordo.
As expectativas dos outros pertencem aos outros.
O pensamento nos leva a tantos lugares quanto aqueles em que a gente pensa.
Minha mãe disse:
- “A gente busca os conselhos que quer ouvir”.
Não há conforto maior do que o de estar sob o próprio teto.
Novos amores encobrem os passados, mas não curam machucados (…)
São os amores que nos movem, afinal.
O desejo. Inútil. Indevido. Perigoso. Violento. Discretamente perturba, silenciosamente transforma. Seduz. Agride. Contamina. O desejo multiplica as dores e os prazeres. Ele motiva renúncias, apostas, travessias. O desejo nos faz singular.
O fim sempre parece um pouco glorioso, o fim tem certa pressão.
O fim
É o gesto de despedida
É o cheiro que sobra do encontro
É a última chance
O fim, quando chega, puxa a cadeira para um começo.
A espera é um momento delicado. Afloram-se as angústias, os anseios, de maneira que chamam as abelhas para tomá-las e espalhar essas plantas venenosas pelos jardins.
O tempo do céu, como o tempo da terra, passa. E salva-se quem torna o tempo de espera no tempo esperado.
Seguir os passos de alguém é ignorar os novos contextos, é renunciar nossa capacidade explorativa, tentar caber onde não dá. É manter o olhar em alguém e perder-se de vista enquanto isso. É contar com a inércia dos tempos, é torcer contra a evolução, é não partir nem ficar.
Os obstáculos que nos paralisam e nos fazem chorar de pavor podem ser menores do que a gente pensa.
Quando a gente cuida de cada ponto e cada nó, a gente nunca está só. Vem conosco uma manada afoita e latente uivando para seguirmos sempre em frente.
As mesmas palavras me levam pra longe e me trazem de volta pra dentro da palavra casa.
O risco é o gerador da liberdade
o risco se faz
ao riscar.
Fonte: Klink, Tamara Wolff Bandeira. Mil Milhas. São Paulo: Peirópolis, 2021, p. 24/29/53/70/72/78/79/82/83/84/91/93/105/122/123
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