Em campanha a vida de
namorados era dura. Precisava ter paciência, constância e amor para
levá-la avante. No geral o namoro era resultado de encontros em
bailes. Depois, outros bailes e o par começava a dançar “de
efetivo”.
Ao terminarem uma “marca”,
isto é, uma dança, sentavam-se juntinhos. Aí então, é que as
pessoas começavam a notar a preferência de um pelo outro. Estava
declarado o par de namorados.
Até esta fase era fácil,
vitória sobre vitória. Mas passado um tempo a moça começava a
insinuar ao moço para visitá-la em casa. – “E teu pai?” –
era logo a pergunta do gaúcho. “Ora”, respondia a prenda, “meu
pai não é um bicho papão”.
Com este e outros argumentos
o rapaz enchia-se de coragem... Até que, enfim, uma bela tarde
domingueira encilhava o pingo com os arreios festivos e rumava para o
rancho da namorada.
Ao bolear a perna depois de
dar o tradicional “Ó de casa”, amarrava o cavalo no palanque e,
à convite de pessoas de casa passava para sala. Lá os pais já o
esperavam.
Com jeito desconfiado, o
recebiam friamente. Atrás dos pais, de pé, a pobre moça com o
coração aos pulos, aguardava sua vez de apertar a mão do moço. A
conversa era monótona. Falava-se de plantação, do tempo, do campo,
pastagens e criação.
Nada, porém, que fizesse
alusão do motivo daquela visita. Assim acontecia para mais de quatro
semanas entre as visitas nos domingos.
Passado este tempo, entre os
namorados, já havia troca de palavras e sentavam pertinho. Nada,
porém de se darem as mãos e nunca ficavam a sós. Sempre tinha
alguém a vigiá-los. Os namorados valiam-se da rodada de chimarrão,
sempre enchido e tranqueado pela moça, para se tocarem os dedos na
entrega da cuia. Isso era momento de grande emoção para ambos.
Neste ligeiro contato e no
olhar revelavam promessas de amor. Um belo dia a velha, já mais
íntima com o rapaz arriscava a cruciante pergunta: “Suas intenções
e visitas são para casar?” – O rapaz meio surpreso e com receio
de ser indelicado respondia afirmativamente. “É para quando?”,
emendava a velha. O gaúcho cada vez mais embaraçado declarava:
- “Pode ser dentro de
quatro meses, dona”.
O tempo passava breve e a
futura sogra alertava o moço que entravam no mês do compromisso.
Era necessário pedir a mão da filha ao pai.
O pobre rapaz coagido e
dominado pelo olhar suplicante da moça, não encontrando outra
alternativa, confirmava: - “É, tirante quinze dias, pode ser
quando quiserem”.
Aqui terminava a fase do
namoro e começava a do noivado.
(Raul Annes Gonçalves. Mala
de Poncho – Reminiscências e Costumes Campeiros. Martins
Livreiro-Editor. Porto Alegre (RS): 1987.)
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