Bagre Fagundes angaria troféu inusitado na Barranca de São Borja
O advogado Euclides Fagundes Filho, cria (com muita honra) do Alegrete, conhecido por Bagre nas rodas do nativismo, é um exímio tocador de gaita de quatro baixos e se defende lindo no violão. Ademais que um cantor de razoável para bueno, especialista em canções do folclore argentino – de que sabe tantas como uma carrada de abóboras. Estava num dos Festivais da Barranca, em São Borja, quando o Bira Fontoura – Bugre para os íntimos-, lhe passou, muito em segredo, que a direção do Festival preparava um troféu especial para o “barranqueiro” que, de quinta a sábado, melhor e mais assiduamente divertisse o acampamento de beira d’água.
- E que troféu é este, Bugre? Vale a pena?
- É o Canário de Acampamento! Todo em madeira de lei, com bico de ouro, feitio do Ismar, aquele baita artesão que mora onde foi o cabaré da Dona Rosa.
- Bico de ouro, é? Pois olha, Bugre, este troféu já é meu. Levo o Canário para o meu Alegrete!
Passou três dias cantando, trovou com quatro ou cinco, inclusive com o Nico Fagundes, seu irmão, declamou todo o Navio Negreiro, musicou o Padre Nosso e, pra arrematar, contou uns vinte causos e igual número de anedotas “quentes”.
Termina o Festival e nada do troféu. Já desconfiado, o Bagre procura o Bira, que ria que se ria para dentro.
- E o troféu? Ganhei eu, não?
- Ganhou, claro. Peraí que já te dou.
Afastou-se um momento e voltou com um ovo de passarinho na mão. Estendeu-o para o Bagre.
- Toma. É teu.
- Tá louco? Que é isso?
E o Bira, de acionar as de correr:
- É o Canário de Acampamento. Põe para chocar que em quinze dias vem a furo!
Capa: Roberto Silva
Fonte: Boca do Povo. Rillo, Apparicio Silva. Porto Alegre: Tchê! Editora, 1986, p. 61/62.
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