terça-feira, 26 de agosto de 2025

Bye, Bye, Brasil (Revista MANCHETE Ed. 1893/1988)

As últimas viagens de trem

Dos pampas gaúchos ao Pantanal de Mato Grosso, passando pelas alturas de Minas Gerais, eles ainda circulam sua imponência. Mas estão acabando

Reportagem de Henrique Koifman

Fotos de Armando França

São 22h25min. Na plataforma da estação Diretor Pestana, em Porto Alegre, o movimento é caótico. Carregadas de malas e agasalhos, dezenas de pessoas embarcam na grande composição azul e branca. Nas portas dos carros, os agentes de trem, impecavelmente uniformizados, conferem as passagens e indicam os lugares dos passageiros. Exatamente às 22h30min, Agenor de Oliveira Fernandes, 58 anos, chefe do trem, leva seu apito à boca e sinaliza com uma lanterna em direção à locomotiva. Ouve-se uma grave buzina. Já com os pés nos degraus do carro bagageiro, seu Agenor torna a sinalizar. Após mais uma grave e ressonante resposta, lentamente, o trem começa a se deslocar. Muitos acenam da plataforma. Ganhando velocidade, a composição mergulha na noite. É uma das últimas representantes de uma era – a era do trem de passageiros no Brasil. MANCHETE percorreu mais de 6.000 km de trilhos, neste e em outros 11 trens da RFFSA, em regiões tão diferentes como a Serra do Mar e o Pantanal. Com exceção das linhas turísticas, a tendência é de que estas viagens, em mais alguns anos, deixem de existir – vitimadas por seus altos custos operacionais, crise econômica e saturação da malha ferroviária, preferencialmente destinada à carga. Enquanto isso não acontece, tome seu lugar e embarque com a gente.

NO PARANÁ, UMA VIAGEM ECOLÓGICA AO PARAÍSO DA MATA ATLÂNTICA

Inaugurada em 1885, a ligação ferroviária de Curitiba a Paranaguá impressiona por sua beleza. O trabalho da comissária Sueli é servir lanche aos turistas. Seu colega, Gilberto Leal, maquinista, prefere a litorina aos trens de carga. “É bem mais confortável.”

NO SUL, TRENS CONVENCIONAIS E TURÍSTICOS CORTAM O PAMPA E A SERRA

Poucos minutos após deixar Diretor Pestana, o trem prefixo RPA-01 para na pequena estação de Canoas, Rio Grande do Sul. Esta será a rotina de toda a viagem até Santa Maria. Paradas de menos de um minuto em dezenas de localidades. Nomes como Fanfa, Pederneiras, Estiva e Arroio do Só aparecerão pintados em grandes placas amarelas, onde também figuram a posição quilométrica e a altitude da estação. Nesses lugares, com a temperatura oscilando entre 12º e 15º em maio, sonolentos e agasalhados em seus ponchos, os gaúchos sobem no trem para, agrupados dentro dos carros, tomar seu chimarrão fumegante e conversar. Durante o dia, as famílias se reúnem, tomam o mate e comem charque com farinha. Os de mais posses dirigem-se ao carro-restaurante, onde é servido o prato comercial – bife a cavalo, batata frita, feijão, arroz e salada.

Ao amanhecer, o trem já está em Santa Maria, ponto de partida para as linhas de Livramento (fronteira com o Uruguai) e Uruguaiana (fronteira com a Argentina), cada uma delas servida três vezes por semana, alternadamente, por estes noturnos. Em ambas as direções, a paisagem se assemelha bastante. As imensas pradarias do pampa gaúcho, povoadas por rebanhos de gado e de ovelhas, emas, gaviões, chupins – pequenos pássaros pretos que, em bando, pontilham as plantações – e até mesmo lebres são a constante. De vez em quando, bosques replantados de eucaliptos quebram a continuidade do relevo.

