quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Versos (TRADUZIDOS DE V. HUGO/Cabrião)

 

Ao colibri a pobre flôr dizia:

Não sejas tão fugaz!

Vê quão diversa é nossa sina. Eu fico,

E tu de mim te vaes!


No entanto, longe dos humanos temos

Nossos gratos amôres,

E nós nos parecemos, e até dizem

Que somos ambos flôres!


Mas ai! O ar te leva e o chão me prende;

Que triste fado o meu!

Como eu quizera embalsamar teu vôo

Nas alturas do céu!


Mas não, tu vaes bem longe! Infindas flôres

Vaes por lá visitar,

E eu aqui fico, a ver só minha sombra

A meus pés voltear!


Tu vaes; depois tu voltas; depois tornas

A ir folgar além.

E á cada aurora sempre immersa em pranto

Tua vista achar me vem!


Ah! se queres, meu rei, que entre nós ambos

O amôr corra feliz,

Faze que eu venha como tu a ter azas,

Ou tu como eu raiz! –

_


Rosas e colibris, a sepultura

Nos tem de emfim juntar,

porque esperal-a? Não é bom ir juntos

Viver n’algum logar?


N’algum logar, – nos ares, se essa é a esphera

Que aos vôos teus convém;

Nos campos, se é nos campos que o teu calix

De arômas se mantém!


Onde bem quadre ao genio teu! que importa!

Ou sejas sopro ou côr,

Doirado colibri, botão purpureo,

Aza de seda ou flôr!


Viver juntos, primeiro! É o bem preciso;

Seguro o goso seu,

A gente então indifferente escolhe

Ou a terra ou o céu!


Fonte: Cabrião: semanário humorístico editado por Ângelo Agostini, Américo de Campos e Antônio Manoel dos Reis: 1866-1867. Ed. fac-similar/introdução de Délio Freire dos Santos. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado: Arquivo do Estado, 1982, p. 198/199.


Reprodução fac-similar do original de 51 fascículos, publicado em São Paulo no período de 30 de setembro de 1866 a 29 de setembro de 1867.

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