Dia de chuva no campo.
De vez em quando um relampo
racha o céu de cima a baixo.
Lindo o dia. Dá cobiça
Pra um solteirito ir ao
facho.
Puxo o baio com preguiça
com carinho escovo e rasco.
Olho o tempo. Enseio o pingo.
Miro uma coisa no casco.
Faz de conta que é domingo,
sou solteiro, quebro o cacho.
Chuvita, horas vadias,
quero ouvir tranquilo e
ancho,
junto da flor mais sestrosa
tuas habaneiras macias,
sobre a coberta dum rancho.
Isso fechando um crioulito,
que deixa a mão amarela,
mas feito, assim, despacito,
em palha branca e cheirosa
cortada pela mão dela.
E penso nela com pena,
que me esperando não sai.
Cevado por mão morena
tem outro sabor o amargo!
E eu sem demora me largo,
cantando um larailailai.
Mas a chuva mansa e fina
que era, agora em jorros
rola,
como uns cabelos de china,
que a gente às vez
desenrola...
Já tenho preguiça de ir.
E antes, quantos rios a nado!
Fico assim meio embretado
entre ficar e seguir.
- Então? Pagou vale à chuva?
–
(alguém sorrindo me zomba),
deixo a pergunta zunir,
e pélo o baio, anca de viúva,
e largo peito de pomba.
Não, patrício, sou vivente
quando quero perco o tino
não tenho medo de enchente,
sou laço de boi brasino,
sou tropa de marca quente!
Já vai pendendo pra tarde
poucas braças tem o sol,
que não se vê, mas calculo,
porque a chuva o céu encarde,
Trazem milho do paiol
pra os fletes deste gandulo.
E hoje, com mais ganância,
quebram maiz de sustância,
encolhiditos de frio;
soltam fumaça do lombo.
E este, no mais, o tombo
hoje com a chuva e com o frio.
No galpão há movimento,
cada um tem seu labor:
Um aquenta uma chaleira;
aquele, desquina um tento;
outro trança uma soiteira
e eu corto esse maneador...
Fonte: Poncho e Pala, Ed. Sulina, 1966.
Fonte: Poncho e Pala, Ed. Sulina, 1966.
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