Andando de carro em carro para conferir os bilhetes, Francisco Roli Cunha, 52 anos, há 32 trabalhando nos trens do Sul – que quando ele começou ainda pertenciam à extinta VFRGS (Viação Férrea Rio-Grandense), e seus dois agentes, Walternai Pereira e José Dornelles são bem rigorosos. “Sempre aparece alguém querendo viajar de graça”, diz Seu Francisco. “Já apareceu até foragido armado, escondido pela composição. De um modo geral, nós conseguimos resolver tudo na base da conversa.”

Quando alguém é descoberto sem o bilhete, tem duas opções: pagar o valor da passagem ao agente, acrescido de uma multa de 25% do valor normal, ou descer na parada mais próxima, e resolver o caso com o chefe da estação e com a polícia. “Por via das dúvidas, o chefe de trem sempre carrega um revólver” – diz o agente, apontando para um 38 na cintura. “Afinal, nunca se sabe”.

Já em Bento Gonçalves, capital italiana do vinho gaúcho, todos os domingos animados grupos de turistas embarcam em uma composição ainda mais tradicional. Uma locomotiva Mikado, fabricada nos EUA em 1941, puxa, com a força de seu vapor, quatro carros de madeira, descendo a serra até Jaboticaba. São 48 km, percorridos em 2h45min, atravessando grandes vinhas, túneis e pontes. Um grupo folclórico anima o passeio com danças e músicas típicas.

Em Santa Catarina, na cidade de Tubarão, outra Mikado 1941 faz, quinzenalmente, uma viagem de ida e volta até Imbituba, a 56 km de distância. Lá a paisagem é completamente diversa. Grandes dunas de areia e uma vegetação tipicamente litorânea margeiam a linha. Por ali é escoado todo o carvão extraído de Criciúma e que, além de ser exportado, serve para alimentar uma grande usina termoelétrica. Foi justamente esta fartura de carvão que fez com que a RFFSA mantivesse em Tubarão 24 máquinas a vapor – das quais 12 ainda estão em serviço. Mostrando que a idade não diminui sua eficiência, a velha locomotiva chega a atingir durante o percurso pouco mais de 60 km/h.

Bem mais moderna é a litorina que, três vezes por semana, liga Curitiba à cidade de Morretes e ao Porto de Paranaguá, cortando a maior reserva de mata atlântica do país, em plena Serra do Mar. São 2h50min de viagem, pontuados por exclamações maravilhadas de turistas de todas as partes do mundo. Apesar desta verdadeira babel, Marlene Perkowski, 23 anos, comissária, não tem maiores dificuldades para se entender com por seus passageiros. Ela avisa, por um sistema de som, quando os pontos mais bonitos se aproximam. Serve biscoitos e guaraná. Esclarece, quando possível, as dúvidas de todos. Orgulhosa ela diz que, apesar de estar há dois anos no trecho, ainda se encanta com cada viagem. “Esta é a linha mais bonita do Brasil.”

O TREM CORTA O PAMPA E CRUZA PONTES ENTRE VERDES LINDOS E ESPANTANDO BICHOS

Este trem sai à noite de Porto Alegre e chega de dia a Uruguaiana, entre muitos bois e bandos de emas, que fogem espantadas. No caminho, várias pontes típicas como esta (embaixo) são cruzadas. E, enquanto a noite corre, a plebe rude dorme – guardando a garganta para o amanhecer, hora do fumegante chimarrão. A viagem é pontilhada de paradas em várias estações.

EM MINAS, OS TRENS CONTAM A HISTÓRIA. MAS NEM TUDO É MUSEU OU TURISMO

Poucos lugares do mundo estão tão intimamente ligados à ferrovia como Minas Gerais. São raros os recantos do Estado que não são ou não foram, em alguma época, servidos pelo trem de ferro. Esta intimidade é patente no uso da própria palavra tem que, em Minas, é o substantivo mais polivalente do vocabulário – podendo designar qualquer objeto ou, até mesmo, fato.

