segunda-feira, 14 de março de 2022

Tenente Vale e seus Coelhos (Diário de Cecília, 1928)

 

Estância da Coxilha Grande, Uruguay


Terça-feira, 12 de junho


O tenente Vale trouxe de Melo um manual do criador de coelhos, que lhe foi dado pelo tenente Vicente. Está entusiasmado com a ideia de criar coelhos para comer a carne e vender as peles.


Sexta-feira, 15 de junho


O tenente Vale já preparou as coelheiras, dois caixões com tela. Os coelhos virão de montevidéu, mandados pelo general Neto.


Domingo, 17 de junho


Os coelhos vieram abrigar-se na sala, porque lá fora chove a cântaros. São brancos e têm as patas, o rabinho, as orelhas, e a ponta do focinho lobunos. São puros, da raça Himalaia. Custaram 12 pesos. O tenente Vale diz que cada casal chega a dar 50 crias por ano e que se vende cada pele por um peso.


Quarta-feira, 20 de junho


Os coelhinhos andaram saltitando na horta. A Quinquim batizou-os Faridondon e Faridondaine, por causa dos estribilho de uma poesia antiga, que está no Chic à Cheval.


Terça-feira, 24 de julho


O tenente Vale trouxe-nos cedo o corpo de um dos coelhinhos. Disse que a ninhada morreu essa noite. Já tinham pelo e estavam bonitos e bem gordos. Devem ter morrido de frio.


Sexta-feira, 7 de setembro


A Quinquim foi examinar a toca da Faridondaine. Encontrou tudo revirado, só um dos coelhinhos vivo, os outros tinham sido devorados por um gambá.


O pior é que descobrimos que a Faridondaine não é puro-sangue Himalaia, pois os filhotes desta ninhada saíram todos mestiços de Petit Gris.


Uma verdadeira calamidade!


O tenente Vale, que pretendia fazer uma demonstração de como uma coelha vale mais do que uma ovelha, ficou desapontadíssimo...


Quarta-feira, 12 de setembro


O coelhinho da Faridondaine que restava foi encontrado morto, lá na sanga. Emancipou-se antes do tempo, talvez.


Diz o tenente Vale, depois de cada desastre, que está adquirindo experiência...


Vicente sonha com uma viagem aos Estados Unidos e Vale sonha com um emprego em Buenos Aires...


Fonte: Assis Brasil, Cecília. Diário de Cecília Assis Brasil, org. por Carlos Reverbel. Porto Alegre, L&PM, 1983, p.190/191/192/194/200/201.




Capa: L&PM Editores sobre foto do Castelo de Pedras Altas, Rio Grande do Sul.

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