sexta-feira, 26 de maio de 2017

Umbu Solito - Poema (Zeca Blau)


No lombo manso da coxilha,
ao sol de outubro fulvo e quente,
lembra o perfil de um valente
guerrilheiro farroupilha.

É o último sobrevivente
sobre o campo da guerrilha!

Porém, se o vento minuano
Arrufa as ramas parelhas,
elas parecem gadelhas
de um menestrel campechano.

... Hay nos galhos araganos
como um ringir de cravelhas.

Aos gritos de ôpa... e oi... oi...
vi flanquar-lhe hoje uma tropa
que envultou nele e se foi,
vendo lá atrás a escura copa,

Penso num peão de tropa,
que ficou campeando boi.

Nos poentes rubros, mui concho,
mescla-le um sangue espanhol,
e, barulhento, a tiracol
atira a volta do poncho.

Bate-le um resto de sol
pra ser baeta de poncho.

Na tarde quieta, à distância,
dominando o latifúndio,
soberbo, sem petulância,
num tranquito vagabundo,

parece o dono da Estância
que vem do Posto-do-Fundo.

Nas noites mornas de outono,
pra um rumo que compromete,
é um gauchito sem dono
ao tranco largo do flete,

Tosado com luxo e entono,
de firulete e topete.

Se o vento sopra mansinho
e inclina um galho pra o chão,
é um domador que anda sozinho
repassando o redomão

É esse o gesto gauchão
de dá um tapa no focinho.

Mas, se o leste, bravo, o arranca
da quietude em que horas passa,
parece que sai pela anca
e enrola o poncho no braço.

Peleador velho de raça,
num duelo de arma branca...! 
(Zeca Blau, Poncho e Pala, Sulina, 1966)

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Rodovias Gaúchas com alteração de Fluxo - CRBM, DAER e PRF

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