O nome do naturalista René
Bonpland é mais conhecido sobretudo em ligação com o de Alexander
von Humboldt, de quem foi companheiro em suas andanças, pesquisas e
aventuras pelo Brasil-colônia, em torno de 1800. Viajavam e
trabalhavam juntos, inclusive, quando foram presos por uma guarnição
militar portuguesa no coração da Amazônia e tiveram apreendido
todo o seu equipamento, permanecendo sob custódia por vários meses,
até que se convencessem os lusos da natureza inofensiva das
atividades a que se dedicava a dupla. Não é de se estranhar, aliás,
que levantassem as piores suspeitas aqueles dois estrangeiros
malucos, a vagar pelos confins da floresta virgem com sua aparelhagem
esquisita, examinando bichos e plantas.
Mas parece que René Bonpland não
era seu verdadeiro nome. Chamava-se realmente Aimé Jacques Alexandre
Goujand, nascido em La Rochele em 1773. Depois de sua acidentada
parceria da juventude com Humboldt, voltou à França, onde exerceu
funções públicas de certa importância (consta que chegou a ser
Intendente dos Domínios da Imperatriz Josefina). Mas sua vocação
andeja revelou-se mais forte: ele retornou ao Brasil na década de
1820, iniciando aqui seu talvez mais longo período de relativo
sedentarismo, que se prolongou até a sua morte, em 1842. Veio
acompanhado de quatro jovens, das famílias Brandon (depois e aqui
Brandão), Jacques e Balbé, cujas numerosas descendências são bem
conhecidas no Estado e particularmente na região missioneira.
O que tem isso a ver com
Bossoroca? Pois foi à margem do rio Piratinim, perto da
desembocadura do Lajeado Godói – portanto, em terras hoje
pertencentes a esse Município – que o andarengo incorrigível
finalmente deitou raízes, ou pelo menos reduziu o raio de suas
incursões. Na região, ficou conhecido como Amado Bonpland (o que
parece confirmar o prenome francês Aimé),
estabeleceu excelentes
relações com a população local, praticou caritativamente a
medicina e ganhou a irrestrita simpatia de todos, ricos e pobres.
Segundo a tradição oral colhida e perpetuada por Monsenhor
Estanislau Wolski em sua Polianteia Missioneira,
Bonpland manteve essa residência até cerca de 1835, quando se
transferiu para uma chácara nos arredores da cidade de São Borja.
Aí terminou seus dias em 1842.
Durante
todos esses anos, mais de vinte, mesmo abstendo-se de viagens mais
longas, nunca deixou de embrenhar-se frequentemente pelas matas da
região, movido pela compulsão da pesquisa e do estudo de campo.
Permanecia dias, semanas ou meses acampado, só ou na companhia de
poucos companheiros, identificando e comparando espécies animais e
vegetais. Nunca mais voltou à sua Europa natal, e seus restos
mortais repousam
num cemitério
de Libres, Argentina, para onde seu corpo foi conduzido embalsamado,
por razões desconhecidas.
Fonte:
Fabrício, Adroaldo Furtado. Causos da Bossoroca e de outras
querências. Porto Alegre: AGE, 1999, p. 120/121
Um comentário:
Sensacional este artigo, personagem histórico, boas lembranças no museu ergo-ecológico de São Borja.
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