sexta-feira, 26 de maio de 2017

Conselhos ao meu filho (Zeca Blau)


Cubra-te a benção de Deus!
estes conselhos, guri,
são mais do povo que meus,
foi com o povo, que aprendi.

Há muito tempo que eu sondo:
Laranjeira carregada,
assim na beira da estrada,
é azeda ou tem marimbondo!

O homem, - não esquecerás –
tenho aqui neste resumo:
é como rolo de fumo,
tem voltas boas e más.

É bom não ter expansões
que vão esporear as de outros!
E antes de domar teus potros,
quebra o queixo das paixões!

Nunca apartes sem sinuelo,
- É o que a experiência me ensina. –
Não opines de atropelo,
nem julgues de relancina.

A estrada por que tu passas,
segue sem alterações,
pois que, - sete profissões:
quarenta e nove desgraças.

Quem trabalha, mostra calo.
Amigo? é artigo vasqueiro!
Tendo, preza-o em primeiro
e em segundo o teu cavalo.

É útil criar um cão,
para que se julgue o amigo.
Que um é o perigo fiel,
o outro é fiel no perigo...

Procura ter a alma sã.
Teus feitos? Que outros contem.
E, sempre guri, o teu ontem
seja espelho do amanhã!

Se envelheceres solteiro
e pensares num retôvo,
lembra o ditado brejeiro:
- Peito velho – emplasto novo...

Salvar-te, meu filho, do erro,
e dos volcaos das muchachas,
mais pode o livro de FIERRO
nos conselhos de VIZCACHA.

Guarda segredos, meu filho,
Como o guardião BORORÉ.
- Laranjeira pra ser doce,
tem que ter sombra no pé...

Fala franco, pensa muito,
tendo em vista o mandamento:
- Perdulário de palavras,
Pedinte de pensamento!

O velho, já sem aprumo,
da lonca da sua existência,
tira os tentos da experiência
para a trança do teu rumo.
(Zeca Blau, Poncho e Pala, Sulina, 1966)

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