Em São João del Rey, funciona há sete anos o Museu Ferroviário. Entre grandes pátios, oficina, uma rotunda – tipo de garagem circular para locomotivas – e uma grande estação, mais de uma dezena de marias-fumaças sobrevive ao tempo. Destas, cinco ainda se revezam no percurso turístico de 12 km, entre a cidade e Tiradentes. Todos os finais de semana, Mário Antônio Braga, 38 anos, regula e azeita todos os mancais e peças móveis das velhas Baldwins da década de 10. Ele é um dos quatro mecânicos do museu.

Não existe nenhum curso de formação para este tipo de máquina. Como todos, aprendi tudo por curiosidade. Hoje, podemos consertar qualquer defeito e, até mesmo, fazer qualquer peça nas oficinas.” A linha São João – Tiradentes é a única de bitola 0,76 m ainda funcionando no país. Inaugurada em 1881, a antiga EFOM – Estrada de Ferro Oeste de Minas – chegou a ter 700 km de linhas nesse padrão. Hoje, as pequenas composições circulam a 25 km/h, transportando grandes grupos de turistas. “No verão, os trens passam a ser diários”, conta José Francisco de Freitas, 53 anos, agente de estação há 34, que acumula as funções de chefe de estação, vendedor de bilhetes, zelador e todas as outras na estação de Tiradentes. “Ainda hoje, a cada viagem, tenho que me comunicar com São João por telégrafo, conforme o regulamento.”

Esta tradição é também mantida em Ouro Preto, de onde, aos domingos, parte um trem turístico para Mariana. Neste trecho, o agente de trem José Figueiredo, 67 anos, trabalha desde 1943 e não tem queixas: “O nível dos passageiros é muito bom, é raro eu ter problemas com eles.”

Saindo de Belo Horizonte todos os sábados, à 19 h, uma grande e concorrida composição segue até Montes Claros e, em seguida, Monte Azul, na divisa com a Bahia, num total de 770 km. Este é um dos últimos grandes trens de passageiros de Minas e corta todo o nordeste do estado, justamente a mais pobre, onde começa o polígono das secas. O preço da passagem – que custa menos da metade da rodoviária – e a possibilidade de transportar até mesmo parte de pequenas colheitas atraem centenas de passageiros. De Montes Claros a Monte Azul, a composição se transforma em mista, levado vários vagões com os frutos da agricultura local. Ironicamente, se algum passageiro quiser seguir de Monte Azul para Iaçu, a 300 km de Salvador, para onde semanalmente se dirige uma composição mista, terá que esperar uma semana inteira na cidade. O trem de Belo Horizonte chega no domingo à noite e o para a Bahia sai na sexta à tarde.

O TREM ROMPE A AURORA DO CERRADO E RECEBE CORES NOVAS ANTES DE PENETRAR NO PANTANAL

O PANTANAL É UM MAR QUE O TREM DERROTA. GAVIÕES VÊM COMER NA MÃO DOS MAQUINISTAS

Para se fazer de trem, uma viagem de São Paulo até Corumbá é preciso pegar duas composições diferentes. Uma sai da capital paulista e vai até Bauru, pertencendo à Fepasa. A outra faz a segunda e maior parte do trajeto de cerca de 1.600 km e é operada pela RFFSA. Na primeira etapa, o trem corre sobre trilhos de bitola 1,60 m e é puxado por uma locomotiva elétrica. Até a estação de Jundiaí, onde fica a primeira parada, leva-se uma hora, durante a qual a paisagem, com raras exceções, é exclusivamente de casas e indústrias. Pouco depois, começam a aparecer pequenas plantações e pastos – que serão a constante até os arredores de Bauru, interrompidos apenas pelas ricas cidades do interior paulista, como Americana e São José do Rio Preto.

A chegada em Bauru é às 15h30min. Uma hora mais tarde, puxado por uma locomotiva diesel-elétrica e com seus 13 carros – quatro de primeira classe, quatro de segunda, um bagageiro, um restaurante e três dormitórios – e correndo sobre uma bitola de um metro, o trem para Corumbá parte quase lotado. São pequenos agricultores, vendedores, boias-frias, turistas e até mesmo famílias inteiras de mudança. Desde minutos após a partida, o carro-restaurante fica cheio de gente. Tira-gostos e cerveja – sempre servida pela metade do copo, para não derramar – animam a conversa. Lá fora, o cerrado vai sendo engolido pela noite.

