domingo, 6 de novembro de 2022

Fé (Leo Cardoso)

 

O grande problema é que, sobre esses assuntos metafísicos, nós perguntamos muito o porquê das coisas: por que estamos aqui? Por que morremos? Por que vivemos? E essas, nestes casos, são perguntas tolas.


Nós nunca saberemos os porquês: o universo é muito imenso para conseguirmos alcançar essas respostas. E viver é um privilégio muito grande para perdermos tempo com perguntas das quais nunca encontraremos as respostas.


A pergunta que devemos fazer é como. Como estamos aqui? Como morreremos? Como vivemos?


As religiões se predispõem a tentar responder tanto o porquê quanto o como. Mas nós, arrogantes que somos, nos atentamos principalmente aos porquês, e esquecemos do como.


O porquê terá sempre uma explicação dogmática, metafísica, mítica: por que eternamente condenados por um simples crime famélico de dois adolescentes pelados atentados por uma cobra falante? Porque Deus quis assim.


Mas o como é uma solução prática de Fé. Como devemos nos comportar perante próximo? Como devemos guiar nossos preceitos morais e éticos? Como resolver nossos dramas humanos?


Se pararmos de nos questionar sobre assuntos que seremos sempre incapazes de responder – sem recorrer a subterfúgios transcendentais, dada nossa insignificância perante o universo – e nos atermos a questões práticas dos nossos relacionamentos, nossas soluções, como seres humanos, podem surgir.


E as religiões deveriam buscar isso. Não importa se você vê Deus em Jesus ou numa vaca, o que importa é o que você faz com o Deus que você vê. Isto é o que aproxima o homem de Deus, e não a religião.


Os textos sagrados de todas as religiões, pelo menos das que eu já ouvi falar, pregam a mesma coisa: o amor. E esse amor não é – ou pelo menos não deveria ser – uma utopia, um delírio contemplativo autorreferencial ou uma conspiração capitalista criada por floricultores gananciosos.


O amor é o princípio da Fé, e não de uma Fé puramente teórica e espiritual. A Fé é a hipótese normativa do amor. O amor é a Fé posta em prática.




Fonte: Cardoso, Leo. O dia que Deus matou o diabo, 2019, p. 92/93.

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