quinta-feira, 22 de junho de 2017

Ribeiro Louco - Causo (Antônio Augusto Fagundes)


Disco voador, lá no Alegrete, dá nojo... E eu “tou” me lembrando, nesta hora, de um rapaz que serviu comigo no glorioso Sexto Regimento de Cavalaria. Nós “chamava” de Ribeiro Louco. Já no apelido, o índio não é de laçar com sovéu curto. Nunca se apertava. É capataz dum daqueles herdeiros do falecido Gregoriano Correia da Costa, homem que deixou história lá no Alegrete.

Um dia, pensei que ia apertar o Ribeiro. Os russos tinham largado aquele primeiro Sputnik, e os jornais diziam que o satélite fazia: bip, bip, bip, não sei o quê...

Fui visitar o Ribeiro (Nós “tinha” servido em 1953).

- Ribeiro, tu já ouviste falar que os russos largaram uma porcaria aí pelo espaço? Não apareceu aqui?

- Não. Quer dizer que não.

Mas ele sentiu que esbocei um sorrizinho.

- Não, quer dizer que não. Continuou:

- Mas, tem uma coisa!

Digo: “Aí vem o Ribeiro...”

- Uma noite dessas, eu olhei pro céu. Passou uma bola de fogo, fazia bi, bi, bi... (Ele nem sabia que o barulho era bip, mas “ouviu de orelha” e já aproveitou pra me...). Fazia bi, bi, bi, e eu estou que era o tal de “satel”.

Este era o Ribeiro Louco, cujo sonho na vida era falar com um tripulante de disco voador. E realizou este sonho...

Cousa de umas três, quatro semanas, ele estava sestiando. A patroa “veia” tinha ido visitar uns parentes. Andava um, meio atentado lá no Alegrete e ele ficou meio sozinho no rancho.

O Ribeiro mora cerca de uns trinta, trinta e cinco quilômetros do Alegrete, lá no rumo dos Pinheiros, e ouviu um zunido. (Isso, ele me contou e jurou que queria cair morto no meio de quatro “vela”, que era verdade). Uma luz que clareou tudo em derredor.

“É o tal disco voador. Hoje converso com essa gente”, pensou.

Saiu pra fora e tinha, como é que vamos dizer, capa de circo de borlantim, a tal coisa, mas só a parte de cima. E tudo clareando e branquinho que parecia um queijo recém-feito.

Aquilo veio descendo, veio descendo.

O Ribeiro olhou pra cima, no meio das nuvens. Parecia um charutão bem grande. Bem escuro. Cheio de “janelinha” iluminada.

Olhou pro disco e o disco veio. Parou bem no potreiro. Espantou uma vaca mansa que tinha por ali e um petiço aguateiro.

Desce uma escadinha pro chão. Aquela escadinha sai do disco e vem direto ao Ribeiro Louco. Um homenzinho verdinho, mais ou menos dessa alturinha (com mais escamas que traíra das graúdas) e duas guampinhas que não paravam de se mexer pra tudo que era lado.

- É a cousa mais engraçada, me dizia o Ribeiro Louco. Não falei com ele, e ele não falou comigo. A gente se entendia só pelo “célebro”!

O gaúcho da minha zona é muito tímido, mas é muito metido. Ele mete o cavalo, mesmo! Já sai dizendo o que não é da conta dele.

“Ainda que mal pergunte” (pensou o Ribeiro e transmitiu a pergunta ao verdinho), “não é da minha conta, o amigo vem de onde?”

“Venho de um planeta não sei o quê, lá perdido não sei onde, e este meu disco, minha nave pequena, saiu daquela nave grande que está lá em cima do Alegrete. Parada.”

HANNNNNNNN... (O Ribeiro não entendeu coisíssima nenhuma). HANNNNN... Ainda que mal pergunte, que não é da minha conta, o amigo tem essas guampinhas como pra o quê?”

Aí o verdinho explicou: “Isso que o senhor chama de guampinhas são minhas antenas. Uma, “tá” ligada aqui na nave-mãe que “tá” sobrevoando o Alegrete. A outra, “tá” ligada lá no meu planeta XYZ, de origem, à outra antena. Sempre, as duas, transmitindo notícias. Eu, assim, sou sempre o primeiro a saber.”

Aí, parou e olhou o Ribeiro Louco: “Por quê? Vocês aqui no Alegrete não tem dessas guampinhas?”

“Não, algum tem, mas é sempre o último a saber...”


Fonte: Rodada de Causos. Cadernos Gaúchos. Equipe Técnica do IGTF – Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore. Porto Alegre: Evangraf, 1989, p. 65/67.

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