Todos os causos que conheço, particularmente, tendo como personagem Moacir Almeida, o Canário, me foram passados por seu filho e grande cantor João de Almeida Neto. Inclusive os que relato a seguir.
Seu Moacir é dono de um amplo terreno na zona suburbana de Uruguaiana. Há tempos resolveu estabelecer no local um depósito de areia, brita e tijolos, por ele mesmo administrado. Seu terreno, para efeitos fiscais, foi taxado de baldio pela Prefeitura e taxado bem acima dos terrenos construídos. Seu Moacir não concordou com a taxação:
- Baldio, ora essa!
Na Prefeitura lhe foi informado de que a taxação estava correta. O terreno era mesmo baldio e portanto sujeito à tributação mais elevada.
- Mas e eu não tenho um depósito no local? Não pago alvará sobre o negócio? Isso só pode ser perseguição!
- Não, seu Moacir, nada disso. Segundo o Código de Posturas todo terreno não construído, a partir do alicerce, é considerado baldio.
- Quer dizer que se eu construo nele vou pagar menos impostos, é isso?
- Se construir, sim.
Seu Moacir estrilou.
- Construção, é? Então, decerto, vocês querem que eu venda areia, brita e tijolo em prateleira?
De outra feita estava o Canário acompanhando o filho João numa circulada por Paso de Los Libres. Chegaram a uma casa noturna. Pelo sistema de som ouvia-se um samba de partido-alto, tema de predileção de seu Moacir, que nunca perdoou o João por cantar preferentemente música nativista. Chamou a atenção do filho:- Tá escutando, João? Isto que é música. Samba do bom, brasileiro da gema, com balanço. Sabe que mais? Samba é o que tu deverias cantar pr’esses correntinos aprenderem o que é música – música marca Brasil, tás me ouvindo?
Sim, João de Almeida Neto estava ouvindo. E gostando do samba do grande compositor Agepê. E por falar nisso, que tal testar os conhecimentos musicais do velho?
- Samba é bueno, pai. O senhor tem toda razão. E a propósito, de quem é mesmo este samba de partido-alto que a gente está ouvindo e o senhor louvando?
Seu Moacir despregou um sorriso inteiro. E respondeu, por cima da carne seca:
- É de um tal de Aguapé, meu filho João...
Ilustração: Bier
Capa: Roberto Silva
Fonte: Boca do Povo. Rillo, Apparicio Silva. Porto Alegre: Tchê! Editora, 1986, p. 139/140.
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