Se um dia eu endoidecer
No anseio em que me consumo,
Morrerei sempre acenando
Um lenço para o teu rumo.
Eu longe e te sinto a mão
querida presa na minha,
Tendo algo de ave cansada
que ternamente se aninha.
Tão longe! não se concebe,
- quem poderá concebê-lo?
que eu viva sempre sonhando
No afago do teu cabelo.
As horas de ti distante
que fundamente sentidas!
Desfio como um rosário
De contas tão doloridas…
Se lágrimas vêm, são folhas,
Caindo e trazendo calma,
De uns invisíveis ciprestes
que temos plantados na alma…
Que dom estranho tu tens!
É mesmo tão singular!
- De, estando, querida, ausente,
Perto de mim sempre estar.
Saudade dor que maneia!
Tu tão longe e sempre aqui,
Com aquela corda de seda
Tua presença prendi.
Como é tão longa esta ausência
Mas, olho em torno e te vejo,
Ouvindo alegros da voz
Nos esmorzandos de um beijo.
Por que Deus, criando o amor,
Fez a gente tão sensível?
Aceito, mas não perdoo
Também criasse o impossível…
Ligar pela alma dois seres!
Jamais, Deus, serás impune,
Por ter criado a tortura
Da distância que nos une.
Entre a saudade e a distância
É a escala feita por mim:
- Saudade, trena infinita,
Distância um pouquinho assim!
É cousa que não se entende,
Se Jesus pregou a união;
Dar destinos diferentes
Aos gêmeos do coração!
Se Deus é todo bondade,
- Segundo os crentes referem -
Por que é que fez a distância,
Separando os que se querem?
Fonte: Blau, Zeca. Horas do meu ocaso. Edição Sulina, 1968, p. 53
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