Quando deram a liberdade aos negros, nosso abandono continuou.
O povo vagou de terra em terra pedindo abrigo, passando fome, se sujeitando a trabalhar por nada. Se sujeitando a trabalhar por morada.
A mesma escravidão de antes fantasiada de liberdade.
Mas que liberdade?
Não podíamos construir casas de alvenaria, não podíamos botar a roça que queríamos. Levavam o que podiam do nosso trabalho. Trabalhávamos de domingo a domingo sem receber um centavo.
O tempo que sobrava era para cuidar de nossas roças, porque senão não comíamos.
Era homem na roça do senhor e mulher e filhos na roça de casa, nos quintais, para não morrerem de fome.
Capa: Elisa v. Randow
Ilustração: Linoca Souza (inspirada na fotografia de Giovanni Marrozzini para a série “Nouvelle semence, 2010)
Fonte: Vieira Junior, Itamar. Torto arado. São paulo, Todavia, 1ª ed, 2019, p. 220.
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