Nestas
duas invernadas,
entre
a em que estás e a em que estou
nosso
Destino alinhou
os
cernes das moironadas.
Os
sete fios espichou
e um
do outro nos separou
pelo
vão do corredor
e as
cercas emparelhadas.
Estar
próximos e longe
é
um dever que já é costume
pelos
verões agüentados.
Vens
no campeiro perfume!
E a
minha voz vai no vento
por
cima do impedimento
da faixa dos alambrados.
E relutamos cada um
em ir para o seu rodeio!
E se vamos, já volvemos,
mesmo sabendo que temos
estas divisas no meio.
Quando o sol nasce nos banha
aos dois de um mesmo fulgor.
E esta paixão se abre em flor
como a orvalhada campanha.
Quando o sol morre e se entranha
na lomba ao longe... e o arrebol
as sombras longas esmagam,
nossas pupilas se apagam
na sepultura do sol.
Se, na estrada, um andarengo,
por horas mortas cruzar,
verá aos lados, de relance,
dois vultos vivendo o transe
e o pastoreio-romance
das quentes noites de luar.
E mesmo assim apartados,
da mesma sanga bebemos!
Nos mesmos campos rondamos.
Varando os mesmos tapumes
os riscos dos vaga-lumes
são cartas que nos mandamos.
Sempre na mesma querência,
com a mesma emoção sentida,
livres da inveja e da injúria
vamos grameando a penúria
dos impossíveis da Vida.
Aureliano
de Figueiredo Pinto. Romances de Estância e Querência – Marcas do
Tempo. 3 ed. Porto Alegre: Movimento, 1997.
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