domingo, 26 de janeiro de 2020

Tradições e Costumes Campeiros - O Namoro (Raul Annes Gonçalves)




Em campanha a vida de namorados era dura. Precisava ter paciência, constância e amor para levá-la avante. No geral o namoro era resultado de encontros em bailes. Depois, outros bailes e o par começava a dançar “de efetivo”.

Ao terminarem uma “marca”, isto é, uma dança, sentavam-se juntinhos. Aí então, é que as pessoas começavam a notar a preferência de um pelo outro. Estava declarado o par de namorados.

Até esta fase era fácil, vitória sobre vitória. Mas passado um tempo a moça começava a insinuar ao moço para visitá-la em casa. – “E teu pai?” – era logo a pergunta do gaúcho. “Ora”, respondia a prenda, “meu pai não é um bicho papão”.

Com este e outros argumentos o rapaz enchia-se de coragem... Até que, enfim, uma bela tarde domingueira encilhava o pingo com os arreios festivos e rumava para o rancho da namorada.

Ao bolear a perna depois de dar o tradicional “Ó de casa”, amarrava o cavalo no palanque e, à convite de pessoas de casa passava para sala. Lá os pais já o esperavam.

Com jeito desconfiado, o recebiam friamente. Atrás dos pais, de pé, a pobre moça com o coração aos pulos, aguardava sua vez de apertar a mão do moço. A conversa era monótona. Falava-se de plantação, do tempo, do campo, pastagens e criação.

Nada, porém, que fizesse alusão do motivo daquela visita. Assim acontecia para mais de quatro semanas entre as visitas nos domingos.

Passado este tempo, entre os namorados, já havia troca de palavras e sentavam pertinho. Nada, porém de se darem as mãos e nunca ficavam a sós. Sempre tinha alguém a vigiá-los. Os namorados valiam-se da rodada de chimarrão, sempre enchido e tranqueado pela moça, para se tocarem os dedos na entrega da cuia. Isso era momento de grande emoção para ambos.

Neste ligeiro contato e no olhar revelavam promessas de amor. Um belo dia a velha, já mais íntima com o rapaz arriscava a cruciante pergunta: “Suas intenções e visitas são para casar?” – O rapaz meio surpreso e com receio de ser indelicado respondia afirmativamente. “É para quando?”, emendava a velha. O gaúcho cada vez mais embaraçado declarava:

- “Pode ser dentro de quatro meses, dona”.

O tempo passava breve e a futura sogra alertava o moço que entravam no mês do compromisso. Era necessário pedir a mão da filha ao pai.

O pobre rapaz coagido e dominado pelo olhar suplicante da moça, não encontrando outra alternativa, confirmava: - “É, tirante quinze dias, pode ser quando quiserem”.

Aqui terminava a fase do namoro e começava a do noivado.

(Raul Annes Gonçalves. Mala de Poncho – Reminiscências e Costumes Campeiros. Martins Livreiro-Editor. Porto Alegre (RS): 1987.)

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