Há muitos anos atrás, isto
até a década de 40, uma doença que grassava impiedosamente era a
tuberculose e quando chegava ao extremo era denominada tísica. Não
havia tratamento, a morte era certa. Famílias inteiras tinham esse
problema, aliás, bem retratado no livro “De todo o laço”, do
médico Blau Souza.
Como o contágio era violento
e vários membros da família adquiriam a doença, comum em muitas e
muitas moradias rurais, uma das medidas tomadas para evitar esse
contágio, acreditavam nossos antepassados, era eliminar o uso em
comum do chimarrão. Nesse sentido e com essa intenção preventiva,
muitos adotaram o mate individual. Cada um com sua cuia.
O visitante de outra região,
quando chega em uma casa que tem esse costume e o desconhece, passa
momentos de vexame. Muitas vezes o visitante se vê numa situação
de matear sozinho, embaraçosa, desajeitada, inclusive para cevar o
mate, em frente à família desconhecida que fica observando as
dificuldades do mateador solitário, que até se autojulga
contaminante ou de mau aspecto.
Por outro lado, quem toma seu
chimarrão em roda gosta também, na parte da manhã, ainda de
madrugada, de chimarrear sozinho, para pensar e por suas “idéias
em ordem”.
Convivendo com famílias que
adotaram o mate individual, nos acostumamos a aceitar essa
discriminação, achando uma opção familiar ou individual, ainda
que se tratando do chimarrão que para o gaúcho é uma bebida
social.
Em muitas madrugadas nos
acostumamos a ver no Castelo de Pedras Altas, na volta de um prefixo
de rádio amador, a família Assis Brasil, Dona Lídia, Quinquinha, e
a Menina Lídia, cada uma com seu mate, e, no entanto, nunca soubemos
da existência de moléstia contagiosa nessa família.
(Vento
Sul: costumes campeiro. Raul Annes di Primio. Porto Alegre: Edigal,
2000.)
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