Às 11h20min do dia seguinte, o trem está em Campo Grande. Nesta estação, uma grande quantidade de passageiros desce e outros tantos embarcam. Os traços indígenas estão presentes na maioria dos rostos. Os carros são reabastecidos de água e a equipagem – agentes de trem, faxineiros e a dupla maquinista/auxiliar – é substituída. Em 20 minutos a composição já está em movimento.

Em janeiro e fevereiro, ela é acrescida por dois ou três carros especiais, alugados em Bauru por grupos de turistas, seduzidos pela farta pesca do Pantanal. Na viagem de ida à Corumbá, o trem passa pela parte inundada do Pantanal à noite. É na volta que se pode realmente apreciar a paisagem. Um verdadeiro mar, dos dois lados da linha – que funciona como uma ponte virtual entre várias cidades e o resto do estado, cerca as casas, árvores e pequenas colinas. A impressão que se tem é de estar viajando de barco, e nunca por uma ferrovia. Durante mais de duas horas de viagem, não se avista um só ponto seco acima da lâmina d’água, a não ser a copa das árvores, alguns telhados e a ponta dos mourões das cercas.

O controle das estradas é rigoroso. O maquinista não pode dormir

O tráfego entre as estações é controlado com rigor para evitar acidentes: há máquinas staff, comunicação por telefone, autos de linha. Em Ouro Preto, o chefe de estação telegrafa a próxima parada.

“A ferrovia é uma verdadeira cachaça”, diz Romeu Maxwell, agente de trem recém-aposentado, depois de 27 anos de trabalho nas linhas do Rio Grande do Sul. Ele define bem um sentimento forte que encontramos na maioria dos funcionários das estradas de ferro, nos mais diversos lugares. Todos têm muitas histórias e gostam de contá-las. “Só parei mesmo porque meu médico disse que a friagem estava acabando com minha saúde”, continua Seu Romeu. “Fiz centenas de amigos e, se pudesse, continuaria”. Não são raros os casos de funcionários como o agente José Figueiredo, 67 anos, há 45 trabalhando nos trens de Minas e que simplesmente não consegue se imaginar fazendo outra coisa. Extremamente disciplinados, eles fazem questão de manter seus uniformes impecáveis, quase nunca dispensando o chapéu quando vão posar para uma foto.

Já nas locomotivas, a média de idade é mais baixa. Em todas as linhas do Brasil, com exceção das litorinas, sempre trabalham um maquinista e um auxiliar. Josemar Freitas da Silva, 26 anos, é um destes auxiliares. Ao pegar uma guia em uma das várias estações do percurso Porto Alegre – Livramento, ele lê, em voz alta, as instruções para seu colega, o maquinista Eroni Costa: “Livre até Guará, manutenção na linha, na altura do quilômetro tal...” Ele conta que, para trabalhar como maquinista auxiliar, fez um curso de um mês, na própria RFFSA. Para entrar, passou por testes e exames psicotécnicos. Seu serviço é, além de pegar as guias – às vezes com o trem em movimento – observar a composição e a linha, avisando ao colega sobre qualquer problema. Eroni, de 38 anos, é maquinista há 17 anos, trabalhando em trens de carga e de passageiros. “O principal na minha função é conhecer bem o trecho da linha na qual trabalho”, diz ele, enquanto mantém a composição andando em 50 km/h. “Cada vez que um maquinista muda de trecho, é obrigado a fazer 90 dias de praticagem para conhecer bem seu novo trajeto. Trilhos, curvas, passagens de nível, tudo é muito importante.” O trabalho em duplas, nas locomotivas, tem como principal função aumentar a segurança das viagens. Além de suas atribuições técnicas, maquinista e auxiliar têm quase que a obrigação de conversar, boa parte do tempo, para evitar o sono. Contra ele, trabalha também a imensa locomotiva diesel-elétrica que, além de ser extremamente desconfortável para quem a conduz – seus assentos são mínimos, possui um dispositivo que apita, de tempos em tempos, obrigando o maquinista a fazer uma série de movimentos, com os pés e mãos. Caso contrário, a composição é freada automaticamente por um sistema de ar comprimido.

