Também chamado de chimarrão,
entre os campeiros é mais conhecido por mate, simplesmente. O mate é
feito e tomado pelos gaúchos somente em cuia proveniente do porongo.
Porém, as mulheres utilizam também caneco de barro ou alouçado e
cuias feitas de madeira para tomarem seu mate doce. São só as
mulheres que tomam mate com açúcar. elas também apreciam o mate de
leite, isto é, em vez de água, o mate é enchido com leite quente,
já preparado com açúcar, canela e erva-doce. O mate de leite é
tomado de preferência pela tarde, acompanhado com pão, bolacha ou
biscoitos e entre visitas íntimas, vizinhas ou comadres.
O gaúcho toma o seu mate
amargo pela madrugada. Porém, quando de folga, toma-o a qualquer
hora. Em seu rancho, ao chegar uma visita ou algum forasteiro, é
logo obsequiado com um amargo. O gaúcho costuma pôr na chaleira,
destinada ao mate, algum “jujo”, isto é, casca de certas
árvores, raízes ou folhas de ervas que servem como medicamento.
O mate é tomado no galpão,
entre peões, e é enchido só por um deles, sendo passado de mão em
mão, sempre da direita para a esquerda. Mas, se na roda houver
pessoa de categoria mais elevada, ou mesmo o patrão, a este é
oferecido o mate em primeiro lugar.
O mate tomado na sala, entre
pessoas de cerimônia, nunca é enchido no próprio recinto. Neste
caso, cabe a uma mulher, de preferência uma das filhas do dono da
casa, já moça, “tranquear” o mate da cozinha para a sala.
Nunca usam duas cuias na
mesma roda de chimarrão, salvo em acampamento, quando o número de
pessoas é grande.
Ao se agradecer o mate, é de
praxe fazê-lo ao entregar a cuia e não recebê-la das mãos do
enchedor.
Quem ao receber o mate,
estando meio apertado ou entupido e sendo enchido por outro, não
deve procurar corrigi-lo. Isso seria uma falta de atenção para com
o enchedor. Neste caso, o direito é devolvê-lo a quem estiver
enchendo e desculpando-se, pedir que o arrume.
O mate bem cevado sempre
conserva um morrão de erva seca na boca da cuia. Essa erva deve ser
depositada ao lado esquerdo de quem toma o mate. Se estiver à
direita, o mate é canhoto, pois para enchê-lo, é forçoso
despejar-se a água da chaleira por cima do morrão e isso não fica
bem.
Ao entregar a cuia, depois de
haver tomado o mate, não se deve levantar do banco ou do assento
para tal, mesmo tratando-se de pessoa de cerimônia ou desconhecida.
Basta fazer um simples gesto, estirando o braço, fazendo ver ao
enchedor seu desejo de lhe entregar a cuia. A pessoa que estiver
enchendo o mate é que atravessa a sala para entregar ou receber a
cuia.
É também de bom costume, ao
terminar o mate, fazer roncar a cuia, discretamente. Isso serve para
advertir a quem estiver enchendo o mate, que este está tomado. Nunca
se deve entregar o mate sem tê-lo tomado totalmente.
A cuia nunca deve passar de
um dia para outro com erva. Isto faz com que o porongo fique com
cheiro e gosto de azedo. Para retirar-se o azedo de uma cuia basta,
antes de iniciar um novo mate, colocar dentro do porongo algumas
brasas, despejando logo água fria em cima.
O mate sempre foi uma
aproximação e oportunidade para os namorados, pois ao receber ou
devolver a cuia sempre havia facilidade de se tocarem os dedos sem
serem percebidos por terceiros que estivessem na sala.
No galpão, quando se
colocava a chaleira sobre tições em vez de pôr no gancho ou na
trempe, alguém logo lembrava este adágio: “Chaleira em cima do
tição, tomaremos mate ou não”.
(Raul
Annes Gonçalves. Mala de Garupa (Costumes campeiros). 3ª ed. Porto
Alegre (RS): Martins Livreiro – Editor, 2004.)
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