Dá licença patrão
Pra meu cantar meio rude
Charla bagual e bem certa
O formato não me aperta
E o povão compreende tudo.
Como disse Martin Fierro
Que foi cantor dos buenos
A “Lei” é uma artimanha
Igual a teia de aranha
Que só enreda os pequenos.
Canto do modo que posso
Rima fraca falta um resto
Igual pro pobre o pucheiro
Quem nasce com o dinheiro
Tem razões pra ser honesto.
Na carteada do amor
É bom guardar segredo
Pra não passar por chambão
Que ave de arribação
Deixa o ninho mais cedo.
Como e bebo com medida
Pra não ficar bichoco
Que a gula os fracos cevam
E as correntes fortes levam
Todo o peixe dorminhoco.
O canto que tem franqueza
Sempre traduz a verdade
O meu verso é meio tosco
Por fora sou meio osco
Mas por dentro sou claridade.
Todo o gaúcho guapo
Fita o parceiro de frente
Com um touro se assemelha
Guaipeca que pega ovelha
Traz lã no vão do dente.
Conheço o bom cantor
Dentro do tema que canta
Se é décor ou repente
O verso é como semente
Que germina e se levanta.
Conheço fogo de palha
E também chuva de manga
Conheço o fraco e o forte
E o tarquino de bom porte
Que aguenta o peso da canga.
Não trago gana de mestre
Porque é curto meu saber
E nada estou ensinando
O jumento morre orneando
E o poeta morre, pra nascer.
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