quinta-feira, 30 de março de 2017

Um Gaiteiro Com Ritmo de Fronteira (Por Danilo Ucha)


O gaiteiro Nelson Cardoso, um dos artistas mais autênticos da fronteira oeste do Estado, cujas músicas têm o ritmo e a poesia xucra dos campos fronteiriços, acaba de gravar um disco que em breve começará a ser vendido pela PolyGram.

            É um trabalho que mostra o poeta popular e o instrumentista talentoso que nasceram depois de um longo convívio de Nelson Cardoso com os usos e costumes de sua terra em carreiras de cavalo, marcações de gado, fandangos e manifestações culturais rio-grandenses. A produção foi feita por Ayrton dos Anjos, um dos principais responsáveis pela maior parte dos discos de músicos gaúchos aparecidos nos últimos anos.

            Não é, no entanto, o primeiro disco de Nelson Cardoso. Aos 42 anos, ele já possui uma vasta bagagem musical, iniciada quando, ainda jovem, aprendeu a tocar gaita com os músicos que animavam carreiras, pelo interior de Sant’Ana do Livramento, ou faziam a alegria dos peões e das chinocas nos bailes de fim-de-semana, em grandes fazendas ou nos ranchos de pau-a-pique espalhados pelos corredores ou esquinas de campos.

            Há dois anos, gravou seu primeiro elepê “solito”, “Meu Jeito”, numa iniciativa independente, mas, antes, já participara de outros dois elepês com o conjunto “Os Vaqueanos”, que fundou, em 1967, junto com Heber Artigas, conhecido como “Gaúcho da Fronteira”, e Adair de Freitas.

            O trabalho da segunda metade dos anos 60 foi pioneiro, pois o nativismo não estava em alta cotação, como atualmente, e eles conseguiram viajar por todo o País, levando a música do Rio Grande do Sul aos demais brasileiros. “Os Vaqueanos” conquistaram fama e foram até chamados ao Rio para apresentar-se na TV Globo. Em 1972, os membros do grupo resolveram seguir carreiras independentes, desfazendo-se o conjunto.

            Nelson Cardoso resolveu voltar para as terras da família, nas “Pitangueiras”, em Livramento, e dedicar-se às lides do campo. Não abandou, porém, a velha gaita, companheira dos longos entardeceres do pampa e de algumas esporádicas excursões pelos bailes das redondezas ou de algum festival de música nativista. Paralelamente, fundou o piquete “Negrinho do Pastoreio”, que todo o mês de setembro monta animado “fogão” lá pelas bandas da “Pecuária” e coloca nas ruas da cidade mais de 600 homens a cavalo desfilando em homenagem ao “Decênio Heroico”. As “festas farroupilhas” do “Negrinho do Pastoreio”, onde nunca falta carne, são as mais famosas do nativismo popular santanense. Há sempre chimarrão e trago de canha buena. E em roda de músico, não falta nunca a boa música.

            Neste novo disco, onde conta com a participação de Albino Manique (gaita) e Luiz Cardoso (violão), entre outros músicos, Nelson Cardoso gravou composições próprias, de Adair de Freitas e de Lauro Simões, além de duas músicas recolhidas junto a velhos gaiteiros da região da Campanha. Uma delas tocada pelos músicos do batalhão “Pé no Chão”, corpo guerreiro das antigas revoluções rio-grandenses, a outra, intitulada “Marcha do Cati”, que levantava os ânimos dos soldados do coronel João Francisco nos tempos do acampamento famoso.

            São músicas alegres, agitadas, ágeis, que movimentam o disco de Nelson Cardoso, que ele mesmo considera um trabalho “parelho e bem elaborado”.

            Uma das músicas novas, que certamente fará sucesso, é “Cordeona, Ponteio e Canto”. Há, também, “Para um pouco e vem de novo”, que nasceu da necessidade que ele tinha de explicar às pessoas porque estava demorando a fazer um novo disco. Na milonga “Parceiro”, Nelson Cardoso fala de amor e romance, duas coisas sempre presentes em suas músicas; e, na valsa “Sentimental”, mostra um estilo antigo, bem galponeiro, simples e tocante. “É só largar esta valsa, de manhãzita, num final de baile, que os índios veios, mesmo com um baita facão atravessado na cintura, começam a lacrimejar”, diz o poeta.

            Por tudo isso, vale a pena esperar pelo novo disco de Nelson Cardoso. Ayrton dos Anjos promete coloca-lo no mercado o mais breve possível.

Fonte: Revista Tarca – Cultura Gaúcha – ANO I – Nº 4

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