Atualidades
Política Cultural
Ideias e propostas de
um poeta e pensador
Luiz Coronel
1. A arte é uma expressão necessária e
permanente do ser humano. Através dela o homem organiza sua emoção. Constrói
seu testemunho. Deixa seu legado. Pergunta e responde o sentido da vida.
Dimensiona maior a si mesmo e ao mundo que o rodeia. Onde existir uma
comunidade de homens, mesmo a mais primitiva, aí se manifesta o “fazer
artístico”.
2. O maior inimigo da arte é o conceito de
prioridades que pauta a ação de governantes e homens do poder. Para estes
senhores a arte seria um deleite secundário, uma decoração, acabamento
superficial, dengue, suspiro, divertimento secundário. Esquecem estes vetustos
senhores que o mundo criado por suas equações, suas engrenagens, suas
duplicatas e paredes, sucumbe e só a arte sobrevive.
3. Quem era o prefeito de Londres ao tempo de
Shakespeare? Os artistas permanecem na memória e no legado dos homens. Os
pequenos governantes morrem com suas inquietações cotidianas.
4. No Rio Grande do Sul, em particular e no
Brasil em geral, a arte é um gesto heroico e desamparado. Os poderes públicos
não têm conhecido a sua função de repassar recursos para promover, viabilizar,
estimular a vida artística. Ou seja: se faz arte apesar do desestímulo do
sistema.
5. É urgente e necessário que músicos,
bailarinos, homens e mulheres de teatro e cinema, artistas plásticos, escolas
de samba, esporte amador, se reúnam e tragam ao novo governo que nascerá do
ventre das urnas, em 15 de novembro, subsídios para uma nova política cultural.
6. É fácil criar um formidável movimento
cultural no Rio Grande, pois temos talentosos artistas em todos os setores.
Basta que se organize a funcionalidade da Lei Sarney, que tem difícil
operacionalidade. Basta que se obrigue que cada uma das estatais gaúchas, e
empresas das quais o governo é parte forte, destinem de sua verba de
propaganda, 5% para promoção cultural. Banco Meridional, Caixa Econômica
Federal, Banco do Rio Grande do Sul, Secretarias e autarquias, seria um belo
bolo a propiciar o crescimento cultural gaúcho.
7. Aliando-se esse fundo ao apoio das empresas
privadas, com manejo inteligente da Lei Sarney, teríamos fundos para
fundamentar um verdadeiro renascimento cultural no Rio Grande do Sul.
8. O Novo Governo precisa de uma Secretaria de
Cultura para valer. Turismo, esporte e cultura valorizados e não mais
subestimados. Chega de ver artistas, diretores, músicos, professores de dança,
de pires na mão, à porta das agências solicitando apoio para cenários,
impressão de ingressos, aluguel de iluminação, sonorização. Chega. Isso é
triste. Desalentador. Isso não precisa mais. Chega.
9. Elogio em boca própria é vitupério, diziam
os gregos. Mas posso dizer que minha agência de propaganda tem um exemplar
comportamento no que se refere a apoio cultural. Clientes como Zaffari,
Olvebra, tem significativa presença no que se refere a apoio às iniciativas
culturais. Se todas as agências tivessem o mesmo posicionamento, as artes
estariam melhor aquinhoadas. Mas para as agências, na maior parte dos casos,
destinar verbas a promoção cultural é perder ganhos de comissão em veiculação
nos Jornais, rádio, TV, revistas. E assim, a arte dança.
10. Não acredito em visão ampla
de desenvolvimento econômico que não envolva simultaneamente a valorização da
vida cultural. Não existe um dilema, optar pelo bife ou optar pela melodia, são
realidades, necessidades primordiais, tanto uma como a outra. Poderão dizer:
ninguém morre por falta de arte, mas sim por falta de arroz, carne, mogango. Mas
posso acrescentar, sem arte se vive, mas uma vida pobre, miseravelmente
cotidiana. A arte é a alma de um povo, um povo é a sua arte. Ele revela sua
fisionomia pela arte que faz.
11. É preciso elaborar com
urgência um grande grave documento das pretensões dos artistas ao novo governo.
O que querem, o que pretendem, o que farão. E estimular a arte não é só trazer
a sinfônica de Berlim, é dar apoio ao menino que tira seu conjunto de Rock da
garagem e quer subir pela primeira vez ao palco. Não é trazer o prêmio Nobel de
literatura, mas estimular talentos verdadeiros, que querem editar suas
primeiras obras. Quem é célebre não precisa impulso, já voa sozinho.
12. Conheço no Rio Grande obras
prontas escondidas. Lembro o trabalho afro-gaúcho do Giba-Giba. Uma pesquisa
profunda, uma criação rica sobre a presença do negro em nossa cultura. Onde está
o apoio para gravar um disco? Estão esperando que chegue a parca?
13. O Rio Grande precisa fazer um
pacto de modernidade, disse um dia. O gauchismo como narcisismo arcádico, está
superado. Valorizar a arte espontânea do povo, do homem do campo. Voltar-se
para as raízes, palavra que vejo com restrições, mas que tem adeptos, creio
importante. Mas tudo isso para voar, criar, elaborar. Repetir o já feito. Dizer
o já dito. A revolução modernista aconteceu em 1922, mas para certos gaúchos
ainda não chegou. Eles criam o conflito entre tradição e modernidade. É preciso
ser tradição nos motivos, conteúdos, mas ser moderno nas formas, caso
contrário, não acontece arte. Acontece repetição. Aplaudida mas mesmo assim,
repetição.
Fonte: Revista Tarca –
Cultura Gaúcha – ANO III – nº 16 (AGO/SET/OUT/86) – p. 5
Nenhum comentário:
Postar um comentário