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Não te lembras dessas noite,
Cheias de doce harmonia,
Quando na selva batia
O vento em brandos açoites?
Quando teu corpo tremia,
Teu olhar se enlanguecia
Morrendo nos olhos meus?
Ai! déste-me um mal eterno,
Por teus risos tive o inferno,
Por te amar descri de Deus!
Na fronte côr de açucena,
Tinhas as sombras de amor,
Mas eras como essa flor
Cujo perfume envenena!…
Em teus seductores laços
Em teus lascivos abraços
Descorei a mocidade!…
Se um sonho n’alma viceja,
E’ como a aurora que alveja
Envolta na tempestade!…
Gastei a vida por ti
E as crenças de um tempo ameno,
Mas hoje sinto o veneno
Que nos teus labios sorvi!…
Na primavera das flores
No doce rir dos amores
Da velhice tenho a calma
Fui em teus labios de rosa
Como a doida mariposa
Requeimar as azas d’alma!
Em negra noite de inverno,
Quando eu vagava sosinho
Como um fantasma do inferno…
Amei-te!… – Amar foi morrer!
Foi sonhar e padecer…
Foi a innocencia vender
Ao espirito do mal!
Fui como a estrella brilhante
Que andando no espaço errante,
Vai cahir n’um tremedal!
E’s a nuvem tenebrosa
Que meu céo escureceste,
E’s a lava que correste
Por minha granja viçosa!
O pranto da madrugada,
A viração perfumada,
Fazem a flor vicejar,
Mas nem o gozo de um’hora
Nem as lembranças de out’rora
Me poderão levantar!
FAGUNDES VARELLA.
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Lythotypo de H. Schroeder.
Fonte: Cabrião: semanário humorístico editado por Ângelo Agostini, Américo de Campos e Antônio Manoel dos Reis: 1866-1867. Ed. fac-similar/introdução de Délio Freire dos Santos. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado: Arquivo do Estado, 1982, p. 215.
Reprodução fac-similar do original de 51 fascículos, publicado em São Paulo no período de 30 de setembro de 1866 a 29 de setembro de 1867.
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