Bagé, terca-feira, 27 de setembro
A volta de Pedras Altas, ontem, passou ligeiro, pois seu Chico Macedo e eu viajamos entretidos pelo dr. Moisés Viana, que vinha de Rio Grande. Ele nos contou uma viagem que fez com o Papai e a Mamãe, de Bagé a Cacequi.
Papai viajou todo tempo persuadido de que ele, dr. Moisés, era o Cássio Almeida. E a certa altura, lhe perguntou: “Você nunca teve vontade de escrever alguma coisa sobre o seu pai?”
Como ele respondesse, admirado, que nunca tivera essa vontade, o Papai insistiu:
“Pois devia, seria muito interessante”.
Ele não compreendia porque o Papai tinha se lembrado de sugerir-lhe essa ideia. E pensava:
“Meu pai foi uma pessoa modesta, que ninguém conhecia, senão alguns tropeiros da fronteira”.
Só quando a Mamãe começou a mandar lembranças para a dona Tute, que ele nem conhecia, foi que se deram conta da confusão.
E então o dr. Moisés Viana contou que seguidamente o tomam pelo Cássio Almeida, acrescentando:
“Eu nem quero conhecê-lo. Se somos realmente tão parecidos pode acontecer de eu ficar pensando que sou o Cássio...”
Ainda disse, a propósito, que certa vez, em Pelotas, um desconhecido dirigiu-se a ele, com intimidade:
“Oh Cássio, não sabia que você andava por aqui, quando chegou do Rio?”
Convidou-o, em seguida, a tomar um café, no Clube Comercial. Só então começou a perceber o equívoco.
“Estou achando que o senhor não é o Cássio”.
E o dr. Moisés Viana:
“De fato, não sou, mas estou com vontade de tomar café”.
N.E: Dr. Moisés Viana. Foi intendente e chefe republicano em Livramento.
Junius Brutus Cássio de Almeida, descendente de Domingos José de Almeida, residente em Pelotas.
Fonte: Assis Brasil, Cecília. Diário de Cecília Assis Brasil, org. por Carlos Reverbel. Porto Alegre, L&PM, 1983, p. 161.
Capa: L&PM Editores sobre foto do Castelo de Pedras Altas, Rio Grande do Sul.
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