O gaiteiro Nelson Cardoso, um dos artistas mais autênticos da fronteira oeste do Estado, cujas músicas têm o ritmo e a poesia xucra dos campos fronteiriços, acaba de gravar um disco que em breve começará a ser vendido pela PolyGram.
É
um trabalho que mostra o poeta popular e o instrumentista talentoso que
nasceram depois de um longo convívio de Nelson Cardoso com os usos e costumes
de sua terra em carreiras de cavalo, marcações de gado, fandangos e manifestações
culturais rio-grandenses. A produção foi feita por Ayrton dos Anjos, um dos
principais responsáveis pela maior parte dos discos de músicos gaúchos
aparecidos nos últimos anos.
Não
é, no entanto, o primeiro disco de Nelson Cardoso. Aos 42 anos, ele já possui
uma vasta bagagem musical, iniciada quando, ainda jovem, aprendeu a tocar gaita
com os músicos que animavam carreiras, pelo interior de Sant’Ana do Livramento,
ou faziam a alegria dos peões e das chinocas nos bailes de fim-de-semana, em
grandes fazendas ou nos ranchos de pau-a-pique espalhados pelos corredores ou
esquinas de campos.
Há
dois anos, gravou seu primeiro elepê “solito”, “Meu Jeito”, numa iniciativa
independente, mas, antes, já participara de outros dois elepês com o conjunto “Os
Vaqueanos”, que fundou, em 1967, junto com Heber Artigas, conhecido como “Gaúcho
da Fronteira”, e Adair de Freitas.
O
trabalho da segunda metade dos anos 60 foi pioneiro, pois o nativismo não
estava em alta cotação, como atualmente, e eles conseguiram viajar por todo o País,
levando a música do Rio Grande do Sul aos demais brasileiros. “Os Vaqueanos”
conquistaram fama e foram até chamados ao Rio para apresentar-se na TV Globo. Em
1972, os membros do grupo resolveram seguir carreiras independentes,
desfazendo-se o conjunto.
Nelson
Cardoso resolveu voltar para as terras da família, nas “Pitangueiras”, em
Livramento, e dedicar-se às lides do campo. Não abandou, porém, a velha gaita,
companheira dos longos entardeceres do pampa e de algumas esporádicas excursões
pelos bailes das redondezas ou de algum festival de música nativista.
Paralelamente, fundou o piquete “Negrinho do Pastoreio”, que todo o mês de
setembro monta animado “fogão” lá pelas bandas da “Pecuária” e coloca nas ruas
da cidade mais de 600 homens a cavalo desfilando em homenagem ao “Decênio Heroico”.
As “festas farroupilhas” do “Negrinho do Pastoreio”, onde nunca falta carne, são
as mais famosas do nativismo popular santanense. Há sempre chimarrão e trago de
canha buena. E em roda de músico, não falta nunca a boa música.
Neste
novo disco, onde conta com a participação de Albino Manique (gaita) e Luiz
Cardoso (violão), entre outros músicos, Nelson Cardoso gravou composições
próprias, de Adair de Freitas e de Lauro Simões, além de duas músicas
recolhidas junto a velhos gaiteiros da região da Campanha. Uma delas tocada
pelos músicos do batalhão “Pé no Chão”, corpo guerreiro das antigas revoluções
rio-grandenses, a outra, intitulada “Marcha do Cati”, que levantava os ânimos
dos soldados do coronel João Francisco nos tempos do acampamento famoso.
São
músicas alegres, agitadas, ágeis, que movimentam o disco de Nelson Cardoso, que
ele mesmo considera um trabalho “parelho e bem elaborado”.
Uma
das músicas novas, que certamente fará sucesso, é “Cordeona, Ponteio e Canto”.
Há, também, “Para um pouco e vem de novo”, que nasceu da necessidade que ele
tinha de explicar às pessoas porque estava demorando a fazer um novo disco. Na
milonga “Parceiro”, Nelson Cardoso fala de amor e romance, duas coisas sempre
presentes em suas músicas; e, na valsa “Sentimental”, mostra um estilo antigo,
bem galponeiro, simples e tocante. “É só largar esta valsa, de manhãzita, num
final de baile, que os índios veios, mesmo com um baita facão atravessado na
cintura, começam a lacrimejar”, diz o poeta.
Por
tudo isso, vale a pena esperar pelo novo disco de Nelson Cardoso. Ayrton dos
Anjos promete coloca-lo no mercado o mais breve possível.
Fonte: Revista Tarca –
Cultura Gaúcha – ANO I – Nº 4
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