sábado, 1 de outubro de 2022

O Povo – 1838/1840 (Elmar Bones)

 

Circulando aos sábados e quartas, sem regularidade. Tinha o formato 20 cm X 30 cm, com duas colunas de texto. Foram publicadas 160 edições totalizando 676 páginas, de 1º de setembro de 1838 a 23 de maio de 1840.


Alguns autores afirmam que foi Rossetti que comprou, em Montevidéu, a tipografia para imprimir “O Povo”. Moacyr Flores diz que ele “se encarregou da aquisição da tipografia junto ao presidente Oribe”.


O dinheiro, segundo Abeillard Barreto, seria de Domingos José de Almeida, que vendeu 17 escravos (dos 36 que mantinha alugados em Montevidéu para sustentar a família) para comprar o prelo e os tipos para imprimir o jornal.


Homem rico da Província, Almeida tinha interesses e razões pessoais em relação ao jornal, conforme consta na Coleção Varela (13 mil documentos, a maior parte do acervo de Almeida, reunidos pelo historiador Alfredo Varela).


Num balancete de contas do governo, de 13 de janeiro de 1837, almeida refere-se ao “pagamento à tipografia: 3.852$800” (três contos e oitocentos e cinquenta e dois mil e oitocentos réis).


Para se ter uma ideia deste valor: no mesmo balancete, há o registro de um pagamento feito ao general Netto por 371 cavalos, no valor de 3.986$120.


Seis meses depois, em junho, Almeida remete um ofício ao Presidente da República, José Gomes Jardim, com um pedido: “(…) Como não tenha vindo a tipografia, consulto a V. Excia. Se farei bem em mandar devolver dito capital”. No mesmo papel, consta o despacho do Presidente: “Suponho que a esta hora a tipografia já está comprada”.


Almeida desejava um jornal para desfazer intrigas sobre sua posição de controle das finanças da recém-fundada República.


Em ofício de 23 de setembro de 1837, ao capitão Domingos Crescêncio de Carvalho declara:


Avisado por pessoa fidedigna de que alguns oficiais da distinta 1ª Brigada pretendem meu assassinato por dilapidar os fundos públicos… nomeiem uma comissão a quem eu mostre minhas contas. Se, porém, meu sangue é indispensável para fazer prosperar a árvore da liberdade em nosso país, eu não me retiro, e com ele pode contar”.


Em outro ofício, 2 meses depois, Almeida insiste para que examinem as contas apresentadas ao comando da revolução e requisita os materiais da tipografia:


Quanto à tipografia chegar, tinta, papel, e o mais já vindo lhe sejam entregues não só por ser tudo comprado com dinheiro do suplicante e com grave sacrifício seu, mas ainda porque desejando ele continuar a prestar seus serviços à boa causa que esposou pretende tomar a si a redação de um periódico, onde inserido somente o expediente do governo, do comandante em chefe e operações do exército trate de manietar a intriga mostrando os seus perniciosos efeitos e consequências, e de estabelecer, por meio de exemplos, a evitar de outros povos em idênticas circunstâncias do nosso, a sã moral e os bons costumes por hora alterados pelas vicissitudes das coisas”.


Riopardense de Macedo fez as contas e constatou que os 627 dias de existência de “O Povo” representam 18,35% do tempo de duração da Revolução Farroupilha, que se estendeu por 3.446 dias. Rossetti foi seu “redator”, cargo equivalente ao atual editor, até o número 47, menos de um terço do total das 160 edições.


Um bilhete de Domingos José de Almeida, de 1º de abril, descreve o início do fim do jornal:

Na madrugada, evacuamos a capital… o inimigo destruiu todo o arquivo da contadoria do tesouro e algumas peças de pau da tipografia, a tinta da mesma e todos os reparos”.


Em 30 de maio de 1840, o governo rio-grandense evacua Caçapava, perdendo-se a tipografia.


O Povo” não volta mais a circular.


Capa: Ivan G. Pinheiro Machado

Reverbel, Carlos/Bones, Elmar. Luiz Rossetti: o editor sem rosto & outros aspectos da Imprensa no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Copesul/L&PM, 1996, p. 118, 120, 121122, 123.


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