Um
tradicionalista que ensinou o maior violonista do país a tocar o instrumento.
Todos
sabem da admiração que tenho pelo senhor João Carlos D’Ávila – o “Paixão
Côrtes”, o Laçador. Eu o conheço pela estreita relação que sempre teve e tem
com toda a minha família, desde os meus avós, seguidos pelos meus tios e pelo
meu pai – outro grande admirador dele.
Uma
das primeiras histórias que ouvi a respeito do Paixão Côrtes foi de uma
gravação em São Paulo, em um dos maiores estúdios do país, de um LP com vários
convidados. Logo cedo começaram a gravar os violões do disco, quando a
delegação gaúcha devidamente pilchada chegou. O Nêgo Véio detesta que fiquem em
dúvida se ele é gaúcho ou não, por isso carrega o mate até pra motel. Vá que dê
vontade de matear!
Do
lado de fora do estúdio, o Paixão observava pelo vidro do aquário o violonista
gravando um xote. E o Paixão (que não tocava um ovo de violão, só arranhava uns
dois acordes!) interrompe o cara, invade o estúdio, toma o violão da mão do
músico e mostra pra ele:
-
É assim que se toca o nosso xote!
O
violonista olhou bem para o cara de xiripá e chapéu de pança de burro na
cabeça, e concordou. Foi então que o técnico abriu a porta e falou:
-
Baden, faz como o gaúcho tá pedindo.
-
Baaaden! – exclamou o Paixão com cara de susto.
-
Sim! – disse o operador. – Esse é o Baden Powell, trabalha conosco aqui no
estúdio.
O
Paixão estava ensinando só o maior violonista do país a tocar! Paixão Côrtes
foi saindo bem “na manha”, como se diz na fronteira.
Bom,
uma coisa é certa, não é qualquer Nêgo Véio que pode colocar no seu currículo:
“eu ensinei o Baden Powell a tocar violão”.
Fonte: Causos do Nêgo Véio. Neto Fagundes, 1 ed.
Porto Alegre, RS: Artes e Ofícios, 2016.
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