O ser humano tem esse hábito estranho de buscar espaços onde se sinta diferente, se possível superior em relação a outros. E a religião favorece essa percepção de ser escolhido, de ser favorecido, de ser merecedor, de ser segregado positivamente do resto da humanidade da qual discordamos.
Nessa condição de favorecimento, as pessoas podem apresentar uma espécie de obsessão por um conhecimento fornecido por mensageiros. Leituras compulsivas, cursos intermináveis, processos de iniciação e retiros levam, cada vez mais, a um estado de cegueira em relação ao que é sagrado de verdade. Aqueles que se dedicam mais a esses processos de conhecimento, de expansão “cognitiva” da religião, chegam a cargos elevados em seu grupo e se reconhecem como mensageiros ou sacerdotes. Eles é que se colocam como intermediários na negociação da nossa conversa com Deus “espiritualmente” falando. Pensamos que nosso entendimento é limitado, então buscamos uma versão que gostaríamos que fosse a verdade.
O problema é que a verdade não é um conceito. A verdade é uma experiência. Só conseguimos entrar em contato com a verdade “espiritual” quando transcendemos, quando “experimentamos” a verdade.
Capa: Angelo Bottino e Fernanda Mello
Fonte: Arantes, Ana Claudia Quintana. A morte é um dia que vale a pena viver. Rio de Janeiro: Sextante, 2019, p. 121
Nenhum comentário:
Postar um comentário