sábado, 14 de abril de 2018

O PROFESSOR PAIXÃO CÔRTES - Causos do Nêgo Véio (Neto Fagundes)


Um tradicionalista que ensinou o maior violonista do país a tocar o instrumento.

Todos sabem da admiração que tenho pelo senhor João Carlos D’Ávila – o “Paixão Côrtes”, o Laçador. Eu o conheço pela estreita relação que sempre teve e tem com toda a minha família, desde os meus avós, seguidos pelos meus tios e pelo meu pai – outro grande admirador dele.

Uma das primeiras histórias que ouvi a respeito do Paixão Côrtes foi de uma gravação em São Paulo, em um dos maiores estúdios do país, de um LP com vários convidados. Logo cedo começaram a gravar os violões do disco, quando a delegação gaúcha devidamente pilchada chegou. O Nêgo Véio detesta que fiquem em dúvida se ele é gaúcho ou não, por isso carrega o mate até pra motel. Vá que dê vontade de matear!

Do lado de fora do estúdio, o Paixão observava pelo vidro do aquário o violonista gravando um xote. E o Paixão (que não tocava um ovo de violão, só arranhava uns dois acordes!) interrompe o cara, invade o estúdio, toma o violão da mão do músico e mostra pra ele:

- É assim que se toca o nosso xote!

O violonista olhou bem para o cara de xiripá e chapéu de pança de burro na cabeça, e concordou. Foi então que o técnico abriu a porta e falou:

- Baden, faz como o gaúcho tá pedindo.

- Baaaden! – exclamou o Paixão com cara de susto.

- Sim! – disse o operador. – Esse é o Baden Powell, trabalha conosco aqui no estúdio.

O Paixão estava ensinando só o maior violonista do país a tocar! Paixão Côrtes foi saindo bem “na manha”, como se diz na fronteira.

Bom, uma coisa é certa, não é qualquer Nêgo Véio que pode colocar no seu currículo: “eu ensinei o Baden Powell a tocar violão”.


Fonte: Causos do Nêgo Véio. Neto Fagundes, 1 ed. Porto Alegre, RS: Artes e Ofícios, 2016.

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