Cometi um grande erro. E agora?
É
próprio da natureza humana que se fique chateado quando cometemos um
erro. Mas é muito importante tentar manifestar a nossa
vulnerabilidade.
19/02/2020
Ops.
Então
quer dizer que você respondeu aquele email de trabalho com
comentários desnecessários para a pessoa errada. Ou quer dizer que
você perdeu completamente a noção do horário e se atrasou para a
reunião mais importante do dia. Ainda, aquela discussão com o seu
parceiro na noite anterior foi longe demais e você disse coisas que
não queria ter dito.
Parece
que o seu mundo vai acabar, certo? Errado.
É
claro que todos nós sabemos que isso não é verdade. Todo mundo
erra de vez em quando e provavelmente isso acontecerá com você mais
vezes do que gostaria. Os nossos erros raramente são tão
catastróficos quanto a dimensão que damos a eles. E isso não quer
dizer que nós deixamos de ser responsáveis pelas consequências de
nossas falhas.
Embora
seja verdade que há erros mais significativos que os outros, eles
não precisam ser tratados como os desastres que vão acabar com a
nossa vida.
Então,
o melhor que pode ser feito é respirar fundo e descobrir como lidar
com essa situação.
O que fazer quando percebemos que cometemos um erro
Talvez,
o primeiro passo seja realmente parar um pouco e examinar o erro.
“Existem
muitas maneiras de errar. A primeira coisa é tentar entender o que
aconteceu e o que nós estamos chamando de erro”, explica o
cientista social Luis Mauro Sá Martino em entrevista ao HuffPost
Brasil.
Segundo
Sá Martino, existem vários tipos de erros e saber exatamente o que
nós fizemos nos ajuda a lidar com as consequências, como os
sentimentos de culpa, remorso e aquela vontade de voltar no tempo e
refazer as coisas.
Há
aquelas circunstâncias em que a gente erra sem saber. Muitas vezes,
a gente não tem acesso a todas as informações sobre algo e
acabamos errando, por exemplo.
Outra
situação é quando erramos porque naquele momento nós não
raciocinamos direito, acabamos nos deixando levar por uma emoção e
cometemos um equívoco.
Ainda,
há outro tipo que é quando a gente erra sem motivo aparente.
Tendemos a achar que somos seres super racionais, mas, às vezes, os
motivos de nossas falhas estão muito mais em nosso inconsciente, na
nossa personalidade, na subjetividade que compõe cada um.
“Primeiramente,
nós temos que pensar o que estamos chamando de erro. Será que não
atingir um patamar que é muito alto e que colocaram para mim, e não
que eu coloquei, é um erro? Ou será que as condições não me
permitiram acertar?”, questiona Sá Martino.
Mas será que realmente a culpa é sempre nossa?
Talvez,
uma das fontes de culpa contemporânea mais angustiantes é a
construção de patamares inatingíveis e a sensação que todos
devemos ser super-humanos aos 30 anos.
Isso
é irreal, mas a frustração que vem com toda essa situação e a
sensação de que nunca somos bons o suficiente é esmagadora. É
cômodo achar que a culpa de tudo é nossa.
“Diante
de um erro, é importante questionar se, nessa condição, você
poderia acertar. Se não há escolha, não existe culpa. Esse é um
ponto clássico da ética. Eu sou inteiramente responsável por
minhas escolhas, claro. Mas isso quando eu tenho escolha”, enfatiza
o cientista social.
A
nossa ideia de culpa, então, estaria diretamente ligada a
possibilidade de escolha. Se eu não posso escolher, eu deveria me
perguntar se eu tenho culpa em errar.
“No
cotidiano, não é sempre que eu posso escolher. Às vezes a vida
cria armadilhas que a gente não consegue escapar naquele momento. É
preciso sempre pensar na natureza do erro: eu podia não ter errado?
Eu tive escolha?”, explica Sá Martino.
Nota mental: ninguém é infalível
Mas, e se
depois de analisar a situação com certo distanciamento, eu concluir
que, sim, a culpa é minha. O que fazer? Parece óbvio, mas assumir o
erro e pedir desculpas pode parecer assustador.
“Nós
nos esquecemos que uma das coisas que nos tornam iguais é a nossa
vulnerabilidade. Eu erro, eu erro feio, mas você também. Então,
quem sou eu para cobrar dos outros uma perfeição que eu não posso
exigir nem mesmo de mim?”, questiona.
Uma
das razões pelas quais às vezes nos apegamos as coisas que sabemos
que estão erradas é devido ao nosso viés de compromisso.
Tendemos
a deixar que nossas decisões e ações passadas ditem como nos
comportaremos no presente e no futuro - mesmo que de uma forma
irracional.
Para
algumas pessoas, ser visto como alguém que é impecável é um
grande mérito. Nesse caso, reconhecer que uma decisão que tomamos
foi um erro destrói essa imagem.
E
isso acaba por ser um gatilho, já que os nossos cérebros estão
quase sempre trabalhando contra mudanças, agravando a dificuldade
que temos em consertar qualquer falha na rota.
Então,
sim, se você busca corrigir um erro é preciso ser honesto e crítico
consigo mesmo e reconhecer que você falhou.
É
próprio da natureza humana que se fique chateado quando cometemos um
erro. Mas é muito importante tentar manifestar a nossa
vulnerabilidade.
Se
esquecermos disso, há um grande risco de criarmos uma ilusão e
pensarmos que nós somos perfeitos, já aqueles que erram são os
problemáticos.
“Esse
é um sintoma que para mim é muito triste. Me parece que a cobrança
por uma perfeição que é impossível de se atingir se espalha de
maneiras diferentes entre as faixas de idade”, reflete Sá Martino.
Compreender um erro não é justificá-lo
E
se reconhecer o erro é importante, o segundo passo é ainda mais
crucial: aceitar que foi um erro, mas não permitir que isso defina a
sua autoestima.
“Errar
é ruim. A gente fica mal quando erra. Ficar mal é parte da natureza
humana. Mas me parece que uma das cobranças contemporâneas é que a
gente precisa estar sempre bem. E não é isso. A gente precisa do
tempo de recolhimento”, diz.
Toda
perda implica um tempo de luto, inclusive um erro. Mas é importante
deixar claro que é um tempo. Não é ficar se cobrando para resto de
sua vida.
“Errei.
Foi ruim. A minha primeira reação vai ser sempre emocional. Mas
depois eu passo para a elaboração desse sentimento. Eu realmente
errei? Se eu tivesse feito de outro jeito, eu teria errado? Mas eu
tinha a escolha de fazer de outro jeito?”
Ser
excessivamente crítico com nós mesmos pode aumentar os nossos
níveis de ansiedade. Se for possível, pare de ficar remoendo o erro
e faça o que estiver ao seu alcance para não piorar a situação.
A
solução, no entanto, não virá de uma ou duas ações que vão
melhorar toda a sua vida. Mas ela passa por um processo de construção
“Entender
o erro que nós cometemos não nos exime da responsabilidade por ele.
O erro tem efeitos. Uma vez conscientes desses efeitos, nós temos
que refazer a rota, pedir perdão, restaurar a ordem das coisas. Não
é ignorar e fingir que o erro não existe”, afirma Sá Martino.
Acesso:
22/02/2020
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