Na maioria da malha ferroviária nacional, o sistema de controle de tráfego entre as estações é o de bastões. Em cada estação, por menor que seja, existe um aparelho de staff, ligado por cabos telefônicos às outras duas estações, uma em cada direção da linha. Um maquinista só tem permissão para atravessar um determinado trecho se estiver de posse do bastão correspondente, entregue pelo chefe daquele trecho. Os bastões ficam travados no aparelho de staff, que só os libera, um a um, quando recebe um impulso elétrico vindo da estação seguinte. Este impulso é produzido por dínamos, como nos antigos telefones de campanha. Para isso ocorrer, o chefe daquela estação deverá introduzir um outro bastão, recebido das mãos do último maquinista que percorreu aquele trecho. Desta maneira, é muito difícil que duas composições atravessem o mesmo trecho ao mesmo tempo. Salvo em caso de descontrole de uma locomotiva ou algo parecido. Ainda assim, se um trem passa por uma estação ou ponto de controle sem parar, ainda existe a possibilidade de deter o outro, pois os horários são elaborados para que exista uma certa margem de manobra. Estes aparelhos foram todos fabricados na Inglaterra e funcionam há mais de 60 anos, desde os primeiros tempos da ferrovia. Quando não são usados, o sistema é o das guias ou papeletas. Para serem expedidas, elas seguem o mesmo princípio dos bastões.

Outro aspecto típico da ferrovia é o seu vocabulário específico. Palavras como carro e vagão, por exemplo, que para os leigos podem significar a mesma coisa, para quem trabalha nos trens designam objetos bem diversos. Vagão, é o nome dado ao veículo que transporta carga sobre os trilhos. Carro, ao que transporta passageiros. Nunca chame um carro de vagão, pelo menos em frente de um agente de trem. Ele certamente responderá, indignado que, no vagão, viajam, no máximo, bois, vacas e clandestinos.

Revista MANCHETE, Ano 1988, Ed. 1893, p. 36

Disponível: https://memoria.bn.gov.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=004120&pagfis=252002

Acesso 25/08/2025


domingo, 3 de agosto de 2025

A dupla Ideal apresenta os clássicos da música regional (LP)

 


LADO A

João de Barro (Muibo Cury e Teddy Vieira)

Expresso Boiadeiro (José Maria da Costa)

Paineira Velha (Zé Fortuna)

Gaúcho Alegre (Tonico e Zé Carreiro)

Pé de Cedro (Zacarias Mourão e Goiá)



LADO B

Menino da Porteira (Teddy Vieira e Luizinho)

Saudade do Matão (J. Galati, Antenógenes Silva e Raul Torres)

Tristeza do Jeca (Angelino de Oliveira)

Mocinhas da Cidade (Nhô Belarmino)

Desculpe a Poeira (Jader Moreci Teixeira “Leonardo”)



FICHA TÉCNICA

Supervisão Geral: Standard, Ogilvy e Mather Publicidade Ltda.

Produção: Plug Produções Fonográficas Ltda.

Ass. de Produção: Jader Moreci Teixeira (Leonardo)

Seleção de Repertório: Rogério Ruschel

Lay Out: Marco Antônio Pinheiro

Ilustração: Juska

Técnico de Gravação: Marco Aurélio Martins


Músicos:

A dupla Ideal – Leonardo e Catuí

Acordeon: Albino Manique

Viola de 10 cordas: Heleno Gimenez

Violão base: Leonardo

Viola ponteio: Leonardo

Baixo: Francisco Romeu de Castilhos

Ritmo: Fátima (Magra)


INDÚSTRIA DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS IDEAL S.A.

Associada à International Harvester


Fabricado por FIF – Fermata Indústria Fonográfia Ltda.

