FESTIVAIS
Especial
para “Tarca”
Até o dia 30 de junho estarão abertas as inscrições para a 2ª Tropeada da Canção Nativa de Sant’Ana do Livramento, festival que será realizado, naquela cidade da fronteira com o Uruguai, entre os dias 31 de julho e 2 de agosto. O prêmio para o ganhador e a ajuda de custo devem estar entre os mais baixos dos festivais de música que se realizam no Estado, mas o pessoal do CTG Rincão da Carolina, que organiza o evento, está tentando encontrar formas para que o sucesso e a repercussão da festa compensem a grana curta.
Esta
situação possibilita que se analise um pouco a proposta feita pelo Luis
Coronel, na edição anterior da “Tarca”, quando sugere que nenhum músico aceite
participar de festival se não tiver garantido um cachê de Cz$ 5 mil por
apresentação. O Coronel sugere, também, que não se use mais a expressão “ajuda
de custo” para designar o dinheiro que cada festival entrega aos compositores
que tiveram músicas classificadas para ajudá-los a pagar os músicos e cantores
que levam para defender suas músicas.
É
importante e interessante esta sugestão do Luis Coronel, principalmente por que
vem em defesa do músico e do crescimento da qualidade de cada festival.
Acredito, no entanto, que o assunto precisa ser melhor analisado. Acho que
posso falar com certa tranquilidade sobre o assunto “ajuda de custo” porque fui
dos primeiros a defender sua criação, na Califórnia da Canção Nativa, de
Uruguaiana, quando ele era o primeiro festival de música nativa importante do
Estado, estava crescendo e não dava quase nenhuma consideração aos músicos.
Hoje a história é outra, mas, naqueles anos de 73, 74 e 75 – o próprio Coronel
é testemunha disso – o pessoal fazia os 700 quilômetros até Uruguaiana por sua
única e exclusiva conta. Ivaldo Roque e Jerônimo Jardim, por exemplo, cansaram
de chegar a Uruguaiana, de ônibus, poucas horas antes de ter que subir ao
palco, e logo depois voltar a Porto Alegre, porque precisavam trabalhar no
outro dia. Se, como aconteceu, tivessem música classificada para a última
noite, tinham que fazer outra viagem, e tudo com dinheiro do próprio bolso.
Lembro-me
da primeira mesa redonda que fizemos na Califórnia, numa sala do Hotel Glória,
com a participação, entre outros, do Paixão Cortes, do Glaucus Saraiva e do
Osvil Lopes para sugerir aos organizadores, entre os quais Colmar Duarte e
Henrique Dias de Freitas Lima, a adoção do sistema de ajuda de custo aos
compositores classificados. Foi uma batalha difícil. Posteriormente, levei a
mesma luta para todos os festivais cujos organizadores me procuravam para
solicitar sugestões, e estes, confesso, foram mais rápidos do que a Califórnia
na adoção do sistema.
Não
tenho, como o Luis Coronel, o mesmo preconceito contra a expressão “ajuda de
custo”. Ela é isso. Nada mais. Agora, se ele acha que os compositores devem
cobrar com um “X” para colocarem suas canções e seus músicos no palco, aí é
outra coisa. Acho que ninguém pode me chamar de inimigo dos músicos. Ao
contrário. Mas entendo esta sugestão do Coronel muito discutível. Se formos
colocar em prática isso que ele sugere, estão o festival deixará de ser festival.
Passará a ser um espetáculo, montado como outro qualquer, onde músicos e
cantores apenas estarão apresentando músicas inéditas, as quais o público não
conhece. Terá sido eliminado o risco. E isso, na iniciativa privada, que o
Coronel defende, como empresário que é, e neste tipo de competição que é um
festival, faz parte importante do esquema.
Já
há quem diga que os festivais de música do Rio Grande do Sul – são 38, segundo
um levantamento do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore – são um circo, com
os mesmos artistas, os mesmos números, os mesmos palhaços, que se locomovem de
um lado para outro, em verdadeira companhia de borlantim, Se houver este tipo
de pagamento, como um cachê por apresentação, um pouco mais do mistério, do
sabor, da aventura e da competição deixará de existir. Os festivais, que já
envolvem certos aspectos estranhos à música e ao público, como a política, por
exemplo, passarão a outro nível. Ou será que o Luis Coronel que transformá-los
em algo certinho, sem erros, mas assépticos, como os festivais da Globo? Lá
todo mundo recebe seu cachê, direitinho e um mundo de mordomias, mas qual é o
resultado? As coisas boas, infelizmente, é uma regra do mundo, precisam ser
batalhadas e obtidas com dificuldades e superação de obstáculos. A vitória
assim, tem melhor sabor.
LIVRAMENTO
Mas,
voltemos à 2ª Tropeada da Canção Nativa, cuja divulgação me levou ao debate com
o Luis Coronel. Ela será realizada no Ginásio Cirino L. Azevedo e distribuirá,
além de Cz$ 5 mil para o primeiro, Cz$ 2.500,00 para o segundo e Cz$ 1.500,00
para o terceiro colocado, prêmios aos melhores intérpretes masculino e
feminino, conjunto vocal e instrumental e melhor instrumentista. Cada música
classificada receberá uma ajuda de custo de Cz$ 1.500,00.
As
músicas devem ter uma linha campeira, pois um dos objetivos do festival é
cultivar o gosto pelos temas regionais. Cada compositor poderá inscrever até
três composições. Os organizadores não colocaram no folheto com a ficha de
inscrição o endereço para remessa das fitas cassete e das letras, mas um dos
patrocinadores do evento é o jornal “A Platéia”, que fica na rua 13 de Maio,
715, Sant’Ana do Livramento, CEP 97.570. A Ordem dos Músicos do Brasil, em
Porto Alegre, também deve ter informações sobre o evento.
O
que o CTG Rincão da Carolina, principal patrocinador da 2ª Tropeada da Canção,
deveria fazer é pressionar a Prefeitura Municipal, o comércio e a indústria de
Livramento para obter mais recursos para a premiação. A quantia de Cz$ 5 mil
para o primeiro colocado é irrisória. A ajuda de custo também é pequena,
considerando-se que a distância entre Livramento e Porto Alegre, por exemplo, é
de quase 500 quilômetros. Só em combustível e numa refeição, durante a viagem,
o pessoal gasta os Cz$ 1.500,00 da ajuda de custo por música classificada. E
Livramento, pelo que todos sabemos, é uma cidade rica, movimentada, com um
comércio exuberante, principalmente em função de sua qualidade de fronteira com
Rivera, constantemente visitada por turistas. Quanto mais dinheiro o poder
público e a iniciativa privada investir num festival desse tipo, mais a cidade
será conhecida em outras regiões.
O
vencedor da 1ª Tropeada, em 1985, foi o gaiteiro, compositor e cantor Nelson
Cardoso. Pelo seu nome, ele levou o da cidade pelos meios artísticos do Estado
e do País. Se a nova edição for ampliada, tiver mais recursos e atrair bons
músicos de fora, a divulgação de Livramento será muito maior.
Fonte:
Tarca – Revista de Cultura Gaúcha – ANO III – Maio/1986 - Nº 14 - p. 33/34
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