segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Saudade (Zeca Blau)


Se um dia eu endoidecer

No anseio em que me consumo,

Morrerei sempre acenando

Um lenço para o teu rumo.


Eu longe e te sinto a mão

querida presa na minha,

Tendo algo de ave cansada

que ternamente se aninha.


Tão longe! não se concebe,

- quem poderá concebê-lo?

que eu viva sempre sonhando

No afago do teu cabelo.


As horas de ti distante

que fundamente sentidas!

Desfio como um rosário

De contas tão doloridas…


Se lágrimas vêm, são folhas,

Caindo e trazendo calma,

De uns invisíveis ciprestes

que temos plantados na alma…


Que dom estranho tu tens!

É mesmo tão singular!

- De, estando, querida, ausente,

Perto de mim sempre estar.


Saudade dor que maneia!

Tu tão longe e sempre aqui,

Com aquela corda de seda

Tua presença prendi.


Como é tão longa esta ausência

Mas, olho em torno e te vejo,

Ouvindo alegros da voz

Nos esmorzandos de um beijo.


Por que Deus, criando o amor,

Fez a gente tão sensível?

Aceito, mas não perdoo

Também criasse o impossível…


Ligar pela alma dois seres!

Jamais, Deus, serás impune,

Por ter criado a tortura

Da distância que nos une.


Entre a saudade e a distância

É a escala feita por mim:

- Saudade, trena infinita,

Distância um pouquinho assim!


É cousa que não se entende,

Se Jesus pregou a união;

Dar destinos diferentes

Aos gêmeos do coração!


Se Deus é todo bondade,

- Segundo os crentes referem -

Por que é que fez a distância,

Separando os que se querem?



Fonte: Blau, Zeca. Horas do meu ocaso. Edição Sulina, 1968, p. 53

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