Excertos da conferência proferida no Centro Econômico de Porto Alegre, a 12 de dezembro de 1904
“Quando estava no estrangeiro, li várias notícias referentes à fundação de associações gaúchas; e fiquei satisfeito pensando que, na nossa terra, os moços estavam cuidando de reavivar as boas tradições rio-grandenses.
Pensei que, nesses centros gaúchos, os mais capazes tratavam de assuntos literários e históricos do Rio Grande do Sul: de indicar os meios de aperfeiçoamento das raças cavalares e bovinas; de vulgarizar conhecimentos úteis ao desenvolvimento da indústria pastoril; que todos se dedicavam aos exercícios utilíssimos da equitação, montando bons cavalos, que honrassem a criação riograndense, saindo para o campo a se exercitarem no manejo da espada e da lança, como quem, folgando, se prepara para defender amanhã os brios da Pátria; organizando esta diversão tradicional e interessante denominada cavalhada.
Chegando, porém, ao Rio Grande, ávido de curiosidades, fui visitar várias associações desse gênero, e aí apenas encontrei decepção, pois todo o ideal e toda a ação desses gaúchos limitava-se a pouco: vestir bombachas de procedência e caracterização muito duvidosas; cavalgar animais que são vergonha da nossa indústria pastoril, pois não passam de reles matungos; e comer churrasco – comer carne ordinária e cansada, com grave prejuízo para a nutrição e, portanto, para todo o organismo.
O que essas agremiações deviam fazer era, quando menos, ensinar aos nossos homens de campo que ser gaúcho não deve ser apenas montar a cavalo e comer churrasco, porém ter a sua casa com o conforto possível, com a sua horta ao lado, com os elementos indispensáveis ao melhor aproveitamento da terra, que, para ser produtiva, deve ser tratada convenientemente, não se a deixando abandonada e inculta, à lei da natureza.”
Fonte: Reverbel, Carlos. Assis Brasil (Rio Grande Político) – 2ª ed. Porto Alegre: IEL, 1996, p. 55.
Capa: Márcia Contri
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