sexta-feira, 26 de maio de 2017

Serão Galponeiro - Poema (Zeca Blau)



Onde foi casa é tapera.
As trovas são as guanxumas
Que crescem uma por uma
Cá dentro desta tapera.

Noite de chuva. Solito,
lembro esquecidas pinguanchas...
Cordeonas... Trovas... Guitarras
nas cabeceiras das canchas.

E vêm chinocas passando
às pontas, barbaridade!
do brete do esquecimento
pra tarca desta saudade.

Pego a cordeona e floreio
uma toadita qualquer;
e em voz baixa canto uns versos
sobre o cavalo e a mulher.

Os dedos em contradança
pelo correr do teclado,
têm mais requebros e momos
do que negro namorado.

Meus dedos estão fogosos
e o verso pronto também.
Como changueiro adestrado,
de qualquer modo sai bem.

A trova do missioneiro
por gosto no mais cantando,
é faca marca coqueiro:
sai da bainha cortando.

Na gaita é que esqueço as dores
que, em pouco tempo, um pachola
alquebram, deixando o rosto
que nem retôvo de bola...

E lembro o que, com direito,
goza todo bom gaúcho,
onde ele encerra a alegria,
orgulho, prazer e luxo:

Conhecer , não sendo lerdo,
nem manco para um churrasco,
no escuro a vaca mais gorda
pelo barulho dos cascos.

Tomar o primeiro mate,
porém, sem nunca cevá-lo;
cortar o melhor pedaço;
montar o melhor cavalo.

Com boas pilchas campeiras,
e, assim, na flor da tropilha,
com aprumo empurrar o laço
sem misérias de rodilhas;

Num toso ser bacharel,
num quatro galhos: doutor,
governo destas chinocas
pelas províncias do amor.

Paro, que o tempo as esporas
no relógio chega e esbarra
bem em frente à meia-noite,
- égua madrinha das horas.
(Zeca Blau – Poncho e Pala, Ed. Sulina 1966)

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