Onde foi casa é tapera.
As trovas são as guanxumas
Que crescem uma por uma
Cá dentro desta tapera.
Noite de chuva. Solito,
lembro esquecidas
pinguanchas...
Cordeonas... Trovas...
Guitarras
nas cabeceiras das canchas.
E vêm chinocas passando
às pontas, barbaridade!
do brete do esquecimento
pra tarca desta saudade.
Pego a cordeona e floreio
uma toadita qualquer;
e em voz baixa canto uns
versos
sobre o cavalo e a mulher.
Os dedos em contradança
pelo correr do teclado,
têm mais requebros e momos
do que negro namorado.
Meus dedos estão fogosos
e o verso pronto também.
Como changueiro adestrado,
de qualquer modo sai bem.
A trova do missioneiro
por gosto no mais cantando,
é faca marca coqueiro:
sai da bainha cortando.
Na gaita é que esqueço as
dores
que, em pouco tempo, um
pachola
alquebram, deixando o rosto
que nem retôvo de bola...
E lembro o que, com direito,
goza todo bom gaúcho,
onde ele encerra a alegria,
orgulho, prazer e luxo:
Conhecer , não sendo lerdo,
nem manco para um churrasco,
no escuro a vaca mais gorda
pelo barulho dos cascos.
Tomar o primeiro mate,
porém, sem nunca cevá-lo;
cortar o melhor pedaço;
montar o melhor cavalo.
Com boas pilchas campeiras,
e, assim, na flor da tropilha,
com aprumo empurrar o laço
sem misérias de rodilhas;
Num toso ser bacharel,
num quatro galhos: doutor,
governo destas chinocas
pelas províncias do amor.
Paro, que o tempo as esporas
no relógio chega e esbarra
bem em frente à meia-noite,
- égua madrinha das horas.
(Zeca Blau – Poncho e Pala, Ed. Sulina 1966)
Nenhum comentário:
Postar um comentário