sábado, 22 de fevereiro de 2020

Dialogar (Ana Beatriz Rosa)



Como ter conversas melhores? Um guia para você se comunicar sem precisar lacrar


Seja mais interessado para ser mais interessante.


12/02/2020



Ser alguém com quem as pessoas gostam de conversar parece ser algo natural. Basta ser você mesmo e demonstrar interesse pelo que as outras pessoas têm a dizer.
Certo? Certo.
Mas isso parece bem mais simples na teoria do que na prática. Como é possível se comunicar e desenvolver melhor as conversas — ainda mais em tempos de muita lacração e palestrinha e de pouca escuta?
Preparamos um guia para te ajudar em conseguir uma comunicação mais efetiva.

1. Entenda as camadas que podem compor uma conversa

O primeiro passo, talvez, seja entender quais são os temas que podem render o papo e por onde é mais seguro seguir.
A primeira camada é a mais superficial, e também a mais confortável. Aqui, vale discutir qualquer novidade que esteja bombando na cultura pop, como foi o desempenho do seu time no último jogo, o que esperar do clima e qualquer outra experiência mais banal. Sabe o clichê de “conversa de elevador”? A primeira camada é exatamente isso!
Na segunda camada, você já pode testar se debruçar por temas que demandam mais argumentos - e também mais escuta - por seu potencial de controvérsias. Inclua: religião, política e até mesmo relacionamentos. A principal dica para avançar por esses temas é o bom senso. Preste atenção se as outras pessoas estão dispostas a discutir o noticiário com ênfase, ou se só preferem falar do último lançamento do Tarantino. Se for este o caso, não tem problema. Se você sentir abertura, vá adiante, escute e opine também. Sempre respeitosamente.
Depois, a terceira camada. Pode parecer que só os corajosos adentram por aí, mas essa é talvez a sua grande oportunidade de construir intimidade com outras pessoas. Experimente, por que não, falar sobre si, e não só perguntar do outro. Isso pode deixar as pessoas mais à vontade para compartilhar. Mas não seja egocêntrico. É como se fosse uma tentativa de “abrir espaço” para que a conversa se torne confortável — para que família, saúde, emoções e vida profissional ganhem mais espaço no diálogo.
Outra dica bem básica é evitar perguntas que coloquem outras pessoas em uma saia justa. Em vez de questionar: “Como anda sua noiva?”, ou “E aí, foi promovido?”, experimente perguntar: “E aí, me atualiza da sua vida?” ou “Me conta as novidades do seu trabalho?”.
Lembrete mental: A forma como a gente se comunica é tudo.

2. Seja mais interessado para ser mais interessante

É isso. Uma escuta atenta faz toda a diferença.
Sabe aquela sensação de cansaço e exaustão quando a gente deixa uma roda de conversa? Talvez alguns introvertidos possam se identificar comigo, mas isso vale também para os extrovertidos.
Às vezes, temos tanta pressa em expor os nossos pontos e deixar claro o que queremos dizer que falamos demais e ouvimos “de menos”. Depois, vem aquele sentimento de ressaca moral: será que eu deveria ter dito tudo aquilo?
Para evitar essas sensações, o melhor é ouvir mais e esperar o outro compartilhar também os seus pontos de vista.
O estudo “Diálogo: Conexão que atravessa bolhas” traz um ensinamento importante. Precisamos nos afastar de uma escuta colonizadora (que muitas vezes é autoritária e sempre parte do ‘eu’) para uma escuta transformativa (mais inclusiva).
A escuta colonizadora é um modelo falacioso em que se ouve o outro a partir da própria perspectiva, já a “escuta transformativa”, que inclui o outro como relevante, necessário e pertencente, é operar um movimento contra-narcísico”, explica Christian Dunker, psicanalista e professor titular de Psicologia da Universidade de São Paulo.
Ou seja, praticar uma escuta ativa de verdade é não apenas ouvir o outro, mas tentar afastar as nossas perspectivas, o nosso pré-julgamento, e estar aberto ao que está sendo dito, de fato.

3. Afaste a ideia de querer ser o sabe-tudo, o ‘lacrador’ da roda de conversa

É sério, todos nós já nos irritamos com alguém em uma roda de conversa. Mas e quando nós somos essa pessoa? Sim, isso também acontece...
Sabe aquela brincadeirinha do “bastão” da palavra? Ela também funciona na vida adulta. Tudo bem a gente ter as nossas convicções, mas o outro sempre terá um ponto interessante a acrescentar, mesmo que seja divergente. Portanto, evite ser o lacrador da roda — aquele que sabe tudo, que sempre tem razão.
Ter empatia, no entanto, não quer dizer sobrepor todos os limites. Se o comentário do outro é uma ofensa, por exemplo, ai é hora de se preservar. Não precisamos aceitar tudo que é dito.
Mas, em geral, o que vai fazer a diferença em uma boa conversa é a nossa capacidade de estar presente, de se fazer atento. Olho no olho, curiosidade, perguntas e reflexões compartilhadas são bons ingredientes.
Em temas controversos, uma boa saída é pensar e formular o seu ponto de vista na hora de apresentá-lo. Mas ser incisivo também é uma opção, desde que não desrespeite ninguém.
Por exemplo, se você quiser colocar uma posição que considera mais dura, experimente dizer: “Eu acho que a verdade é essa. Mas o que você acha?”.
No mais, quer você ame ou odeie, os diálogos são importantes.
Uma boa conversa pode te render amigos para toda a vida, parceiros de negócios e até alguns crushs.
No fim, o mais importante é estabelecer conexões. Vá em frente. Converse!

Acesso: 22/02/2020

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