Rua Josef Kryss, 90

São Paulo – SP

CGC 61.432.753/0003-22

SCDP: DPF 007/69


Disco é Cultura (P) 1980


33 1/3 RPM

sábado, 2 de agosto de 2025

AS LOCOMOTIVAS A VAPOR E AS FERROVIAS NO RIO GRANDE DO SUL (Ápio Cláudio Beltrão)

 


ORELHA” por Fausto J. L. Domingues

O doutor Ápio Cláudio Beltrão, com sabedoria e proficiência, entrega-nos paciencioso relato de sua vivência juvenil e dos seus posteriores estudos a respeito de pouco conhecidos aspectos da nossa antiga saga ferroviária. Enquanto empreendia a leitura atenta do seu texto, sempre lúcido e desdobrado com desvelo, muito prazerosamente, vinham-me à lembrança inesquecíveis momentos e circunstâncias da mesma época. Enternecidamente, nitidamente revelados, relembrava aqueles sítios que assinalaram, de forma inconfundível, a minha infância e juventude. Dois centros ferroviários, Cacequi e Santa Maria, unidos pela linha férrea, mas, sobretudo, pelos laços afetivos do coração. As gares, as oficinas, os depósitos, as vilas contíguas, a cooperativa, as casas de saúde e farmácias, as escolas, os clubes sociais e de futebol, a política, os funcionários, desde os tucos e carregadores de malas aos gerentes de estação e chefes de trem, tudo e todos vivendo em seu próprio mundo social, amalgamados pela inquieta e fremente alma ferroviária. Enxerguei-me em plena viagem entre a casa paterna e o colégio marista, naquele comboio, conduzido por possante locomotiva, que, enquanto deixava para trás fumaça e fuligem, também carregava, além do cheiro do carvão de pedra, esperanças e saudades. Pela janela, olhar contemplativo, o desfile efêmero de conhecidas imagens que, hoje, na fugacidade da memória, constituem apenas paisagens de sonho e ilusão. Os pequenos lugarejos, à margem da linha, tinham seu silêncio interrompido pelo áspero ringir do aço nos trilhos, pelo furor das locomotivas e pelos insistentes apitos que denunciavam a chegada e partida da velha Maria Fumaça. A recepção aos trens, em todas as estações, era festiva e festejada como ponto de encontro, pela busca de encomendas, de notícias, pelas visitas aguardadas e as de forasteiros com os mais diversos desígnios. A estrada semeou cidades e vilas, estimulou o desenvolvimento, empregou e alimentou famílias.

Faz-se indispensável anotar, todavia, que esta obra não é meramente evocativa; não é apenas revivência de surradas estampas do passado. Longe dos devaneios e das incursões saudosistas que também fascinam ao seu autor, este trabalho possui múltiplos significados e singular importância. Também não se restringe à simples contemplação das linhas férreas então existentes, mas observa, com rigor histórico, a evolução das ferrovias, os diversos ramais, as estações e paradas, além de um criterioso estudo sobre as locomotivas e máquinas a vapor. Didático, técnico, elucidativo, constitui também um alerta. É notória, na atualidade, a omissão de técnicos, estudiosos e historiadores a respeito desta questão. Enquanto em países desenvolvidos cuida-se do aprimoramento do seu desempenho, aqui, interesses políticos que atenderam e atendem às mais diversas e escusas conveniências, muito antes de mirarem os aspectos sociais, materiais, humanos e econômicos, surrupiaram o funcionamento, promoveram a supressão, inspiraram o descaso e obstaram um possível e desejável aperfeiçoamento da atuação ferroviária. Pela austeridade e ineditismo com que o assunto é versado, este trabalho tende a constituir-se em um chamamento à responsabilidade, à reflexão e uma justa homenagem aos tempos em que o velho trem de passageiros cortava as coxilhas do nosso Rio Grande.

Três parágrafos” do Prólogo

As opiniões do autor resultam da reflexão sobre os dados momentaneamente disponíveis e, naturalmente, podem modificar-se à vista de novas informações, ou, mesmo, de meditações repetidas que levem à mudança de entendimento.

