segunda-feira, 14 de março de 2022

Revolução (Diário de Cecília, 1924)


Chácara de Melo, Uruguai, sábado, 29 de novembro


Há um mês os libertadores tornaram a se levantar em armas e o nosso Honório Lemes tomou Uruguaiana sem dar um tiro.


Mas, para mim, é hoje que começa a revolução, porque foi hoje que o Francisco se incorporou à pequenina força comandada pelo general Zeca Neto.


A força está acampada a pouca distância, nos matos à margem do rio Jaguarão, pronta para a invasão.


Além do Francisco sairão daqui, quando a força levantar acampamento e marchar, o nosso peão Juca e o Bozano, o extraordinário Bozano, que acaba de atravessar o Estado, para levar aos companheiros a palavra do nosso General.


Ele chegou aqui maltrapilho, cabelos crescidos, roupas emprestadas, mal calçado, os olhos injetados de não dormir, mas alegre e bem disposto, contando por onde tinha andado e relatando as coisas engraçadas que lhe tinham acontecido pelo caminho,


Sobre as suas privações e momentos de aflição e cansaço – nem uma palavra.


Quase todos os oficiais estiveram aqui ontem à tarde. Fizemos divisas para todos e para 18 soldados.


A minha, dei ao Bozano.


Quinquim fez duas, uma para o capitão Pedro Medina, outra para o tenente Amadeu Deiro.


A feita pela Maninha foi entregue ao Rosalvo Maciel, tendo Joaninha destinado a sua ao tenente Otaviano.


A do Francisco foi feita pela Dolores.


A Bá bordou as palavras “Glória e Liberdade” na divisa do capitão Rubens Maciel e “Pátria e Liberdade” na do capitão Ciro Rodrigues.


O capitão Kleemann, de chegada, pediu uma divisa à Firmina, que ficou desapontada por não dispor de nenhuma. Tratamos de socorrê-la, fazendo uma divisa para ela dar em seu nome.


Estivemos no acampamento do general Zeca Neto. Formados, os soldados nos receberam dando “vivas”.


São apenas 78 homens.


Só mesmo o general Zeca Neto seria capaz de invadir o Rio Grande com um punhado de homens, na maior parte mal montados e mal armados.


Fonte: Assis Brasil, Cecília. Diário de Cecília Assis Brasil, org. por Carlos Reverbel. Porto Alegre, L&PM, 1983, p. 73/74.




Capa: L&PM Editores sobre foto do Castelo de Pedras Altas, Rio Grande do Sul.

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