domingo, 24 de outubro de 2021

Conterrânea


Três anos, quando marcaste o município no aplicativo.


Busca resultou publicação de artigo, com a devida complexidade que a metodologia e disciplina requisitam e impõem ao grau de ensino atingido.


Nas linhas, cristalizado trabalho – esforço – dedicação.


Surge outra participação em obra jurídica.


Nas imagens, a velha Europa e Nordeste brasileiro. Admiração por tais excursões.


E o Rincão também! Recordado elogio de professora fundamental, orgulhosa pela trajetória prodigiosa.


Essa semana chegou a notícia.


Talvez nós – ou eu? - só sabemos ser felizes na expectativa, nunca na realização.”*


Muitos tem tudo, mas o tudo não é nada”, surge em considerandos após a mensagem do acontecido.


No ensino jurídico, colega adotava destarte, alegando retratar erudição, um enfeite para qualquer texto.


Outro adotou o mutatis mutandis em toda conversa de corredor na faculdade, após sentença de professor em aula.


Neste, fica registrado o de per si, transmutado para ‘as coisas como são’.


Lembro Hawking, para o qual o universo é o que é. Uma teoria que comprovasse como foi criado, inexoravelmente seria responsável pelo seu próprio fim.


Prosseguimos, já que conseguimos, persistimos ou insistimos...


E o que fica? A lembrança aos que ficam.


Suas marcas estão aí, serão sempre lembradas.


https://online.unisc.br/acadnet/anais/index.php/sidspp/article/view/18852/1192612113

https://www.indexlaw.org/index.php/teoriaconstitucional/article/view/4371/pdf

* Abril, maio, junho. Prata, Antonio. Trinta e poucos. 1ª ed., São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 59.

Livremente inspirado em “PAVANA PARA UMA PRINCESA MORTA”,

http://ruygessinger.blogspot.com/2020/10/pavana-para-uma-princesa-morta.html

Acesso 24/10/2021



sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Química (Chico Garcia)

 

Química entre duas pessoas não tem explicação. Nem procedência. É cláusula pétrea para o segundo encontro acontecer. Sem ela, o cara pode ser facilmente perfeito, ter um bom papo, autonomia financeira e outros atributos que, somados, o transformem na melhor opção. Mas isso é matemática e estamos falando de outra matéria.


Química é o descompasso da respiração, encaixe do beijo, ausência da fala. Não há estudo que desvende a química. Não é preciso manual de instruções, placas e setas orientando as ações. Química é o piloto automático da paixão.


Não há beleza que resista a uma forte sensação de vulnerabilidade. O desejo sabe exatamente como resolver essa equação. E a solução usa a fórmula dos sentidos. A química no amor é composta por tato e olfato. O cheiro e o toque estimulam nossas reações e o resultado é uma ebulição de prazer.


Sem química, não há o começo. A química acorda o instinto, por vezes adormecido. Com química, o sentimento permanece vivo, mesmo após um longo tempo. A química é o alimento da relação. O amor não é uma ciência exata, mas sem química, ele não sobrevive.




Garcia, Chico. Mulheres de Moletom e Outras Crônicas. Chiado Editora: São Paulo, 1ª ed., p. 23

sábado, 2 de outubro de 2021

Aforismos de Kafka

 

Tudo é fraude: buscar o mínimo de ilusão, permanecer no nível usual, buscar o máximo. No primeiro caso, frauda-se o bem, na medida em que se deseja tornar fácil demais sua conquista; o mal, na medida em que é colocado em condições de luta excessivamente desfavoráveis. No segundo caso, o bem é fraudado na medida em que não se luta para alcançá-lo, nem mesmo naquilo que é terreno. No terceiro caso, frauda-se o bem na medida em que a esperança é torná-lo impotente com sua máxima intensificação. Seria preferível, nisso tudo, o segundo caso, pois sempre se frauda o bem e não o mal; neste caso, pelo menos na aparência.


Nossa arte consiste em sermos ofuscados pela verdade: a luz sobre o rosto horrível que vai recuando é verdadeira, de resto nada.


Mente-se o menos possível só quando se mente o menos possível e não quando se tem a menor oportunidade possível para mentir.


Teoricamente existe uma chance de felicidade plena: acreditar no que há de indestrutível e si próprio e não ter de lutar para alcançá-lo.


Teste a sim mesmo pela humanidade. Ela faz quem duvida duvidar, quem acredita, acreditar.


O convívio com os seres humanos atrai para a auto-observação.


A verdade é indivisível, portanto não pode ter conhecimento de si mesma; quem quer que diga conhecê-la está se referindo a uma mentira.


Ninguém pode exigir o que, em última análise, o prejudica. Se uma pessoa em particular, afinal de contas, parece assim – e talvez existam sempre pessoas desse tipo - isso se explica pelo fato que alguém, no ser humano, exige algo que na verdade o beneficia, embora prejudique seriamente um segundo, parte atraído para julgar o caso. Se a pessoa foi colocada logo de início, e não apenas na hora do julgamento, ao lado da segunda, então a primeira teria desaparecido aos poucos e com ela a exigência.


O mal é uma irradiação da consciência humana em certas situações de transição. Não é propriamente o mundo sensorial que é aparência, mas o mal que carrega consigo e, seja como for, constitui o mundo dos sentidos para os nossos olhos.


Duas possibilidades: fazer-se infinitamente pequeno ou ser assim. A primeira é a perfeição, ou seja, a inação; a segunda, o início, a ação.


As alegrias desta vida não são as dela, mas o nosso medo de ascender a uma vida mais elevada; os tormentos desta vida não são os dela, mas o nosso auto tormento por causa daquele medo.


Todos os sofrimentos ao nosso redor nós também temos de sofrer.


Temos todos não um corpo, mas um estilo de crescer, o que nos faz atravessar todas as dores, seja nesta ou naquela forma. Assim como a criança evolui por todos os estágios da vida até a velhice e a morte (e cada estágio no fundo parece inalcançável ao anterior, na exigência ou no medo, do mesmo modo evoluímos (ligados não menos profundamente à humanidade do que a nós mesmos) por meio de todas as dores deste mundo. Nesse contexto, não existe lugar para a justiça, nem também para o medo da dor ou para a interpretação do sofrimento como um mérito.


Você pode se conter diante dos sofrimentos do mundo – é algo que tem liberdade de fazer e corresponde à sua natureza, mas talvez seja esse autocontrole o único sofrimento que você poderia evitar.


Aforismos reunidos. Kafka, Franz, 1883-1924. Introdução e tradução de Modesto Carone. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2012.

Cédula da 'Prosperidade'

  "Dionatan já ganhou na mega sena Eu já ganhei muito dinheiro Eu já vendi muito crochê Eu já ganhei muita fartura Eu já ganhei muito d...