Além de atender à sua satisfação pessoal, o autor tem como objetivo proporcionar aos leitores uma visão preliminar do assunto abordado, de modo a que se sintam estimulados a ir mais além por seus próprios meios.

No entanto, se alguém se sentir tocado, por ocasião da leitura, pela recordação das impressões, talvez já um tanto esmaecidas, de momentos felizes passados junto a ferrovias, o mais sublime propósito desta obra foi atingido, sem a menor sombra de dúvida.

CONTRACAPA “Memórias Vivas”, de Leo Petersen Fett

Ruídos, cheiros, dezenas de janelinhas iluminadas, as linhas aerodinâmicas dos vagões Pullmann, com uma cor marrom escura, misturada com grafite e tons avermelhados, parecia que se dirigiam para a Lua ou para Marte… Também era costume de parentes dos viajantes acompanharem o trem de automóvel Caminho Novo afora, abanando freneticamente. Por fim, aquela imensa lagarta, com uma lanterna vermelha, o último vagão sumia à distância, soltando uma poeira e algumas brasinhas do cinzeiro entre os trilhos.

Os trens tinham nome: “O Passageiro”, “O Carga”, “O Lastro”, “O Giruá”, “O Cruz Alta”, “O Pagador”, e assim por diante. Também as locomotivas: a “241”. a “237” e a “249”, a “Manobrista”, a “Mallet”, a “Seiscentas”…

Uma nuvem de vapor se formava à saída das válvulas de segurança que chegava a envolver a própria locomotiva. Pois atravessávamos essa nuvem sentindo cheiro e vapor misturado ao cheiro de enxofre característico do nosso carvão de pedra, e ainda mais o zunidinho do escapamento da dita válvula de segurança.

Capa e Editoração: Priscila Pereira Pinto

Imagem da Capa: Locomotiva 806 da VFRGS. Museu do Trem, São Leopoldo/RS

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

B453I

Beltrão, Ápio Cláudio

As locomotivas a vapor e as ferrovias no Rio Grande do Sul / Ápio Cláudio Beltrão. Porto Alegre: Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, 2017.

149 p.; ilustrado.

ISBN 978-85-62943-13-3.

1. Locomotivas. 2. Locomotivas a vapor. 3. História: Ferrovias: Rio Grande do Sul. 4. Material rodante. 5. Transporte ferroviário. 6. Ferrovias. 7. Estações ferroviárias. 8. Paradas ferroviárias. 9. Estradas de ferro. 10. Viação férrea: Rio Grande do Sul. I. Ápio Cláudio Beltrão. II. Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. III. Título.

CDU 629.4

Bibliotecária: Márcia Piva Radtke.

CRB 10/1557

Crédito para o vídeo:

Projeto Nitratos Cinemateca Brasileira

CEREMÔNIAS” E FESTA DA IGREJA EM SANTA MARIA ESTADO RIO GRANDE DO SUL

Festas de sagração e inauguração da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, em Santa Maria, Rio Grande do Sul, em 5 de dezembro de 1909. Saída do povo da Igreja pela ocasião da festa, da quermesse e da procissão.

Na estação de trem: a plataforma de embarque, os vagões de serviço, os passageiros e a locomotiva partindo.

Código FB: 840

Gênero: Não ficção

Categoria: Curta-metragem

Ano: 1910

Estado: RS

Cromia: BP

Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=wNjCENtD7F0

Acesso 02/08/2025

Áudios trem: BBC Sound Effects: https://sound-effects.bbcrewind.co.uk/search?q=railway

Captura de Áudio:

SONY IC RECORDER ICD-PX312

Digitalização capa e contracapa:

EPSON L 395


https://youtu.be/Kd4iegJvVKA

A SALAMANCA DO JARAU (Adaptado) - João Simões Lopes Neto

Transcrição e adaptação do texto da primeira edição de Lendas do Sul, de João Simões Lopes Neto (1.913) Obra em domínio público, nos termos ...