quinta-feira, 20 de maio de 2021

Vida peregrina (Mariana Kalil)

 

Demorou até aprender a viver com leveza e conseguir enxergar o mundo em termos de proporção e perspectiva. A felicidade nunca está em outro lugar. Ela vive aqui e agora, na capacidade de valorizar as pequenas grandes coisas que estão disponíveis ao redor: as coisas simples e boas.


(…) a maioria das coisas ruins que acontecem na vida são contratempos. Reveses são mais sérios, mas pode ser corrigidos. Já quem passa por uma tragédia sabe bem a diferença. Todas as coisas na vida são colocadas em termos de proporção e perspectiva.


(…) entusiasmo vem do grego e significa um ter deus dentro de si. Os gregos eram politeístas, ou seja, acreditavam em vários deuses. A pessoa entusiasmada era aquela possuída por um dos deuses e por causa disso poderia transformar a natureza, fazer as coisas acontecerem. Segundo os gregos, só pessoas entusiasmadas eram capazes de vencer os desafios do cotidiano. Era preciso, portanto, entusiasmar-se.


O entusiasmo é diferente do otimismo. Otimismo significa acreditar que alguma coisa vai dar certo.


A pessoa entusiasmada é aquela que acredita na sua capacidade de transformar as coisas, de fazer dar certo. Entusiasmada é a pessoa que acredita em si. Acredita nos outros. Acredita na força que as pessoas têm transformando o mundo e a própria realidade. Só há uma maneira de ser entusiasmado. É agir entusiasticamente. Não é o sucesso que traz o entusiasmo. É o entusiasmo que traz o sucesso.


Dizem que passamos a vida procurando pessoas que nos ajudem a dissolver as nossas dúvidas. Porém, raramente temos dúvidas. O que temos são certezas que nos incomodam. Alguns transformam suas certezas internas em incertezas performáticas e passam a viver com mais drama e charme. Outros convivem com o incômodo de saber muito bem o que querem e pagam o preço que isso custa. Custa caro, mas não existe outro jeito de fazer a vida valer a pena.


A verdade é que a capacidade de adaptação é útil até certo ponto. O pior é quando se transforma em resignação. Adaptar-se é uma forma de sobreviver; resignar-se é morrer. É como dizer: já que não tem solução, deixa ficar assim. Ou melhor: deixa ficar assim para que tudo piore.


Sempre acreditei que quando vivemos uma vida incoerente com nossos desejos e com tudo aquilo que temos capacidade de ser, criar e realizar, aos poucos vamos nos desestimulando, desconfiando da própria vida e de nós mesmos.


A vida não é uma corrida, mas um tiro ao alvo: o que conta não é a economia de tempo, senão a capacidade de encontrar um objetivo. Toda vez que, crescendo, tiver vontade de transformar as coisas erradas em coisas certas, lembre-se de que a primeira revolução a ser feita é aquela dentro de nós mesmos, a primeira e mais importante. Lutar por uma ideia sem ter uma ideia de si mesma é uma das coisas mais perigosas que alguém pode fazer. (Susanna Tamaro, Vá aonde seu coração mandar)”




Fonte: Kalil, Mariana. Vida peregrina – Porto Alegre: Dublinense, 2013, 2ª reimpressão, 2015.

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